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América Latina se diferencia nas animações pela criatividade, afirma Del Toro no Oscar

Diretor de "Pinóquio" fala sobre a criatividade da América Latina e traz várias pautas importantes em discurso.

14 Mar 2023 - 16h30 | Atualizado em 14 Mar 2023 - 16h30
América Latina se diferencia nas animações pela criatividade, afirma Del Toro no Oscar Lorena Bueri

O diretor Guillermo del Toro saiu em defesa das animações desde o início das premiações voltadas para o meio do audiovisual, e, ao marcar presença no Oscar 2023, ele reiterou a importância das animações. Após lembrar os presentes na premiação de que se trata de um tipo de mídia, e não de um tipo de gênero, como geralmente é interpretado, o diretor destacou a relevância e a importância do stop motion e a criatividade da América Latina após sua vitória pelo filme "Pinóquio".


produtores de pinoquio

Produtores de Pinóqui com o Oscar. Foto/Reprodução Instagram


Ele fala em uma entrevista coletiva que o stop motion é a maneira mais democrática que existe considerando que as outras, como por exemplo as digitais, são muito caras e que um garoto com uma câmera e um boneco no quarto consegue fazer um stop motion. Nessa mesma entrevista, Del Toro ainda lembrou que todos os processos de uma animação, desde a direção, a produção e até o design, são tão complexos, e às vezes até mais, do que os de um live-action. Tanto que ele também afirmou que fez questão de tratar as pessoas que trabalharam em “Pinóquio” como os artistas que são, porque eles são artistas. Assim, seus nomes apareceram nos créditos principais, antes até dos dubladores.


Pinóquio
Cena do filme Pinóquio. Foto/Reprodução Twitter


O cineasta disse que, para ele, sua vitória é também uma representação da comunidade de animadores da América Latina, com ênfase no México, uma vez que ele fez questão de trabalhar com um estúdio tradicional de Guadalajara. Segundo ele, "É importante que o México e a América Latina olhem para a animação, porque podemos competir [com o restante do mundo] com nossa criatividade, paixão e talento artístico, e o stop motion permite isso". Fora isso, ele ainda lembrou que o Festival de Annecy deste ano irá homenagear a indústria mexicana, dizendo "Vamos lá e vamos continuar reverberando essa mensagem o quanto pudermos".

Del Toro ainda enfatizou a responsabilidade de representar minorias. “O que eu quero dizer é que toda vez que você vai fazer um trabalho enquanto uma pessoa latina ou uma minoria, você não está sozinho. O primeiro dever da representação é fazê-la realmente bem, porque você não está fazendo isso só por você. Você está fazendo isso para a pessoa que virá depois e que está procurando oportunidades. Senão, você estará fechando essa porta”.

Ele exemplifica o que quis dizer lembrando como a indústria cinematográfica norte-americana se abriu mais para os estrangeiros com o passar dos anos. “Lembro de uma conversa que tive nos anos 1990 com Guillermo Navarro, um animador que venceu o Oscar por O Labirinto do Fauno, em que um agente disse para ele: ‘por que eu ia querer um mexicano? Já tenho jardineiro’. Tinha muito racismo, aberto e sutil, e, existe um teto de vidro. Ele existe. Você precisa empurrá-lo o tempo todo. Não termina com uma geração. Não termina com uma pessoa. De novo, juntos, podemos ampliar mais e mais os limites e criar oportunidades”.

Agora, ao olhar para o cenário da indústria da animação no geral, o diretor, trouxe a necessidade de organização dos animadores. “Temos que ter um diálogo ativo com os sindicatos e com a Academia. Essa é uma forma de arte que tem sido mantida, comercial e industrialmente, na mesa das crianças por muito tempo, e é realmente madura, expressiva, bonita e complexa. Então uma vitória [como essa] ajuda, mas precisamos seguir em frente enquanto comunidade. Torná-la forte e conhecida. A promessa da animação pode ser cumprida por esses artistas lindamente. E jovens animadores surgem o tempo todo, e eles não querem se conformar com as regras e os produtos que são demandados deles”.

Vale ressaltar que o cineasta prometeu duas bolsas de estudo para jovens cineastas, além de  financiar um curso de stop motion na escola de animação Gobelins.

Uma vitória como essa é extremamente significativa, merecida, e, principalmente  representativa para a comunidade do audiovisual, sobretudo animadores, da América Latina, e, ter um diretor falando abertamente sobre representatividade, racismo, e as necessidades da comunidade numa premiação tão grande é muito importante. 

Foto em destaque Reprodução Instagram.

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