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[Crítica] “Motel Destino” é o abismo entre o desejo ardente e o pavor pulsante

Estrelado por Iago Xavier, Fábio Assunção e Nataly Rocha, o novo filme de Karim Aïnouz chega amanhã (22) aos cinemas; confira nossa crítica

21 Ago 2024 - 22h10 | Atualizado em 21 Ago 2024 - 22h10
[Crítica] “Motel Destino” é o abismo entre o desejo ardente e o pavor pulsante Lorena Bueri

“O que aconteceu foi que eu nasci (...) e teimei a desafiar o destino” - Motel Destino (2024)

Qual a linha tênue entre prazer e perversão? Entre o tesão e o pavor? Karim Aïnouz converge os conceitos, que andam entrelaçados como um só em “Motel Destino”, filme que representou o Brasil em Cannes esse ano, sendo indicado à Palma de Ouro e ovacionado por 12 minutos ininterruptamente. Nas paredes claustrofóbicas do litoral cearense, Karim cria um noir dos trópicos com uma dose extra da sedução que só uma história brasileira poderia ter.

Trama de “Motel Destino”

A trama acompanha Heraldo (Iago Xavier), um jovem órfão e marginalizado, que vive tentando ganhar a sobrevivência, enquanto luta contra o destino que parece ser traçado a ele desde que nasceu. Quando uma série de desventuras e incidentes, que custam a vida do próprio irmão, o levam até o Motel Destino, ele procura refúgio e é acolhido pelos proprietários do local, o conflituoso casal Dayana (Nataly Rocha) e Elias (Fábio Assunção).

O estabelecimento que tinha tudo para ser um local unicamente erótico, servindo para o prazer alheio, assume um tom sombrio em que reviravoltas sinuosas mudarão a vida dos três permanentemente, em uma dança quente e desafiadora contra as circunstâncias que atravessam as luzes quentes do misterioso motel.


Assista ao trailer de "Motel Destino" (Reprodução/YouTube/Fãs de Cinema)


A câmera lasciva de Aïnouz te chama pra dançar, arder e temer

Karim é um mestre na construção de universos magnéticos, por mais simples ou comum que o plano de fundo possa ser. É um charme próprio, e não surpreendente para quem conhece minimamente sua filmografia, que tem obras como “Praia do Destino”, “Madame Satã” e “A Vida Invisível". Agora, Aïnouz te leva para as quatro paredes sufocantes do Destino. O que por fora parece ter a inocência das cores de Tim Burton, por dentro tem ares de Almodóvar, mas sempre banhado à excelência visual originalmente cearense.

O Motel, aqui, assume o protagonismo; é um personagem milimetricamente escalado. Às vezes tão presente, invasivo e esmagador. Outrora tão sigiloso e enigmático. Ao decorrer das 1h52, Aïnouz convida você para se sentir preso junto a Heraldo, Dayana e Elias, naquela atmosfera carregada de erotismo e terror, ambos na mesma medida.

E tudo na composição do longa te lembra que há algo de muito bizarro naquele ambiente. Lá dentro, o prazer privado invade os corredores e adentra a vida de todos ao redor. É como se não houvesse barreiras, e nenhum segredo estivesse a salvo ali. É como se tudo e todos soubessem o que você fez de mais profano na vida.

Karim brinca com sons, luzes e cores para aprofundar ainda mais o purgatório febril que o Destino é. Lençóis laranjas, luzes vermelhas e azul neon, e o som, quase ininterrupto, de gemidos e peles se chocando, se contrabalanceiam com o sol brilhante no corpo bronzeado, e a melodia do piseiro torando. Tudo isso dá ritmo à obra filmada em 16mm, que tem o charme da imagem granulada.



Heraldo, Dayana e Elias em "Motel Destino" (Foto: Divulgação/Sinny/Pandora Filmes)


Elenco delicioso de se assistir

“Motel Destino” é um filme com poucos núcleos e personagens, assim como a maioria das obras de Karim. É na individualidade minuciosamente trabalhada de seus sujeitos, que o cineasta se aproxima do espectador ao criar personagens super humanos em suas qualidades e defeitos. Em Heraldo, Elias e Dayana o público se vê refletido, em pequena ou grande escala. Direta ou indiretamente vemos nossos sonhos, desejos e temores retratados através das personalidades dúbias daqueles três indivíduos confinados pelo destino.

Iago Xavier, intérprete de Heraldo, faz sua estreia nas telas. O personagem não só é seu primeiro protagonista, como marca seu primeiro longa-metragem. E é de se esperar que veremos o jovem ator, de 24 anos, daqui para frente. Iago encarna a complexidade de Heraldo em sua essência, vivendo as dores e delícias daquele jovem que corre contra a morte diariamente. É notória a dedicação do artista pra dar vida ao personagem que pede muito de sua atuação e explora todo o seu corpo em cenas desafiadoras.

Também pontuo a excelência de Fábio Assunção ao interpretar Elias, um personagem dualista e capaz de ludibriar o espectador com suas intenções sempre veladas. Vagando entre picos de um humor esdrúxulo e uma capacidade brilhante de enveredar pelo sombrio, Elias estabelece uma linha ainda mais tênue entre a luxúria e o ódio, tanto em relação a Heraldo, quanto à própria Dayana. Fábio usa lentes escuras nos olhos para encarnar Elias, e esse pequeno detalhe da caracterização torna aquele olhar ainda mais misterioso e enigmático, sendo uma amostra da escuridão que o dono do Motel Destino carrega na personalidade.



Dayana, Elias e Heraldo em "Motel Destino" (Foto: Divulgação/Sinny/Pandora Filmes)


Pontas inexploradas

“Motel Destino” deixa algumas pontas soltas, principalmente o desaguar do primeiro ato, que, no final, acaba por perder força. Assim como a escolha de externar o clímax da tensão ao invés de explorar a claustrofobia a que o Destino submete os personagens e os próprios espectadores. Havia uma gama de possibilidades para tornar o ambiente ainda mais temerário do que já era. O longa, no entanto, opta por aumentar a aflição do espectador gradativamente até chegar no ápice, para então, atenuar, levando o desfecho da trama para outro ambiente.

Já em relação ao núcleo inicial de Heraldo, sua única (e decisiva) função é levá-lo até o motel, pois sua conclusão deixa a desejar, parecendo ter sido esquecido do meio para o final do filme. Porém, como já é de conhecimento que “Motel Destino” inaugura uma trilogia, não descarto a possibilidade daqueles personagens serem amplamente estendidos no Ceará de Aïnouz.

Conclusão

“Motel Destino” é uma viagem sensorial, livre, quente e amedrontadora por dentro dos corredores estreitos e quartos neon daquele motel à beira da estrada. Misturando libido e temor em um universo original e magnético, Karim Aïnouz entrega ao espectador uma obra visualmente impecável, sonoramente obscena e roteiristicamente complexa, com pequenos buracos, mas que diante do hipnotismo que imerge quem assiste, se tornam pequenos, reforçando a beleza e a autenticidade deste noir tipicamente brasileiro. Com nossas cores, gingado, dramas e sonhos.

Nota: ★★★★


Foto destaque: Fábio Assunção e Iago Xavier em "Motel Destino" (Foto: Divulgação/Sinny/Pandora Filmes)

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