Prêmio Nobel de Física 2025 revoluciona o entendimento da mecânica quântica

Trio de cientistas é reconhecido por revelar como o fenômeno do “tunelamento quântico”, um avanço que aproxima a física teórica da computação quântica prática

07 out, 2025
Representação artística de um átomo e das leis da mecânica quântica I Reprodução/Instagram/@todamatéria
Representação artística de um átomo e das leis da mecânica quântica I Reprodução/Instagram/@todamatéria

O Prêmio Nobel de Física de 2025 foi concedido aos cientistas John Clarke, Michel H. Devoret e John M. Martinis, que desvendaram detalhes fundamentais do “tunelamento quântico” — um fenômeno que permite que partículas atravessem barreiras aparentemente intransponíveis. A descoberta, anunciada pela Academia Real das Ciências da Suécia nesta terça-feira (7), reforça o elo entre a física teórica e suas aplicações tecnológicas mais avançadas.

O tunelamento quântico é um dos fenômenos mais intrigantes da mecânica quântica. Ele descreve o comportamento de partículas subatômicas que, em vez de refletirem uma barreira, simplesmente “passam por ela” — algo impossível segundo as leis da física clássica. Com o trabalho do trio, esse processo pôde ser observado e descrito com precisão inédita, abrindo portas para novas formas de manipular matéria e energia em escala nanométrica.

Essa compreensão não é apenas teórica. Ela impulsiona tecnologias de ponta, como sensores supercondutores, circuitos de ultra precisão e os processadores que compõem a base da computação quântica. O Nobel de 2025, portanto, simboliza o amadurecimento de um campo que redefine os limites do possível.

John Clarke: pioneiro da interferência quântica

John Clarke, nascido em Cambridge em 1942, é um dos grandes nomes da física experimental moderna. Professor emérito da Universidade da Califórnia em Berkeley, Clarke é reconhecido por suas contribuições ao desenvolvimento dos dispositivos SQUIDs (Superconducting Quantum Interference Devices). Esses instrumentos são capazes de detectar campos magnéticos extremamente fracos, sendo utilizados desde experimentos de física fundamental até exames de ressonância magnética de alta sensibilidade.


  Explicação do fenômeno (Foto: Reprodução/Instagram/@clubedeastronomiavega)

Em sua carreira, Clarke também se destacou pela busca de compreender os limites do ruído quântico — o ponto em que a incerteza fundamental da natureza começa a interferir nas medições humanas. Seu trabalho, além de ampliar o conhecimento sobre a estrutura da matéria, permitiu avanços em áreas como o estudo do cérebro e a busca por partículas exóticas, como o áxion, possível componente da matéria escura.

A abordagem de Clarke uniu teoria e experimentação em um equilíbrio raro. Ele mostrou que, para compreender o universo em sua menor escala, é preciso tanto engenhosidade técnica quanto coragem intelectual para enfrentar o imprevisível.

Devoret e Martinis: a ponte para a computação quântica

Michel H. Devoret, francês nascido em Paris em 1953, e John M. Martinis, norte-americano nascido em 1958, compartilharam uma trajetória voltada à aplicação dos princípios quânticos em sistemas eletrônicos reais. Professores em Yale e na Universidade da Califórnia, respectivamente, ambos são referências no estudo de circuitos supercondutores e na criação de “qubits” — as unidades de informação quântica.

Devoret cunhou o termo “quantrônica” para descrever sua área de pesquisa: o estudo de efeitos eletrônicos mesoscópicos em que correntes e tensões exibem comportamentos puramente quânticos. Essa linha de investigação foi essencial para o desenvolvimento dos circuitos que hoje viabilizam protótipos de computadores quânticos.

Martinis, por sua vez, foi um dos primeiros a construir processadores de qubits baseados em junções Josephson — o mesmo princípio do tunelamento quântico estudado pelo trio. Sua pesquisa levou à criação de sistemas de baixíssimo ruído e alta estabilidade, usados hoje por empresas e laboratórios que disputam a corrida pela supremacia quântica.

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