“Não é o tempo nem a oportunidade que determinam a intimidade, é só a disposição.” - Jane Austen
“Perdida” é um tesouro do cinema brasileiro e pode ser um importante abre-alas para que o Brasil enxergue o potencial da produção de fantasias românticas no audiovisual do país. Bebendo na fonte de romances como “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen, o longa baseado na obra homônima de Carina Rissi orgulha-se de ser um conto de fadas genuinamente brasileiro, com nosso jeito, carisma, linguagem e genialidade.
Assista ao trailer de "Perdida" (Reprodução/YouTube/Star Distribution Brasil)
A história de “Perdida”
Os fãs da autora paulista esperaram avidamente por mais de uma década que “Perdida”, primeiro volume de uma saga de seis livros, virasse uma obra cinematográfica. Sofia Alonzo, interpretada lindamente por Giovanna Grigio, é uma mulher moderna, porém, apaixonada por obras literárias de séculos anteriores, especialmente pelos livros da inglesa Jane Austen, contemporânea do século XIX. A protagonista é funcionária de uma editora e se empenhou por tempos em um projeto que consiste em uma nova versão de “Orgulho e Preconceito”.
Com a melhor amiga com data marcada para ir morar em outro país e seu projeto profissional indo por água abaixo, Sofia vê-se ainda mais frustrada com o amor e com o que a vida parecia lhe reservar. É quando o destino, ou melhor, uma fada madrinha atípica e um celular mágico aparecem para dar um novo rumo à vida dela.
Sofia é teletransportada para o século XIX, com um visual bucólico e muito familiar às obras pelas quais era fissurada. Ao se acidentar, ela é resgatada e acolhida por Ian Clarke, papel de Bruno Montaleone, na mansão da família. Um gentil cavalheiro, educado, valente e responsável pela família. Ao mesmo passo em que tenta arranjar uma forma de voltar ao presente e entender o porquê estava ali, a protagonista vê-se envolvida pelo sentimento que tanto evitava: o amor. Cabe à ela a escolha de voltar para casa ou viver essa paixão mágica e inesperada.
Acertos no elenco, trama, fotografia e figurinos
“Perdida” é uma viagem no tempo para os espectadores, e isso se deve a qualidade e excelência dos componentes do filme. Apesar dos pequenos tropeços nas cenas iniciais que custam a pegar o ritmo ideal, todo o desenrolar compensa. De uma fotografia e cenografia belíssimas e bem construídas, a megaprodução se estende para o elenco, não só o casal protagonista, mas o forte casting de apoio, que tem Lucinha Lins, Hélio de la Peña, Bia Arantes, Nathália Falcão, Luciana Paes, Diego Montez e Emira Sophia, cada um com um papel fundamental para o bom desenvolvimento da trama fluida que “Perdida” é.
Giovanna Grigio como Sofia Alonzo em "Perdida" (Foto: reprodução/Star Distribution Brasil)
Mas por falar em Grigio e Montaleone…que grande acerto! Os jovens veteranos que começaram na TV em “Chiquititas” e “Malhação”, respectivamente, tiveram seu triunfo nas telonas. Com uma química linda de se ver, os atores nasceram para este momento, nasceram para serem prestigiados nos cinemas. Giovanna tem o cerne de Sofia, uma mulher livre e determinada. A personagem, definida pela atriz como “uma agente do caos”, não poderia ter sido vivida por outra pessoa. Giovanna e Sofia se fundem em uma só em uma interpretação rica, complexa e cheia de camadas, como um bom fruto da geração Z. Engraçada sem exageros e sem se tornar uma caricatura, a cativante personagem foi bem desenvolvida e construída de modo a conservar a imagem que as fãs Brasil afora tinham da do livro.
Bruno Montaleone como Ian Clarke (Foto: reprodução/Star Distribution Brasil)
Para viver Ian Clarke, o ator passou por um estudo de campo e personalidade aprofundados, e assim, Bruno Montaleone mostra sua versatilidade e a maturidade de sua atuação. O primeiro protagonista do carioca nos cinemas é realmente digno de um príncipe da Disney. Bruno encarnou um lorde do século XIX com maestria e com um grande respeito aos fãs da saga, já que Ian faz parte de um imaginário coletivo muito forte entre as leitoras. De uma gentileza fenomenal, que chega a beirar o humor no contraste entre sua polidez e a espontaneidade de Sofia, a imagem de Montaleone vestido como os contemporâneos de dois séculos atrás não pode mais ser desvinculada da ideia de Sr.Clarke. Ian de Bruno é valente, cortez e protetor, bem como deveria ser. É um dos papéis mais brilhantes da carreira do artista.
Ian Clarke e Sofia Alonzo em "Perdida" (Foto: reprodução/Star Distribution Brasil)
Conclusão
Vale dizer que não precisamos de comparativos com obras de Hollywood para dizer o quão potente este longa é, afinal, o filme dá um banho em muita produção preguiçosa norte-americana, diga-se de passagem. “Perdida” é um conto de fadas inteiramente brasileiro e devemos nos orgulhar disso. Ele é um olá do cinema do Brasil para o mercado de fantasias românticas, e encoraja a produção de mais romances com a nossa cara e jeitinho único de ver o mundo. “Perdida” é um achado do Brasil, e que nosso público possa aplaudir e aclamar este tesouro como ele merece. “Terei imenso prazer em lhe ser útil.” -Ian Clarke
Nota:
9,5