Mônica Anjos celebra o candomblé e a ancestralidade em desfile na Casa de Criadores

Na 56ª edição da Casa de Criadores, a estilista baiana Mônica Anjos apresentou uma coleção que ultrapassa os limites da moda convencional. Intitulada “Ode Kaiodè”, a proposta transformou a passarela em um espaço de reverência à ancestralidade afro-brasileira, com inspiração central no orixá Oxóssi, símbolo da caça, das florestas e do conhecimento no candomblé.

Destaques do desfile

O desfile foi marcado por uma estética fortemente simbólica, com elementos como arcos, flechas e referências aos caçadores que evocam a presença do orixá homenageado. Mais do que roupas, a estilista apresentou uma manifestação cultural repleta de significado espiritual, histórico e identitário.


Imagens das criações (Foto: reprodução/Instagram/@voguebrasil)

Além de Oxóssi, a coleção prestou tributo a figuras importantes da cultura afro-brasileira, como Mãe Stella de Oxóssi e o multiartista Agamenon de Abreu. As peças foram produzidas a partir de técnicas artesanais como tricô, palha e bordados manuais, o que conferiu um caráter único à coleção. Alfaiatarias em linho cru, vestidos fluidos, pregas e shapes balonê remetem à natureza, enquanto os tecidos evocam movimentos das águas e das matas, em conexão com os fundamentos do candomblé.

Representatividade

Com um casting majoritariamente composto por modelos negros, a apresentação reforçou a importância da representatividade na moda nacional. Os acessórios – franjas, amarrações e adornos inspirados na natureza – ampliaram a força visual dos looks e acentuaram a ligação espiritual proposta por Mônica Anjos.

“Ode Kaiodè” reafirma a moda como linguagem política e emocional. Nas mãos da estilista, a passarela se torna um território sagrado, onde o passado é lembrado, o presente é afirmado e o futuro é imaginado com raízes profundas.

Matéria por Giovanna Oliveira

Rober Dognani transforma memórias em coleção teatral na Casa de Criadores

Na 56ª edição da Casa de Criadores, o estilista Rober Dognani apresentou uma coleção marcada pela carga emocional de suas memórias familiares. Inspirado por histórias íntimas, entre elas a trajetória de sua “nonna cega” deixada na Espanha e episódios de infância impactantes, o designer construiu um desfile que mistura moda e narrativa pessoal.

Nova coleção

A nova coleção de Dognani navega por referências barrocas, renascentistas e góticas, resultando em silhuetas dramáticas, capas volumosas, vestidos semitransparentes e jaquetas com ombros estruturados. Os elementos característicos do estilista — como o uso do látex com pedrarias, bordados e renda — aparecem com ainda mais teatralidade e riqueza de texturas.


Imagens do desfile (Vídeo: reprodução/Instagram/@masomagazine/@roberdognani)

A colaboração com Felipe Fanaia trouxe à passarela jeans oversized e peças estruturadas que criaram contrastes visuais marcantes. Essa fusão de estilos resultou em uma estética gótica intensa, com volumes exagerados, transparências e construções arquitetônicas que tratam o corpo como palco para a expressão emocional.

Apresentação memorável

A trilha sonora do desfile foi uma versão da música “I Will Survive”, de Gloria Gaynor, que reforçou o tom de resistência e permanência da apresentação. O styling assinado por Flávia Pommianosky e Davi Ramos foi desenvolvido de forma colaborativa, sem divisão de tarefas, permitindo uma colagem visual impactante e coesa.

Mais do que apresentar roupas, Dognani constrói uma experiência performática. A passarela se tornou um espaço de reconexão afetiva, onde a moda funciona como linguagem política, emocional e ancestral. Através de rendas, volumes e gestos estilísticos, o estilista reafirma a potência da moda autoral brasileira como espaço de memória e resistência.

Matéria por Giovanna Oliveira