Terceiro dia da Casa de Criadores celebra a moda autoral com propostas ousadas e transformadoras

Realizado ontem (24), o terceiro dia da Casa de Criadores reafirmou o propósito do evento: ser um espaço pulsante de experimentação, liberdade criativa e descoberta de novas vozes da moda brasileira. Com desfiles marcantes, a programação foi além da performance ou do figurino e apresentou coleções com identidade própria e propostas autorais potentes. Dois nomes se destacaram na noite — Casa Paganini e Estúdio Traça — por mostrarem como a moda pode ser profundamente pessoal, provocadora e capaz de transformação.

Casa Paganini estreia com coleção íntima e estruturada

A estreia da Casa Paganini abriu a noite com uma apresentação sensível e bem elaborada. À frente da marca está Guilherme Paganini, ex-modelo que agora assume o papel de diretor criativo e mergulha em sua própria trajetória para construir uma moda autêntica.

Inspirada em memórias familiares e vivências pessoais, a coleção se destacou especialmente pelas peças masculinas. A combinação entre alfaiataria, casual e streetwear gerou silhuetas inovadoras e bem pensadas. O styling conectou diferentes fases e referências de forma sutil e sofisticada, entregando um resultado coeso e surpreendente — sem recorrer ao óbvio.


Casa Paganini mistura alfaiataria, casual e street nos looks apresentados na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@ffw)

Estúdio Traça reinventa o jeans com atitude e desejo

Na sequência, o Estúdio Traça, sob direção criativa de Gui Amorim, apresentou uma releitura ousada do jeans. Longe do uso convencional, o denim surgiu como matéria-prima de uma moda autoral: com volumes amplos, formas balonês, patchworks sensuais e assimetrias bem resolvidas.

A coleção destacou o potencial do upcycling como ferramenta criativa refinada, revelando como o reaproveitamento pode ser sinônimo de desejo e inovação, sem cair em estéticas engessadas. O resultado foi uma proposta vibrante, expressiva e carregada de personalidade.


Estúdio Traça traz o jeans como peça principal em desfile da Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@ffw)

Esses dois desfiles traduzem com força a missão central da Casa de Criadores: celebrar a diversidade, valorizar a autoria e impulsionar talentos que não têm medo de provocar, emocionar e propor novos caminhos para a moda brasileira.

Matéria por Sara C Melo (In Magazine ig)

Casa de Criadores 56 transforma o CCSP em palco de moda, memória e futuro

No segundo dia da 56ª edição da Casa de Criadores, o Centro Cultural São Paulo se transformou em uma cápsula do tempo, onde o futurismo, o humor e a alfaiataria se entrelaçaram a cada look. Marcaram presença nas passarelas as marcas Shitsurei, Érico Valença, Cynthia Mariah, Marlô Studio, Guilherme Dutra e Visén. Realizada desde 1997, duas vezes ao ano, a semana de moda segue como vitrine essencial para marcas independentes e espaço fértil para discussões sociais, como gênero, cor e sustentabilidade — tudo isso por meio da moda.

Os desfiles

A Shitsurei abriu a noite com uma estética espacial que reinterpretou a era Space Age dos anos 60. Jaquetas com ombreiras metálicas, tecidos com brilho iridescente e recortes geométricos compuseram a coleção, complementada por um painel de LED interativo, desenvolvido pelo coletivo SPARK, que projetava constelações digitais enquanto os modelos desfilavam por corredores espelhados.


Desfile Shitsurei na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)

Em seguida, Érico Valença levou o público a uma viagem emocional: suas peças de sarja resinada — técnica de sua autoria — ganharam um efeito holográfico que lembrava o vinil das roupas dos avós. As silhuetas amplas e os casacos de gola alta evocavam nostalgia, enquanto os bolsos utilitários e fechos magnéticos traziam um toque tecnológico.


Desfile Érico Valença na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)

Cynthia Mariah injetou irreverência na noite com sua trupe de palhaços contemporâneos. Listras em preto e branco, detalhes em neon e acessórios infláveis criaram um visual cômico e crítico, desafiando o público a repensar o papel do riso diante do caos social.


Desfile Cynthia Mariah na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)

O Marlô Studio, sob direção de Márcio, criou uma fusão entre paraíso e distopia: rendas florais sobrepostas a jaquetas de PVC fosco em tons vibrantes sugeriram uma rave às margens do Éden. A alfaiataria, repensada em cortes fluidos, foi temperada com corsets e hot pants prontos para encarar uma madrugada techno.


Desfile Marlo na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)

Guilherme Dutra apresentou “Poupée”, uma homenagem às bonecas francesas de sua avó. Volumes dramáticos e drapeados afetivos costuravam memórias à linguagem contemporânea. Logo depois, a Visén exibiu “Visceral”, coleção inteiramente inspirada em imagens criadas por inteligência artificial. Grafismos pixelados e padrões xadrez compuseram um mosaico distópico, refletindo a fusão entre caos urbano e lógica algorítmica.


Desfile Guilherme Dutra na Casa de Criadores (Foto: reprodução/Instagram/@casadecriadores)

Estreias e sustentabilidade

Entre as novidades, o destaque foi o foco em sustentabilidade: diversas grifes apostaram em tecidos de algodão orgânico e fibras de PET reciclado, exibidos em uma vitrine instalada ao lado da passarela. A CDC 56 segue até domingo, reforçando seu papel como laboratório criativo, onde moda e tecnologia dialogam com memória, humor e consciência ambiental.

A importância da Casa de Criadores

Mais do que uma semana de moda, a Casa de Criadores se consolidou como um espaço essencial para vozes diversas: negros, indígenas, pessoas trans e corpos fora do padrão têm encontrado ali uma plataforma de expressão legítima. Essa representatividade aparece tanto no perfil dos estilistas quanto nas múltiplas narrativas traduzidas em suas coleções — transformando a passarela em um espaço de debate e afirmação cultural.

A atual edição, com 33 desfiles em formato de U, é mais do que uma mostra de tendências: é um manifesto de autoralidade. A CDC 56 reafirma a força da moda brasileira como ferramenta de identidade, resistência e inovação, costurando passado e futuro com criatividade e propósito.

Matéria por Luisa Furlan (In Magazine ig)