Pesquisadores criam método rápido para indentificar contaminação por metanol

Pesquisadores da UEPB desenvolvem técnica ágil e de baixo custo para detectar adulteração por metanol em bebidas alcoólicas; casos vieram à tona em setembro

04 out, 2025
PF irá investigar adulteração de bebidas alcoólicas | Reprodução/ Freepik
PF irá investigar adulteração de bebidas alcoólicas | Reprodução/ Freepik

Um novo método promete revolucionar a detecção de adulterações em alimentos e bebidas. A técnica identifica fraudes em poucos minutos, sem a necessidade de produtos químicos. Os testes já apontaram até 97% de precisão nos resultados especialistas acreditam que a inovação pode ampliar a segurança alimentar no país.

A descoberta de pesquisadores

Cientistas da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, criaram um método ágil para detectar adulterações em bebidas alcoólicas com metanol. Segundo o Ministério da Saúde, já foram contabilizadas mais de 100 ocorrências de intoxicação pela substância no Brasil. Na Paraíba, porém, não há registros até agora.


Pesquisador do time de pesquisadores da UEPB

Professor e pesquisador Rômulo Romeu da UEPB (Foto: reprodução/ Instagram/ @prgb.uepb)

Segundo o professor responsável pela pesquisa na universidade, David Fernandes, os estudos já vinham sendo realizados antes dos registros de intoxicação por metanol. A proposta inicial era analisar a qualidade de destilados produzidos no interior da Paraíba, como as cachaças, por exemplo.

Com o aparecimento dos casos de intoxicação por metanol, cuja origem ainda não está totalmente esclarecida, os pesquisadores passaram a incluir no projeto métodos para identificar possíveis adulterações.

“Com a pesquisa, conseguimos estabelecer uma forma de classificar cachaças que poderiam estar adulteradas com metanol e outros componentes presentes no processo de destilação, como o álcool superior. Obtivemos 97% de acerto nessa classificação, com um método rápido e de baixo custo”, destacou.

As bebidas destiladas são aquelas que, após a fermentação, passam por destilação para elevar o teor alcoólico e reduzir impurezas.

O metanol, por sua vez, é um tipo de álcool empregado na indústria, em solventes e outros produtos químicos, mas extremamente tóxico quando consumido. No organismo, o fígado o converte em substâncias nocivas que afetam a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo levar à cegueira, ao coma e até à morte. Também há risco de falência pulmonar e renal.

Segundo o professor, a detecção de contaminação por metanol é feita por meio de um equipamento que emite luz infravermelha diretamente na garrafa, mesmo que ela esteja lacrada. Essa luz estimula as moléculas do líquido, e então um software coleta os dados, faz a leitura das informações e aponta a presença de qualquer substância estranha à composição original da bebida.

“Essa técnica permitiu identificar não apenas se a cachaça apresentava adulteração com compostos próprios do processo de produção, como álcoois superiores e metanol, mas também alterações fraudulentas, como a adição de água ou outras substâncias”, explicou.

O método dispensa o uso de reagentes químicos e, em 2025, os pesquisadores já haviam publicado dois artigos sobre a pesquisa na revista Food Chemistry, uma das mais relevantes no campo da química e bioquímica de alimentos em nível mundial.

O equipamento pode ser aplicado por órgãos fiscalizadores tanto na detecção de metanol em bebidas destiladas quanto em inspeções de rotina. Como desdobramento dessa inovação, os pesquisadores também desenvolvem um protótipo de canudo capaz de mudar de cor ao identificar adulterações.

“Isso vai garantir ao consumidor mais segurança, assegurando que a bebida ingerida não contenha metanol”, destacou.

Até o momento, não há previsão para a conclusão do canudo. Na Paraíba, não foram registrados casos de intoxicação por metanol em bebidas.

Como começou esse problema com o metanol ?

Segundo o Ministério da Saúde, os primeiros registros aconteceram no fim de agosto.

No final de setembro, o problema ganhou visibilidade quando médicos em São Paulo começaram a relatar pacientes com sintomas característicos de intoxicação por metanol.

A troca de informações entre profissionais da área mostrou que não eram casos isolados: diversos hospitais estavam recebendo pessoas com o mesmo quadro clínico.

Ao contrário das intoxicações mais comuns geralmente ligadas ao consumo de combustíveis por pessoas em situação de vulnerabilidade, dessa vez as vítimas haviam ingerido bebidas alcoólicas em bares, festas e reuniões sociais. Esse cenário levantou a suspeita de que garrafas adulteradas estivessem sendo comercializadas.

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