Durante o último sábado (5) a 26ª edição do Festival do Rio, um dos mais importantes do cenário audiovisual da América Latina, recebeu a première do longa “Virginia e Adelaide”, dirigido por Jorge Furtado e Yasmin Thayná e estrelado pela dupla Sophie Charlotte e Gabriela Corrêa. A estreia aconteceu no ilustre Cine Odeon, na Cinelândia, um dos históricos cenários do festival ao longo dos anos e reuniu parte do elenco, equipe e convidados especiais.
“Virginia e Adelaide” traz luz à trajetória de duas importantes mulheres na história da psicanálise brasileira: Virgínia Bicudo (Gabriela Corrêa), uma mulher negra, professora universitária, pioneira nos estudos sobre racismo no Brasil, que se torna a primeira paciente brasileira de Adelaide Koch (Sophie Charlotte), uma mulher judia que vem para o Brasil fugindo dos horrores da Alemanha nazista. Quando as duas se encontram, surge entre elas uma poderosa relação, que ultrapassa a amizade e se torna pilar fundamental para a fundação da psicanálise no país, abrindo espaço para as futuras gerações.
Confira as entrevistas na íntegra
Durante a première, as atrizes protagonistas, Sophie Charlotte e Gabriela Corrêa, conversaram com o Lorena.R7 sobre a importância de uma obra como esta, para que a sociedade conheça e valorize mais a potência de mulheres como Virginia Bicudo e Adelaide Koch.
Sophie Charlotte nos conta a importância para ela, enquanto atriz, viver a psicanalista Adelaide na obra: “Eu acho que é essa dicotomia na nossa história, dramaturgia, entendimento histórico de quem formou o nosso país. Principalmente a história de mulheres silenciadas, muito por conta disso. Foi incrível poder contar essa história”, começa a artista.
Yasmin Thayná, Sophie Charlotte, Gabriela Corrêa, Jorge Furtado e Nora Goulart | Foto: Christian Rodrigues / Festival do Rio
“Quem me convidou foi o Jorge Furtado, ele que descobriu essa história, teve a presença maravilhosa de espírito na intensidade dele da escrita, de desenvolver esse roteiro, e junto com a Yasmin Thayná, uma diretora maravilhosa, co-dirigiram esse projeto. E eu estou em cena com a Gabriela Corrêa, que eu não conhecia, mas que é uma atriz extraordinária de Brasília, que fez a Virgínia Bicudo de um jeito emocionante.
É um privilégio como atriz ter uma história dessas nas mãos e poder refletir sobre tantas questões, questões históricas, questões estruturais, e ao mesmo tempo falar de afeto, falar de um encontro, de uma amizade poderosa, que ultrapassa barreiras culturais entre as duas, que se estabelece. Uma parceria que dura a vida toda. São temas muito importantes para mim. Foi muito poderoso o processo”, finaliza Charlotte.
Sophie Charlotte no Festival do Rio| Foto: Christian Rodrigues / Festival do Rio
Gabriela Corrêa, atriz negra, também nos conta a importância de trazer luz à história da pioneira Virgínia Bicudo, que foi figura indispensável para o desenvolvimento e fundação da psicanálise no Brasil.
“A Virgínia é realmente uma mulher que a gente precisa conhecer. Eu não conhecia, eu acho que eu e muita gente, assim, quando eu conheci o roteiro, não fazia ideia de que ela existiu no Brasil e da importância dela”, começa Gabriela, que continua:
“À medida que a gente foi estudando, trabalhando o roteiro, eu fiquei, ‘meu Deus, como que não existe uma avenida Virgínia Bicudo?’ Como que ela não está por aí? Como que a gente não está estudando essa mulher? Porque eu acho que ela sofreu um epistemicídio, de alguma forma, acadêmico.
Gabriela Corrêa no Festival do Rio| Foto: Christian Rodrigues / Festival do Rio
E eu espero que agora, com esse filme, que também homenageia o trabalho dela, que ela possa ressurgir, as pesquisas dela. Que o trabalho dela, que a importância dela ressurja não só no ambiente acadêmico, não só no ambiente da psicanálise, mas em todo o ambiente social em que a gente está falando de saúde mental e racismo, e saúde mental e a população negra.
Ela foi muito visionária. Estava falando ainda agora sobre como tem essa dimensão de vanguarda uma mulher negra nos anos 30, nos anos 40, está falando de saúde mental das populações negras. Ela sempre foi uma mulher de muita luta, de muita coragem, e o Brasil precisa conhecê-la, tanto ela como a Adelaide”, finaliza.
