Argentina será sede de mega data center da OpenAI

Empresa escolhe país para receber primeiro data center da América Latina e expõe obstáculos do Brasil, como a burocracia, energia cara e lentidão regulatória

15 out, 2025
Javier Milei com o Ceo da OpenAI, Sam Altman | Reprodução/X/@tommyshelby_30
Javier Milei com o Ceo da OpenAI, Sam Altman | Reprodução/X/@tommyshelby_30

Enquanto o Brasil ainda discute reformas tributárias e gargalos energéticos, a OpenAI decidiu fincar bandeira tecnológica na Argentina. O país será sede de um dos maiores data centers do planeta, um investimento bilionário que promete transformar a região em um novo polo da inteligência artificial mundial.

Mas por que Buenos Aires e não São Paulo? A resposta envolve uma combinação de pragmatismo fiscal, energia barata e timing político, três fatores que o Brasil, por ora, não conseguiu alinhar.

O jogo da previsibilidade

A OpenAI, empresa que lidera a revolução da IA generativa, não escolhe endereços por acaso. Cada decisão é guiada por cálculos de risco, custo e estabilidade. A Argentina, sob o novo regime de investimentos (RIGI), ofereceu isenção fiscal agressiva, regras simples e horizonte previsível, algo raro em um continente conhecido por instabilidade regulatória.


Javier Milei com investidores da Open AI (Foto: reprodução/x/@techrepublic)

O Brasil, por outro lado, ainda é visto como um território de labirintos burocráticos. Licenças ambientais lentas, múltiplos tributos e tarifas imprevisíveis elevam o custo de qualquer projeto de infraestrutura digital.
Em um setor onde tempo é sinônimo de vantagem tecnológica, o atraso burocrático tem peso de derrota.

Energia limpa, mas não barata

Um data center da magnitude planejada pela OpenAI consome energia suficiente para abastecer uma cidade de médio porte. E não qualquer energia: é preciso que seja estável, limpa e barata.
A Argentina possui vasta capacidade eólica e solar na Patagônia, além de incentivos diretos à produção renovável. Isso reduz custos operacionais e torna o projeto mais “verde”, uma exigência estratégica num momento em que as big techs precisam exibir responsabilidade climática.

O Brasil até possui matriz energética exemplar, mas enfrenta gargalos de transmissão, tarifas elevadas e um emaranhado de regulações estaduais. Para um empreendimento global, cada centavo economizado em eletricidade representa milhões no balanço anual.

Conectividade e soberania digital

Outro ponto silencioso, mas crucial, é o posicionamento estratégico. A Argentina vem se posicionando como hub de dados entre o Atlântico e o Cone Sul, conectando novas rotas de cabos submarinos que ligam a América Latina à África e à Europa. Ter um data center ali não é apenas uma escolha econômica, é um movimento geopolítico.

O Brasil, apesar de ser líder regional em tecnologia, ainda depende de rotas de dados concentradas no Sudeste e de uma malha de infraestrutura desigual. No tabuleiro digital, isso o torna um gigante com pés de barro.

O fator político também conta. Javier Milei entendeu rapidamente o peso simbólico de atrair uma empresa como a OpenAI: é mais que um investimento, é uma declaração de soberania tecnológica. Ao se posicionar como “terra amiga da inovação”, o governo argentino transformou a política econômica em marketing global.

Enquanto isso, o Brasil segue dividido entre discursos sobre IA e falta de execução prática. A diferença é simples: a Argentina ofereceu um contrato; o Brasil, uma promessa.

A lição que o Brasil pode (e precisa) aprender

A decisão da OpenAI não deve ser lida como uma derrota isolada, mas como um alerta. O país que quer disputar a liderança em tecnologia precisa oferecer ambiente competitivo, fiscalmente claro, energeticamente eficiente e digitalmente conectado.
Não basta ter engenheiros brilhantes e universidades fortes; é preciso ter solo fértil para que a inovação floresça. Se a Argentina conseguiu se tornar o epicentro da IA no continente, é porque entendeu algo que o Brasil parece ter esquecido: o futuro não espera pela burocracia

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