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[Crítica] “Pobres Criaturas” é um experimento formidável sobre o ser humano

O filme de Yorgos Lanthimos, estrelado por Emma Stone, chega hoje (01) aos cinemas de todo o Brasil; confira nossa crítica

01 Fev 2024 - 08h00 | Atualizado em 01 Fev 2024 - 08h00
[Crítica] “Pobres Criaturas” é um experimento formidável sobre o ser humano Lorena Bueri

“Estou achando fascinante estar viva.” -Bella Baxter (“Pobres Criaturas”)

Incontáveis são as interpretações de filósofos sobre a mente humana. John Locke, pensador inglês, defendia a ausência total de inatismo no ser humano, ou seja, o cérebro humano nasce “vazio”, como o que denominou de “tábula rasa”. Para o pensamento lockeano, o ser humano nasce como uma folha de papel em branco. Em “Pobres Criaturas”, Yorgos Lanthimos nos apresenta Bella Baxter, sua tábula rasa. E não importa o que você pense sobre o longa antes de assisti-lo, de fato. Estrelado e produzido por Emma Stone, essa odisseia formidavelmente bizarra e deliciosamente inesperada está longe da simplória ideia de uma homenagem ou remake do clássico Frankenstein. 


Assista ao trailer legendado de "Pobres Criaturas" (Reprodução/YouTube/Fãs de Cinema)


Trama de “Pobres Criaturas” 

Inspirado na obra de Alasdair Gray, no longa, conhecemos Bella Baxter (Emma Stone), uma mulher que cometeu su*cídio e foi reanimada pelo cientista Godwin Baxter (Willem Dafoe) na Era vitoriana. A título de curiosidade, tudo corrobora para o fato de God ser uma versão de Victor Frankenstein, já que transforma a mulher em um experimento ao implantá-la um cérebro de bebê. Mas a trama também abre interpretações amplas para o personagem de Willem Dafoe ser, na verdade, o monstro de Frankenstein, já que, além da aparência anormal, cita diversas deformidades a que seu pai o submetera para comprovar teses científicas. 

Mas, de volta à trama, logo no início vemos Bella como um bebê em plena fase de desenvolvimento, com coordenação e fala limitada. Para ajudá-lo a catalogar os avanços de sua criatura, Godwin contrata seu aluno, Max McCandless (Ramy Youssef), para acompanhá-la diariamente. E, ao notar que Bella se desenvolvia com rapidez, e com o intuito de mantê-la sempre sob seu controle, Baxter sugere a McCandless se case com ela, com a condição de continuarem vivendo na mansão, milimetricamente ajustada para ser um parque de hipóteses limitadas e “seguras” para a “criatura”. 

No entanto, disposta a conhecer o mundo e suas infinitas possibilidades, Bella resolve fugir com o advogado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um canalha divertido e carismático. Com ele, a jovem, em plena adolescência mental, viaja pelos continentes, conhece pessoas, experimenta sensações e sentimentos e, principalmente, descobre com suas próprias convicções o que é ser humana, no mais amplo sentido da palavra. 


Emma Stone e Mark Ruffalo em "Pobres Criaturas" (Foto: Reprodução/Alem)


Um experimento fabuloso sobre se tornar humano 

Apesar de ter uma grande quantidade de cenas com nudez e sexo explícito, “Pobres Criaturas” vai muito além de uma mulher conhecendo e explorando a vida sexual, embora tenha a questão como um pilar importante. No longa, vemos Bella florescendo à vida de maneira visceral, divertida e literal. Tal qual uma criança crescendo. 

Em suas aventuras, a jovem experimenta, por exemplo, amargura da dor e o ínfimo tamanho humano diante das mazelas do mundo. Assim como sente a liberdade da dança e trabalha em uma profissão mal vista aos olhos da sociedade. Tudo pela primeira vez. E essa é a grande premissa do filme: as primeiras e marcantes vezes. 

Sobretudo, “Pobres Criaturas” é um experimento sensorial sobre o que é se tornar uma pessoa, como é se tornar um ser humano em sociedade. Bella é uma mulher moldada e construída retomando, ou melhor, tomando, a própria vida para si mesma. A trajetória humana é permeada por situações que nos levam a ser quem somos, e Yorgos Lanthimos coloca os percalços mais estapafúrdios no caminho da personagem, para que, no final, ela se torne quem antes era impedida de ser. Tudo isso através de uma trama pra lá de ousada, bizarra e hilária, apoiada pelo brilhantismo de Emma Stone em seu melhor papel. 


Emma Stone em "Pobres Criaturas" (Foto: Reprodução/Alem)


O fantástico mundo de Yorgos Lanthimos

Além de toda a riqueza da trama por si só, “Pobres Criaturas” é um deleite aos olhos. De forma única e autêntica, com toques sutis de expressionismo alemão e surrealismo, o cineasta grego Yorgos Lanthimos, que dirigiu filmes como “O Sacrifício do Cervo Sagrado”, “Dente Canino” e “O Lagosta”, cria um universo fantástico, que contrapõe-se ao mundo que conhecemos. 

Misturando futuro e saudosismo, os capítulos que dividem a obra nos (re)apresentam lugares comuns de uma forma fantástica e colorida, explorando, nos tons, os sentimentos, em uma das fotografias e direções de arte mais impecáveis da temporada. No longa, a miséria é alaranjada, por exemplo. 


Cena de "Pobres Criaturas" (Foto: Reprodução/YouTube/Animation World Network)


Os figurinos da protagonista também conversam com a fase em que ela está. As mangas bufantes e cores vibrantes vão dando vez aos cortes e tons mais sóbrios ao passo em que seu amadurecimento é construído. 

A trilha sonora, de Jerskin Fendrix,  completa a imersão total de “Pobres Criaturas”. Construída por músicas que soam diferentes do convencional nos ouvidos do espectador, acompanha o pulsar do filme de modo a arrematar o toque especial que era necessário para amarrar essa odisseia. Tudo colabora para a experiência mágica que é assistir essa obra-prima na telona. 


Ouça à trilha sonora de "Pobres Criaturas" (Reprodução/Spotify)


Conclusão: “Pobres Criaturas” é um dos melhores filmes de 2023

Marcando a mais notável performance de Emma Stone e pontuando as ótimas atuações de Mark Ruffalo e Willem Dafoe, “Pobres Criaturas”, o segundo filme mais indicado ao Oscar 2024, empatando com “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese, com 11 nomeações, é, de fato, um dos maiores atos do cinema em 2023. Autêntico, bizarro, engraçado e expansivo, o longa de Yorgos Lanthimos é uma grata e esperada surpresa, capaz de marcar positivamente o espectador. Um exercício delicioso do ato de se tornar uma mulher. 

O longa estreia hoje (01) nos cinemas brasileiros. 

Nota: ★★★★★

 

Foto destaque: Emma Stone como Bella Baxter (Reprodução/The New York Times)

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