Governo avalia realizar conversa entre Lula e Trump por videoconferência

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta semana ter sentido uma “ótima química” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A declaração foi feita após um rápido cumprimento entre os dois na sede da ONU, em Nova York. Segundo o próprio Trump, a conversa durou menos de um minuto, mas foi suficiente para que ambos indicassem a possibilidade de um encontro mais estruturado já na próxima semana.

No entanto, a avaliação do governo brasileiro é de que a reunião não deve ocorrer presencialmente. Fontes da diplomacia em Brasília apontam que a tendência é que a conversa seja conduzida por telefone ou videoconferência, como forma de evitar constrangimentos e de acelerar as negociações. Essa seria a primeira conversa direta entre os dois presidentes desde que Trump reassumiu a Casa Branca.

Entre os principais temas em pauta está o tarifaço de 50% imposto pelo governo americano sobre produtos brasileiros. Além disso, Trump sancionou recentemente autoridades do Executivo e do Judiciário do Brasil, medida que gerou forte repercussão em Brasília e acentuou as tensões diplomáticas entre os países.

Diplomacia brasileira adota postura cautelosa

No Itamaraty, a orientação é de prudência. A cúpula diplomática entende que o momento exige uma preparação cuidadosa para evitar que a reunião resulte em desgaste político. A lembrança de episódios recentes envolvendo outros líderes mundiais, como Volodymyr Zelenski e Cyril Ramaphosa, que foram alvo de constrangimentos públicos por parte de Trump, serve como alerta.

Para os diplomatas brasileiros, a estratégia é criar um ambiente seguro para que Lula não seja colocado em situações desconfortáveis. Nesse sentido, a opção por uma reunião virtual ganha força, já que reduz a exposição pública e facilita o controle sobre os termos do diálogo. O objetivo é assegurar que as pautas centrais — tarifas e sanções — sejam tratadas de maneira clara e objetiva.

Por parte dos Estados Unidos, a porta-voz Amanda Robertson declarou que a iniciativa de organizar a reunião partiu do breve contato entre os presidentes. Segundo ela, caberá às equipes diplomáticas definir os detalhes. Robertson ainda destacou que Washington vê a relação comercial com o Brasil como um tema urgente e que a renegociação de tarifas estará no centro da conversa.

Lula reforça defesa da democracia e da soberania

Em discurso na Assembleia-Geral da ONU, Lula respondeu indiretamente às ações de Trump, afirmando que a democracia e a soberania brasileira são “inegociáveis”. O presidente também classificou como “inaceitável” qualquer tentativa de enfraquecer o Judiciário e descartou a possibilidade de anistia para ataques contra as instituições democráticas.


Confira discurso completo de Lula na Assembleia Geral da ONU (Vídeo: Reprodução/YouTube/G1)

A fala de Lula foi interpretada como um recado direto ao governo americano, que mantém uma postura crítica às recentes decisões judiciais no Brasil, especialmente a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Trump, aliado de Bolsonaro, já havia demonstrado insatisfação com a condução do processo.

A viagem de Lula a Nova York, a primeira desde o início da crise tarifária, também teve impacto nos mercados. O dólar recuou para R$ 5,27 após o sinal de aproximação entre os dois países, e a Bolsa de Valores de São Paulo atingiu 146 mil pontos pela primeira vez. O movimento reflete a expectativa de que, mesmo em meio a divergências políticas, Brasil e Estados Unidos busquem um canal de diálogo para evitar maiores danos econômicos.

Trump critica ONU e defende ação concreta para encerrar guerras

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez duras críticas à Organização das Nações Unidas (ONU) durante seu discurso na Assembleia Geral nesta terça-feira (23). Segundo ele, a instituição possui “muito potencial“, mas ainda está longe de alcançar a relevância prática que deveria ter no cenário global. Para Trump, o excesso de discursos não se traduz em soluções concretas.

Durante sua fala, o presidente ressaltou que “palavras vazias não encerram guerras”, afirmando que apenas ações efetivas podem mudar a realidade dos conflitos armados. Essa declaração foi feita diante de líderes mundiais, em um tom de cobrança direta ao papel da ONU na mediação de crises internacionais.

Trump buscou reforçar sua visão pragmática de política externa, sugerindo que a comunidade internacional precisa de medidas mais assertivas e não de discursos diplomáticos que se acumulam sem resultados tangíveis.

Ações e conquistas no governo

O presidente norte-americano aproveitou a oportunidade para destacar resultados de sua administração. De acordo com Trump, os Estados Unidos conseguiram encerrar sete conflitos armados apenas nos primeiros sete meses de seu segundo mandato. Sem citar diretamente os países envolvidos, ele argumentou que sua gestão prova como uma liderança firme pode gerar resultados rápidos.

Essas declarações foram vistas como uma tentativa de consolidar sua imagem como um líder que privilegia a ação em detrimento da retórica. Ao mesmo tempo, Trump reforçou o papel dos Estados Unidos como protagonistas globais, capazes de influenciar diretamente a estabilidade internacional.

No entanto, críticos apontam que o presidente omitiu detalhes sobre as negociações ou condições que levaram ao fim dos confrontos, levantando questionamentos sobre a veracidade ou durabilidade de tais conquistas diplomáticas.


Confira discurso completo de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU (Vídeo: Reprodução/YouTube/CNN Brasil)

Chamado à cooperação internacional

Apesar do tom crítico, Donald Trump também buscou abrir espaço para cooperação. Ele declarou estar disposto a “oferecer a mão da liderança e amizade dos Estados Unidos para qualquer ação nesta assembleia que esteja disposta a se juntar a nós para fazer um mundo mais seguro e mais próspero”.

O discurso combinou crítica e convite, uma estratégia que pode ser interpretada como pressão sobre os demais países para alinharem suas agendas às prioridades norte-americanas. Ao mesmo tempo, sinalizou abertura para parcerias em iniciativas que efetivamente promovam segurança global.

A fala repercute em um momento delicado, em que a ONU enfrenta questionamentos sobre sua capacidade de agir diante de crises internacionais prolongadas. Ao desafiar a instituição em seu próprio palco, Trump mais uma vez reforça sua postura de liderança assertiva e foco em resultados imediatos.