Thaís Carla: “Meu corpo sempre foi movimento. Agora, ele também é descoberta”
Em nova fase após a bariátrica, a dançarina e influenciadora mergulha no universo dos esportes com leveza, curiosidade e força

Thaís Carla sempre desafiou padrões. Como dançarina, influenciadora e uma das principais vozes do movimento pela diversidade corporal no Brasil, ela fez história ao mostrar que corpos gordos também dançam, brilham e inspiram. Mas, nos bastidores da força e da performance, há também uma mulher que, aos poucos, tem escolhido o autocuidado como prioridade — com menos gritos, mais escuta.
Em um novo capítulo de sua trajetória, Thaís passou por uma cirurgia bariátrica e, desde então, mergulhou em um processo de reconexão com o próprio corpo. Longe da narrativa de antes e depois, ela escolhe viver o agora com leveza — e, nesse caminho, descobriu nos esportes, especialmente no tênis, uma nova paixão.
Mas o movimento de reinvenção não para por aí: Thaís também acaba de se formar como atriz pela Escola de Atores Wolf Maya, expandindo ainda mais seus horizontes artísticos e provando que nunca é tarde para começar de novo. “Esse momento é todo sobre transformação”, diz ela. “Do palco ao esporte, estou explorando novas versões de mim.”
Em entrevista exclusiva à Lorena Magazine, ela fala sobre essa fase, os julgamentos, as escolhas e o prazer de se reinventar a partir do corpo — e da coragem.
- A bariátrica foi uma escolha muito pessoal e corajosa. O que te motivou a passar por esse processo?
Foi um processo profundo, cheio de reflexão. Minha maior motivação foi a saúde e o desejo de acompanhar cada fase da vida das minhas filhas com energia e disposição. Aprendi que a culpa não é minha, e sim de uma sociedade que insiste em não enxergar a diversidade corporal que existe no mundo. Mas esse erro coletivo acaba sendo uma dor individual. E essa dor me impedia de viver novas experiências. Não foi uma decisão fácil, mas foi tomada com muita consciência e, acima de tudo, com amor-próprio.
- Como tem sido a experiência de conhecer novos esportes?
Tem sido libertadora! Me redescobrir através do movimento é algo que eu nunca imaginei que traria tanta alegria. Cada novo esporte revela uma versão minha que eu ainda não conhecia. Eu me divirto, me desafio e me surpreendo com tudo o que sou capaz de fazer.
- E o tênis? De onde surgiu essa nova paixão?
Começou como uma brincadeira… fui experimentar e simplesmente me apaixonei. O tênis me traz foco, energia e uma conexão diferente com o meu corpo. É um esporte que exige atenção, concentração e estratégia — e isso tem tudo a ver com o momento que estou vivendo.
- Muitas pessoas ainda associam exercício apenas à estética. Como você enxerga isso hoje?
Essa associação vem de uma construção social e cultural muito forte, que ganhou força principalmente no século XX, com a indústria da beleza, da moda e do fitness vendendo um ideal de corpo “perfeito”. Por décadas, publicidade, televisão, redes sociais — e até certos discursos médicos — reforçaram a ideia de que o exercício serve, prioritariamente, para emagrecer ou “melhorar” o corpo.
Hoje, enxergo o exercício como um ato de cuidado. Com o corpo, sim — mas, principalmente, com a mente. O movimento me equilibra, me dá autoestima, confiança e disposição. A estética pode até ser uma consequência, mas o mais importante é como a gente se sente por dentro.
- Como é lidar com a expectativa das pessoas sobre seu corpo agora?
Aprendi a não carregar expectativas que não são minhas. As pessoas sempre vão ter opiniões, mas quem vive no meu corpo sou eu. Estou em paz com meu processo, com minhas escolhas e com as transformações que vêm acontecendo. Cada passo é meu, no meu tempo.
- O que você diria para outras mulheres que estão pensando em começar no esporte, mas têm medo do julgamento?
Diria para começarem mesmo com medo. O julgamento vai existir, mas ele não pode ser maior que o seu desejo de viver melhor. O esporte é para todo mundo. Nosso corpo é instrumento de potência, não de vergonha. Se joguem, se descubram — o mais bonito é estar em movimento.
- Se pudesse se definir neste momento, em uma palavra ou frase, qual seria?
Renascimento. Estou vivendo uma nova fase, com mais consciência, mais amor e mais vontade de ser feliz do meu jeito.
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