Flávio Augusto: “Sou movido por missão”

Anos depois, aquele jovem vendedor daria um passo decisivo rumo ao sucesso ao fundar a escola de idiomas Wise Up

24 out, 2025

Flávio Augusto da Silva é um dos grandes nomes quando o assunto é empreendedorismo. Fundador da Wise Up e presidente da Wiser Educação, holding que hoje fatura cerca de R$ 650 milhões e reúne marcas como Number One, Conquer, Aprova Total e MeuSucesso.com, o bilionário construiu sua fortuna do zero e se tornou uma referência no mundo dos negócios.

Antes de se tornar uma das vozes mais influentes do empreendedorismo brasileiro, Flávio Augusto era apenas um jovem da periferia do Rio de Janeiro tentando mudar o próprio destino. Aos 19 anos, iniciou sua trajetória na área de vendas de forma informal, oferecendo cursos de inglês por telefone — e só recebia comissão quando fechava um contrato.

Anos depois, aquele jovem vendedor daria um passo decisivo rumo ao sucesso ao fundar a escola de idiomas Wise Up — iniciativa que marcaria o início da trajetória que o levaria a figurar entre os empresários mais ricos do Brasil com um patrimônio estimado em R$ 1,4 bilhão em 2025, segundo a revista Forbes.

Ele credita a origem de sua veia empreendedora às raízes familiares. A avó, lavadeira que sustentou sozinha três filhos, foi seu primeiro exemplo de resiliência e coragem. Já da mãe, professora da rede pública, herdou o olhar atento para as oportunidades — e as primeiras lições sobre o valor de vender.

Um dos marcos da juventude de Flávio Augusto foi uma viagem ao Paraguai ao lado da mãe, quando decidiu comprar relógios para revender. A aposta deu certo: em apenas um mês, faturou mais do que os pais somavam juntos. Foi ali que percebeu que a arte de vender poderia ser seu verdadeiro superpoder.

Com a experiência acumulada em três décadas de empreendedorismo, Flávio Augusto relembra, em entrevista exclusiva à Lorena Magazine, os principais capítulos de uma trajetória que o consolidou como um dos empresários mais bem- sucedidos do mundo.



De vendedor de cursos de inglês a bilionário listado pela Forbes. Qual foi o maior ponto de inflexão da sua trajetória que acredita ter definido o empresário que é hoje?

“Acho que são vários pequenos pontos de inflexão do que um grande ponto de inflexão. Geralmente um ponto de inflexão ele começa de dentro para fora, então nos primeiros pontos de inflexão que me levaram a minha trajetória foram aqueles que me levaram a acreditar na minha autoconfiança, desenvolvendo a competência de comunicação de vendas. O primeiro deles foi quando eu tinha os meus 13 aos meus 16 anos, quando eu fiz concurso público. Me preparei três anos seguidos para fazer esse concurso e durante esse período de preparação eu me deparei com meu limite, que eu estava muito atrás, e aí é o momento que você pode desistir ou você vai acreditar, investir e estudar. Quando fui aprovado naquele concurso da Marinha, foi uma coisa que demonstrou para mim que eu era capaz de fazer uma diferença. Então isso foi uma base muito importante para mim”.

“O segundo ponto foi quando eu fui trabalhar na área de vendas de uma empresa. Eu aprendi a venda do ponto de vista profissional. Mas eu lembro que, quando eu tinha as metas que eu precisava bater, eu pensava: ‘Poxa, não são mais difíceis do que o concurso, então se eu consegui aquilo eu vou conseguir’, então me dediquei até conseguir. Sempre fui um cara muito dedicado para conseguir aquilo que eu

queria. Eu estava autoconfiante, aprendi a vender, entendi o mercado de educação, até que cheguei num ponto em que eu já liderava um time de mais de cento e poucos vendedores, mais de 20 gerentes de vendas e foi quando eu pedi demissão e saí daquela empresa para abrir minha própria empresa”. Então são vários pequenos momentos. Mas eu acho que o que tem muito valor é dizer que tudo começa de dentro para fora. A minha qualificação transformou, na realidade, o meu interno, a minha autoconfiança”.



Você costuma dizer que “estabilidade não existe”. De que maneira essa mentalidade foi determinante para enfrentar riscos e conquistar resultados extraordinários?

“Então, entender que a estabilidade não existe ajuda a gente a lidar com risco de outra forma. Porque 100% das situações em que nós nos encontramos são situações de risco, até aquelas situações que a gente acredita, que elas são seguras. Elas são ilusoriamente seguras. Não existe nada que nos dê absoluta segurança. Então entre estar dentro do risco, mas na estagnação ou estar assumindo um risco para crescer, eu prefiro assumir o risco para crescer, porque não fazer nada é um grande risco também. Então quando eu entendo que não existe estabilidade, eu lido com risco de uma maneira mais tranquila”.

O que o sucesso significa para você? Você já se considerou um homem de negócios de sucesso?

“Eu acho que eu me senti com muito sucesso quando eu passei no concurso, depois quando eu comecei a vender e depois quando eu abri a minha primeira escola. Então, quando eu faço uma turnê com 20 mil pessoas, acho que cada etapa é a realização de um pedaço desse sucesso, mas não acho que existe o sucesso como um lugar definitivo: ‘Olha, eu cheguei ao sucesso e acabou’. São conquistas que a gente tem a cada momento. Neste momento, meu objetivo é tal, aí a gente conquista aquele objetivo, depois a gente vai para um próximo, e por aí vai, né? Não sugiro que a pessoa se acomode, porque você vai experimentar essa conquista todas às vezes que você estiver se colocando numa situação de desafio.”

Se pudesse voltar no tempo, há algo que você faria de maneira diferente em sua trajetória empreendedora?

“Eu poderia dizer que eu faria coisas que hoje, com o conhecimento que eu tenho, eu talvez fizesse diferente, como, por exemplo: eu abri 24 escolas nos primeiros três anos em 15 capitais diferentes. Hoje, com o conhecimento que eu tenho e com a

experiência, talvez eu abrisse essas mesmas 24 escolas no máximo entre Rio de Janeiro e São Paulo. Eu precisava fazer aquilo para poder chegar a aprender coisas que aprendi, entendeu? Não tenho esse pensamento retroativo: ‘Ah, se eu tivesse voltado, se eu tivesse feito’. Eu poderia ter feito o que fiz mais rápido se eu tivesse o conhecimento que eu tenho hoje, mas eu não tinha, então não tem como.”

A Wiser Educação reúne marcas líderes como Wise Up, Number One, Conquer e MeuSucesso.com. Qual é a filosofia que sustenta a expansão desse império educacional?

“A Wiser Educação se concentra em empresas com foco em empregabilidade, então são cursos. É uma empresa que tem cursos de inglês, cursos para pós-graduação, soft skills, preparatório para residência médica, a gente é muito forte na área médica, ou seja, são cursos que têm foco em empregabilidade. Geralmente, operações com muita tecnologia, com margens altas. Esse é o perfil de negócio que a gente buscou para a Hold para formar o Wiser.”



Você já construiu e vendeu empresas bilionárias. Como decide a hora certa de vender um negócio e iniciar um novo ciclo?

“A venda de uma empresa, ela segue uma lógica diferente da economia real. A economia real, ela tem a ver com a demanda e o modelo que você desenvolve. Ou seja, você simplesmente performa com a estratégia que você cria e com o processo de vendas que você desenvolve. A economia pode estar boa e você está vendendo bem, ou a economia pode estar ruim e você está vendendo bem igual, porque a macroeconomia não tem influência sobre a economia real, sobre a performance do seu negócio. Já a venda de um negócio, ela é muito sensível à macroeconomia, então você não vai fazer um IPO, que é uma espécie de venda no negócio, e é menos provável que você faça uma outra operação e, se fizer, vai ser com valores menos atrativos no momento de macroeconomia desfavorável. Então, a venda de um negócio está muito mais sensível a essa questão macroeconômica. Como empresário, você sempre tem que estar pronto a qualquer momento para fazer um IPO, para fazer uma venda ou para fazer uma transação. Mas você vai estar sempre dependendo da macroeconomia”.

Sobre a Trinca, fale um pouco sobre esse encontro com Caio Carneiro e Joel Jota, que são dois grandes empreendedores e como vocês estão impactando todos os maiores empresários do país?

“Então, a gente começou fazendo um programa de performance em vendas na Wiser Educação e a gente começou a caminhar junto em cima desse produto. As competências que cada um tem nessa Trinca, elas são competências complementares, e a experiência que tivemos com esse produto foi muito positiva e a gente foi expandindo, percebendo que aquilo era pouco e que conseguíamos fazer mais e fomos expandindo, até que fizemos a Trinca. Depois nós fizemos a MLS, fizemos um programa de mentoria que é o CLAX CLUB, e aí tem sido bastante promissor. A própria MLS já tem 8 mil clientes de high tickets, de empresários, ou seja, tudo isso tem muito pouco tempo. A gente começou faz 3 anos só.”



Como você consegue equilibrar sua vida pessoal com as inúmeras responsabilidades de ser um bilionário?

“Eu não acho que é equilíbrio, eu acho que a gente concilia, a gente faz acordos. E tem também o outro ponto nessa questão empresarial que não é só o acordo, tem que ter gente capaz, gente competente. Então, por exemplo, a Weiser é tocada ali por um time. Tem que ter uma equipe.”

Se você fosse se definir em uma frase, qual seria?

“Eu sou uma pessoa que me movo por uma missão. Então, eu acho que eu me movo por um propósito. Eu gosto da ideia de que o que eu faço contribui com os empresários, porque é muito útil isso.

 

Créditos:

Fotógrafo João Menna

Mais notícias