Telescópios captam “Superman”: explosão de buraco negro que brilha mais que 10 trilhões de sóis

Fenômeno registrado há 10 bilhões de anos-luz da Terra redefine os limites da astrofotometria e pode revelar novas populações de estrelas gigantes

10 nov, 2025
Explosão estelar | Reprodução/NASA/Newsmaker/Getty Images Embed
Explosão estelar | Reprodução/NASA/Newsmaker/Getty Images Embed

Astrônomos detectaram a maior explosão de buraco negro já observada. O evento, apelidado de “Superman”, aconteceu a cerca de 10 bilhões de anos-luz da Terra e brilhou com a força equivalente a 10 trilhões de sóis, um recorde na história da observação cósmica.

O fenômeno foi identificado em um núcleo galáctico ativo (AGN), região no centro de uma galáxia alimentada por um buraco negro supermassivo que devora gás e poeira em um disco rotativo. À medida que esse material é atraído e superaquece, libera uma quantidade colossal de energia eletromagnética.

Segundo o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), o evento é tão raro que se enquadra em uma categoria própria: um em um milhão. “É denso, extremo e absolutamente sem precedentes. Cerca de um em cada 10 mil AGNs apresenta atividade explosiva, mas este caso está em outro nível”, explicou o astrônomo Matthew Graham, autor principal do estudo publicado na Nature Astronomy.

Uma explosão estelar no coração das galáxias

Os cientistas acreditam que o buraco negro devorou uma estrela massiva, desencadeando uma explosão energética nunca antes vista. “Provavelmente é a estrela mais massiva já observada sendo dilacerada por um buraco negro supermassivo”, afirmou K.E. Saavik Ford, pesquisadora do Museu Americano de História Natural. Essa observação reforça a hipótese de que estrelas gigantes podem existir nos discos de gás que circundam buracos negros supermassivos — um ambiente até então considerado inóspito.

O evento foi inicialmente captado em 2018 por meio dos sistemas de varredura automatizada Catalina Real-Time Transient Survey e Zwicky Transient Facility, ambos operando no Observatório Palomar, na Califórnia. Só após uma reanálise dos dados, cinco anos depois, os astrônomos perceberam que não se tratava de um simples blazar, mas de algo muito mais poderoso — um AGN 500 milhões de vezes mais massivo que o sol.


Fenômeno foi a maior explosão de buraco negro já observada (Foto: reprodução/Aaron Horowitz/Getty Images Embed)


Tecnologia e telescópios revelam o invisível

A equipe utilizou uma combinação de observatórios de última geração, incluindo o W. M. Keck, no Havaí, e sistemas de inteligência artificial para filtrar padrões de luminosidade. Graças a esse cruzamento de dados, foi possível compreender a mecânica de dilaceração estelar (TDE) com detalhes inéditos. Graham explica que o evento também ilustra a chamada dilatação do tempo cosmológico, uma consequência da expansão do universo.

Sete anos aqui são dois anos lá. Estamos assistindo ao evento em câmera lenta, em um quarto da velocidade normal.” A luz dessa explosão levou 10 bilhões de anos para alcançar a Terra, representando uma janela literal para o passado profundo do cosmos.

Impacto para a ciência e a tecnologia

O “Superman” não é apenas um espetáculo astronômico: ele desafia os modelos atuais de formação estelar e crescimento de buracos negros. “Esses transientes nucleares extremos (ENTs) mostram que o comportamento dos buracos negros é mais dinâmico do que pensávamos”, observou o astrofísico Danny Milisavljevic, da Universidade Purdue.

Para Alex Filippenko, da Universidade da Califórnia em Berkeley, o registro inaugura uma era de observações de alta precisão. “Cada explosão como essa é um laboratório natural de física extrema. Ver um buraco negro supermassivo emitir tanta energia é como observar a própria gravidade em ação”, destacou.

Com o avanço de novos instrumentos, como o Observatório Vera C. Rubin, no Chile, e o uso de Machine Learning para rastrear eventos luminosos no universo profundo, cientistas esperam detectar mais explosões desse tipo nos próximos anos. Essas descobertas podem redefinir o entendimento sobre a estrutura das galáxias, revelar novas populações estelares e fornecer pistas sobre como os buracos negros moldam o universo.

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