Ateliê Mão de Mãe traz energia vibrante da Tropicália à passarela da SPFW

Em meio a debates sobre conservadorismo e liberdade de expressão que temos vivido nos últimos tempos, o Ateliê Mão de Mãe apresentou no último sábado (18), a coleção ‘Manifesto Tropical’, na São Paulo Fashion Week. Vinicius Santana e Patrick Fortuna homenagearam a Tropicália. Movimento cultural e artístico dos anos 1960 que desafiou por meio da música e arte o autoritarismo vigente na época.

Estética do tropicalismo na passarela

Mantendo o crochê como carro-chefe, a coleção trouxe as técnicas manuais, características da marca, em cores mais vibrantes como vermelho e coral. O crochê foi visto em peças inteiras e em detalhes como flores, babados, franjas e aplicações; com destaque especial para a técnica de renda artesanal conhecida como frivolité, desenvolvida pelos próprios estilistas da marca.


Desfile da AMM na SPFW N60 (Foto: Reprodução/SPFW/Marcelo Soubhia/agfotosite)

A inspiração para as peças veio dos precursores da Tropicália: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e principalmente Gal Costa. “A gente estudou muito o que eles usavam e consumiam naquela época, então a gente vai do top curto à saia longa, trazendo muita referência de Gal, com babados, franjas, aplicações e detalhes artesanais, mantendo os códigos fiéis da marca.”, conta Vinicius Santana em entrevista à Capricho.


Desfile da AMM na SPFW N60 (Foto: Reprodução/SPFW/Marcelo Soubhia/agfotosite)

Além do artesanato, o linho também ganhou protagonismo na coleção e esteve presente em camisas e calças. A grande novidade desta temporada foi a presença de camisetas, que surgiram estampadas com frases que remetem ao tropicalismo, como “Divino Maravilhoso” sucesso imortalizado na voz de Gal Costa em 1969. A inclusão de camisetas ao catálogo foi uma estratégia para democratizar o acesso à marca. Bem como a parceria da grife com a tapeçaria Tach Rug, que enfeitou a passarela com tapetes que complementaram a narrativa do desfile no intuito de aproximar públicos mais jovens ao design e arquitetura.

 Arte como expressão de resistência e reflexão

Nos últimos anos o conservadorismo tem se fortalecido e influenciado diversos eixos da sociedade. Entretanto, manifestações artísticas seguem como forma de resistência e diálogo. O sucesso recente do filme ‘Ainda Estou Aqui’, de Walter Salles, que retrata as dores da ditadura militar e defende a importância democracia, é um exemplo disso e mostra como a arte tem papel essencial como instrumento político. Na passarela, Patrick e Vinicius retomaram esse espírito de crítica social presente no filme ao escolherem a Tropicália como referência artística.


 Desfile da AMM na SPFW N60 (Vídeo: Reprodução/Instagram/@ateliemaodemae)

“Esse tema surge da nossa preocupação com a política mundial. Há também um olhar muito preciso para o passado, [para o ano de] 1969 e o quão importante foi a gente ter o movimento Tropicália… então a coleção parte dessa memória, de a gente regatar também Gal, Bethânia, Gil e Caetano e a importância deles para a música, a arte e a moda como um todo.”, afirma Patrick Fortuna.

Assim como os artistas tropicalistas, que misturavam elementos da cultura nacional com influências estrangeiras para enfrentar o autoritarismo. Os estilistas celebraram o Brasil com cores vibrantes, crochês elaborados e técnicas manuais que exaltam nossa cultura.