“Bem-vindo ao MCU. Pena que você chegou em uma fase ruim.” - Deadpool & Wolverine (2024)
Não é de hoje que a Marvel, um dos maiores e mais tradicionais estúdios de produções de heróis, bate na trave quando o quesito é trazer uma trama que saia da mesmice e agrade novamente seu público, que é cada vez mais seletivo e exigente. Após uma sequência de fracassos, com filmes como “As Marvels”, “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, “Thor: Amor & Trovão” e outros, com raras exceções se salvando, como o excelente “Guardiões da Galáxia Vol. 3”, a Marvel Studios tinha a necessidade de se reerguer, de reanimar os fiéis que lotam as salas de cinema e berram de entusiasmo ao ver seu super-herói favorito em um longa bem feito. E, para isso, apostou todas as suas fichas em sua mais nova aquisição, o mercenário Deadpool e o mutante líder dos X-Men, Wolverine, enterrando de vez a Era Fox. A questão a ser analisada nesta crítica é: o investimento massivo valeu à pena?
Trama de “Deadpool & Wolverine”
Após os acontecimentos do último filme do mercenário tagarela (2018), Wade (Ryan Reynolds) decide aposentar o Deadpool e viver uma vida pacata, como um civil comum, trabalhando no ramo de vendas. Ao lado de Vanessa e seus já conhecidos amigos, ele desfruta da monotonia de uma rotina normal, até que uma sucessão de fatos o levam a vestir o traje vermelho novamente e buscar Logan (Hugh Jackman) para que seus universos não sejam destruídos.
Neste aguardado longa, a dupla improvável entre o mercenário canastrão e o mutante ranzinza, Deadpool e Wolverine enfrentam inimigos em comum, em uma trama recheada de referências, metalinguagem, ação, nostalgia, com aquela boa dose de nonsense e a melhor cena de abertura da franquia.
Assista ao trailer dublado de "Deadpool & Wolverine" (Reprodução/YouTube/Marvel Brasil)
Esse é um filme para fazer os fãs pirarem (mesmo)
Nos parece claro que a Marvel não atravessa sua melhor fase, mas, fato também é, que o estúdio tem uma base de fãs fiéis e que vão se sentir agraciados pelo único lançamento cinematográfico do MCU nos cinemas em 2024.
“Deadpool & Wolverine” é um filme que aparenta ter sido construído e idealizado para aquecer o coração daquele fã que cresceu lendo quadrinhos e acompanhando os X-Men. No entanto, apesar de ser recheadíssimo de referências que pedem uma certa bagagem de outras produções para compreender a trama em sua totalidade, não é um longa que perde o sentido ou a graça se o espectador for assistir estando alheio a esse universo, no máximo vai deixar de pescar algumas piadas e referências.
Destaca-se também, a naturalidade com que Ryan entretém o público, sem deixar que o personagem vire uma caricatura de si mesmo. Contrariando novamente a ideia de que Deadpool não sustentaria um filme próprio, no terceiro filme da franquia Reynolds segue a mesma linha dos demais, sendo, talvez, até mais ousado e usando o já clássico recurso da quebra da quarta parede para aproximar ainda mais o humor ácido de Wade ao espectador.
Deadpool e Wolverine (Foto: divulgação/20th Century Studios/Marvel/ The Walt Disney Studios/Jay Maidment)
Fanservices são a base em “Deadpool & Wolverine”
Enterrando de vez a Era Fox, Shawn Levy e Ryan Reynolds prestam um tributo aos heróis com fins indefinidos e um tanto esquecidos pelo tempo ou pelo próprio (ex) estúdio. Em um funeral bem-humorado e que tira sarro de si mesmo a todo tempo, “Deadpool & Wolverine” se banha em saudosismo, acompanhado por participações ilustres e inesperadas, dando uma conclusão digna para alguns, e abrindo remotas possibilidades para outro.
O roteiro básico e corrido desperdiça potenciais
Não era de se esperar um roteiro super profundo em um filme do Deadpool. Pode-se dizer que todos os longas do mercenário giram ao redor de um mesmo propósito, de uma mesma temática. “Deadpool & Wolverine” não foge disso, mas a superficialidade aqui, acaba desperdiçando bons personagens. É o caso da vilã Cassandra Nova, irmã gêmea de Charles Xavier, interpretada por Emma Corrin.
Cassandra, assim como Xavier, tem o poder de ler e controlar mentes, mas de uma forma bem diferente do irmão. A personagem de Corrin era de um potencial promissor, mas, sufocada por um roteiro modesto, que não dá espaço para que ela se expanda, se torna uma vilã fraca e esquecível, sem uma motivação definida.
O filme também opta por focar em alegorias, por assim dizer, que façam o público vibrar, em detrimento de um maior desenvolvimento da trama, em si. Em certo momento, nos parece que o saudosismo é mais precioso para “Deadpool & Wolverine” que uma história consistente. Fatos que poderiam ser mais desenvolvidos, se tornam um amontoado corrido para que a próxima participação ou cena épica chegue. No entanto, o fator não chega a ser decepcionante, devido ao histórico de “Deadpool” (2016) e “Deadpool 2” (2018), diferente do fiasco de Nova, que é um potencial enlutado.
Cassandra Nova (Foto: divulgação/20th Century Studios/Marvel/ The Walt Disney Studios/Jay Maidment)
Conclusão
Divertido, recheado de fanservice e dentro do esperado. “Deadpool & Wolverine” garante o entretenimento do público por duas horas que passam voando, na companhia do personagem que surpreendeu a todos ao chegar no terceiro filme sem saturar (mas também sem inovar), e do mutante que ninguém tinha mais esperanças de ver nas telonas. No entanto, apesar de ser um acerto da Marvel em 2024, que apelou para a nostalgia, não garante ser uma alavanca permanente para tirá-la da fase ruim. O tradicional estúdio ainda precisa batalhar muito para atingir um novo apogeu.
Nota: ★★★½
Foto destaque: Deadpool e Wolverine (Divulgação/20th Century Studios/Marvel/ The Walt Disney Studios/Jay Maidment)