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[Crítica] Yorgos Lanthimos exagera na dose de subjetividade em “Tipos de Gentileza”

Diferente de “Pobres Criaturas”, que foi um dos melhores filmes de 2023, o novo filme do cineasta grego é bizarro na dosagem errada; confira nossa crítica com spoilers

18 Ago 2024 - 23h00 | Atualizado em 18 Ago 2024 - 23h00
[Crítica] Yorgos Lanthimos exagera na dose de subjetividade em “Tipos de Gentileza” Lorena Bueri

Yorgos Lanthimos, cineasta grego conhecido por seu cinema do desconforto e subjetividade, com filmes como o vencedor do Oscar “Pobres Criaturas” (2023), “A Favorita” (2018), “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), “Dente Canino” (2009) e outros longas, chega em 2024 com “Tipos de Gentileza”, seu novo filme, que também tem Emma Stone e Willem Dafoe no elenco. Mas, dessa vez, Yorgos erra na dose de alegorias e peculiaridade, por mais irônica que essa conclusão possa parecer.

A trama tão misteriosa de “Tipos de Gentileza”

Muitos memes na internet brincam, chamando o filme de “o primeiro filme sem história do mundo”, por tão secreta a trama. Nem mesmo os trailers se empenham em mostrar o mínimo sobre o enredo que o longa carrega. Claro, isso é algo totalmente proposital e que faz parte da estratégia de divulgação envolvida no projeto. Portanto, cuidado com spoilers ao ler a crítica.

“Tipos de Gentileza” é uma antologia dividida em três histórias aparentemente aleatórias, se não fosse a existência de um único personagem que circula entre esses três “universos”, o enigmático R.M.F. Em uma das tramas, o protagonista busca retomar o controle da própria vida e se “livrar” de um chefe autoritário. Na outra, um policial tenta reconstruir o casamento com sua esposa, após ela voltar de um desaparecimento misterioso e que muda sua personalidade. Já, na última, uma mulher busca por uma espécie de “messias”, que tenha poderes sobrenaturais, com um intuito maior. O comum entre as três tramas é o fato de todos os protagonistas estarem submetidos a alguma figura de poder, seja o chefe, o marido ou o líder religioso.


Assista ao trailer de "Tipos de Gentileza" (Reproduçãp/YouTube/20th Century Studios Brasil)


Parece não ter propósito além do choque

Yorgos é um cineasta subjetivo e fantasioso. Seus filmes não pretendem encantar o espectador, e sim chocar. Fazer pensar, analisar situações absurdas e as encaixar, de certa forma, em questões sociais às quais estamos, às vezes, sujeitos. Mas, em “Tipos de Gentileza”, é custoso arrumar alguma alegoria por trás de tantos tipos de violência que parecem ser totalmente gratuitas na tela. E, veja bem, não é como se não existissem alegorias que, de fato, coubessem no filme. Mas, o fato de termos que esmiuçar detalhadamente a trama para tentar buscar algo que a justifique, é maçante, assim como o próprio longa.

Ao longo de intermináveis 2h45, o filme guia o espectador por um caminho tortuoso e desconexo, em que é muito difícil sair da sala de cinema com uma opinião formada sobre o que acabou de assistir. E, vejo que cada vez que penso mais, gosto menos da obra. Chego também à conclusão de que o próprio filme é o motivo pelo qual está sendo tão pouco comentado em relação ao seu antecessor. “Tipos de Gentileza” nos deixa sem ter o que falar de tantas coisas sem nexo e sem necessidade.

Aqui, a violência e o choque parecem vir sem sentido ou função alguma. É como se Lanthimos dessa vez quisesse só espantar o espectador, ao invés de apresentar alguma metáfora coerente e interessante, como traz em seus outros trabalhos. Em certa altura, quem assiste fica tão cansado de se chocar, que simplesmente perde o interesse pelo que está vendo, assim como perde a vontade de tentar achar alguma mensagem escondida por trás do absurdo, embora exista.

Yorgos afirmou em Cannes que se inspirou no imperador romano Calígula, tido como um dos mais sádicos e cruéis da história. Já algumas teorias imaginam que R.M.F, “nome” do personagem que “liga” as três tramas, tenha alguma relação com a trindade bíblica, determinando que as letras significam redenção, manipulação e fé, conceitos difundidos nas três histórias. São inúmeras as linhas de raciocínio que ajudam na tentativa de encontrar um propósito para o filme, já que o próprio não cumpre minimamente esse papel.



Emma Stone e Joe Alwyn em "Tipos de Gentileza" (Foto: reprodução/Searchlight Pictures)


Mensagens nubladas por trás, mas tem que esmiuçar para encontrá-las

Apesar do grande esforço e desgaste, “Tipos de Gentileza” traz na sua irregularidade mensagens extremamente escondidas no fundo geral de suas três tramas. Lanthimos aumenta (e exagera) na dose de violência para mostrar até onde o ser humano é capaz de ir para conquistar a aprovação alheia. Aqui, Robert, Liz e Emily ultrapassam os limites morais e legais para não perderem seu status, relacionamento ou favoritismo. Yorgos vai na crise moral humana para pressionar suas criaturas e ver até onde suportam o aversivo em prol de seu próprio ego ou dependência.

Pontos positivos de “Tipos de Gentileza”

No entanto, a obra tem seus pontos altos. Destaca-se a versatilidade do elenco, que assume ao menos três personagens diferentes ao longo dessa viagem insana. Com abono positivíssimo para as performances de Jesse Plemons e Emma Stone, que criam personas cruéis, ingênuas e alucinantes ao mesmo tempo. Lanthimos também segue entregando uma excelente qualidade de direção técnica, e um controle estilístico que ainda consegue arrancar alguns risos, mesmo que desconfortáveis, no meio do caos.

“Tipos de Gentileza” também segue o alto nível das trilhas sonoras dos demais filmes do diretor, causando tanta agonia quanto a própria trama, sabendo o momento exato de ser usada, assim como as não originais “Sweet Dreams” e “Brand New Bitch”. O criador da trilha sonora original do longa é Jerskin Fendrix, que também assina a trilha formidável de “Pobres Criaturas”.



Emma Stone em "Tipos de Gentileza" (Foto: reprodução/Searchlight Pictures)


Conclusão

“Tipos de Gentileza” passa longe de ser o melhor filme do cineasta. Ele entra em um hall esquecível de um Yorgos pessimista em relação à natureza humana, algo que não é incomum em suas obras, mas aqui a dosagem sufocante é fator determinante para o mau desempenho geral do filme. Em uma trama maçante e sádica, um elenco estrelado se esforça para trazer algo positivo para o filme, mas que, por fim, não consegue se salvar de ser bizarro pelo bizarro, ou um grande objeto de estudo do espectador.

Nota: ★★


Foto destaque: Margaret Qualley, Jesse Plemons e Willem Dafoe em "Tipos de Gentileza" (Reprodução/Searchlight Pictures)


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