Terra pode estar dentro de um vazio cósmico
Essa hipótese tem sido defendida por pesquisadores da Universidade de Portsmouth como possível solução para um dos maiores enigmas da física moderna

Um novo estudo apresentado durante a Reunião Nacional de Astronomia de 2025, realizada em Durham (Reino Unido), sugere que a Terra, juntamente com toda a Via Láctea, pode estar situada no interior de uma vasta região de baixa densidade no cosmos, um verdadeiro “vazio cósmico”. Essa hipótese tem sido defendida por pesquisadores da Universidade de Portsmouth como possível solução para um dos maiores enigmas da física moderna: a chamada tensão de Hubble.
A tensão de Hubble surge a partir da discrepância entre duas formas de medir a taxa de expansão do universo. Enquanto observações realizadas com galáxias próximas e supernovas indicam um ritmo acelerado, os dados baseados na radiação cósmica de fundo mostram uma velocidade consideravelmente menor. Essa divergência tem sido motivo de debate e questionamentos na cosmologia contemporânea.
A hipótese do vazio
Segundo o estudo coordenado pelo astrônomo Indranil Banik, a região na qual vivemos teria densidade cerca de 20% inferior à média do universo e se estenderia por aproximadamente um bilhão de anos‑luz de raio. A menor concentração de massa nessa bolha cósmica alteraria a gravidade local, gerando um fluxo de matéria para regiões mais densas ao redor. Como consequência, objetos dentro do vazio se afastariam mais rapidamente, criando a ilusão de expansão acelerada ao nosso redor.
A hipótese foi apresentada no Encontro Nacional de Astronomia (NAM) de 2025 da Royal Astronomical Society, em Durham, e pode resolver um dos maiores enigmas da cosmologia moderna: a chamada tensão de Hubble , uma discrepância entre as medições da expansão do universo em seus… pic.twitter.com/XUYXbwQYEe
— Astronomiaum (@astronomiaum) July 9, 2025
Post sobre a pesquisa e a tensão de Hubble (Foto: Reprodução/X/@astronomiaum)
A equipe utilizou medições de oscilações acústicas bariônicas, ecos do Big Bang que ficaram preservados como padrões fixos no tecido do espaço-tempo, para testar a hipótese. Esses registros, combinados com observações de desvio para o vermelho em galáxias próximas, indicaram um ajuste que favoreceu o modelo do vazio em dezenas de milhões de vezes mais probabilidade do que o modelo homogêneo tradicional adotado por missões como a do satélite Planck.
Novos testes científicos
Caso essa hipótese se confirme, as implicações seriam profundas. Primeiramente, a explicação para a tensão de Hubble ganharia base física: estaríamos observando uma expansão local distorcida pela nossa posição no vazio. Em segundo lugar, a estimativa da idade do universo, atualmente calculada em cerca de 13,8 bilhões de anos, poderia ser revisada, ajustando margens de erro e aprimorando cronogramas cosmológicos.
Os pesquisadores planejam comparar o modelo do vazio cósmico com outras abordagens, como o uso de cronômetros cósmicos, galáxias antigas que não formam mais estrelas. A espectroscopia dessas galáxias permite estimar suas idades e, ao cruzar essas informações com a luz emitida (redshift), pode-se reconstruir a história da expansão, testando se os dados coincidiriam com o padrão previsto pela hipótese de vazio.
Até o momento, a ideia segue controversa entre especialistas, pois contraria o princípio cosmológico de homogeneidade em grande escala. No entanto, os novos dados vindos do NAM 2025 e estimativas robustas tornam o modelo viável para futuras confirmações ou refutações científicas.