Felca revela que recusou publicidades após documentário sobre adultização

Felipe Bressanim Pereira, mais conhecido como Felca, participou do programa de entrevistas Conversa com Bial na madrugada da última quarta-feira (27), após toda a repercussão de seu vídeo sobre adultização infantil. Durante a entrevista, o influenciador falou sobre a sua infância, deu detalhes de o porquê ter recusado propostas de publicidade e falou sobre ameaças de morte que tem recebido.

Infância de abandono

O influenciador revelou que se inspirou na própria infância para produzir o vídeo Adultização, publicado no início de agosto. Ele contou que quis chamar a atenção para a exploração de menores nas redes sociais porque foi vítima de abandono quando criança. “Fui uma criança muito sozinha, abandonada. Que não tinha voz e, quando falava, não tinha ninguém para escutar. Você me deu um questionamento. Talvez, sim… Eu fiz pela criança que fui. E fiz porque existem crianças e adultos por aí que foram também a criança que fui: Sozinha, sem voz. E se ninguém dá voz a essa criança, ela cresce desamparada, sem perspectiva”, refletiu.


Felca durante entrevista ao programa Conversa com Bial (Vídeo: Reprodução/Instagram/@conversacombial)

Um minuto de silêncio

Elogiado por Bial por sua coragem, Felca revelou que foi o pior mês de sua carreira, financeiramente. “Eu sou influenciador. A maior parte da minha renda vem de publicidade. Nesse ínterim, nessas duas semanas, eu perdi, recusei ou declinei todas as publicidades que chegavam até mim. Então, neste mês, não tive qualquer tipo de renda. Para os negócios não foi bom. Foi quase um minuto de silêncio. Nesse momento a gente tem que falar sobre algo mais importante. Não quero chegar e falar, “compre tal coisa”, pegaria mal, eu iria me descredibilizar. Nesse momento estou fazendo algo mais importante do que eu ou da minha renda. O meu silêncio é para focar nessa causa”.  Admitiu.


Felca afirma vir sofrendo ameaças (Vídeo: Reprodução/Instagram/@conversacombial)

Desdobramentos da denúncia

Duas semanas após a publicação do documentário, Felca disse ter recebido mensagens de apoio, mas também se tornou alvo de ataques virtuais e até ameaças de morte. “Existem pessoas que não estão felizes com o que faço, o que fiz. Elas estão se sentindo contrariadas e dizem que querem me matar, não querem que eu continue vivo ou continue falando”.

O vídeo Adultização já ultrapassou mais de 48 milhões de visualizações no Youtube em apenas duas semanas e segue gerando debates na sociedade e projetos de lei sobre os limites da exposição infantil na internet.

Para Felca, a polêmica marca um divisor de águas em sua trajetória “Talvez eu esteja perdendo financeiramente, mas estou ganhando em consciência e propósito”. Afirmou o influenciador.

O vídeo também culminou na prisão do influenciador paraibano Hytalo Santos, no último dia (15), alvo de uma investigação contra crimes envolvendo crianças e adolescentes.

 

 

Influenciador Hytalo Santos e seu marido dizem não entender o motivo da prisão

O influenciador digital Hytalo Santos e seu marido, Israel Natã Vicente (MC Euro), falaram pela primeira vez à Justiça após a prisão preventiva de ambos, declarando não entender o motivo pelo qual foram detidos.

A declaração foi feita durante uma audiência de custódia realizada por videoconferência no último sábado (16), em São Paulo. O casal foi preso na sexta-feira (15) em Carapicuíba, na Grande São Paulo, em cumprimento a um mandado de prisão expedido pela 2ª Vara da Comarca de Bayeux, na Paraíba, sob graves acusações de exploração sexual infantil, tráfico humano e exploração de trabalho infantil.

A audiência de custódia e a declaração do casal

Durante a audiência, que durou cerca de sete minutos, um juiz questionou o casal sobre a prisão e a existência de violência policial. Israel Vicente descreveu a prisão como “tranquila” e ambos confirmaram que não sofreram qualquer tipo de violência por parte da polícia. Hytalo se manifestou, dizendo que ele e seu marido estavam em São Paulo e que recebiam “inúmeras” pressões, afirmando que “a gente tá aqui sem nem entender o porquê“. Ele sugeriu que a prisão estaria relacionada com o que “o povo tá falando na mídia”. O juiz considerou que a prisão ocorreu de forma legal, mantendo a detenção preventiva do casal.


Vídeos da audiência foram fornecidos pela Polícia Civil de São Paulo e pelo Ministério Público da Paraíba (Vídeo: reprodução/X/@choquei)

A repercussão das graves acusações

As investigações contra Hytalo e Israel, conduzidas pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), estão em andamento desde o final de 2024. Contudo, o caso ganhou ampla repercussão nacional após um vídeo do youtuber Felca (Felipe Bressanim), que com mais de 50 minutos de duração, expôs supostas práticas de “adultização” e sexualização de crianças e adolescentes nos conteúdos produzidos por Hytalo e por outros perfis nas redes sociais. Segundo advogados criminalistas, o vídeo de Felca intensificou as investigações e impulsionou a ação policial.

Posição da defesa e próximos passos

Na última segunda-feira (18), Hytalo e Israel foram transferidos para o Centro de Detenção Provisória (CDP) 1 de Pinheiros, em São Paulo, unidade que abriga presos por crimes contra a dignidade sexual. O juiz que acompanha o caso na Paraíba determinou que eles sejam transferidos para uma prisão no estado nordestino o mais rápido possível.

A defesa de Hytalo e Israel, liderada pelos advogados Felipe Cassimiro, Ricardo Ueno e Sean Abib, nega todas as acusações e classifica a prisão como “genérica” e “ilegal“, alegando a ausência de provas concretas e a falta de acesso aos autos do processo. Os advogados protocolaram pedidos de habeas corpus tanto no Tribunal de Justiça da Paraíba quanto no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que foram negados. As investigações continuam, e os celulares e o veículo apreendidos serão periciados.

Denúncia de Felca estimula projeto de regulamentação das big techs

A denúncia feita pelo youtuber Felca sobre a exploração de crianças nas redes sociais se tornou um tema de debate público no Brasil. O vídeo expôs a “adultização infantil” e a negligência de plataformas como Instagram, YouTube e TikTok, que segundo Felca, permitem a proliferação de conteúdos que atraem pedófilos.

O governo federal anunciou que enviará ao Congresso um projeto de lei para regulamentar as big techs e responsabilizá-las por permitir que crimes sejam cometidos em suas plataformas.

O impacto da denúncia de Felca

O vídeo de Felca, intitulado “adultização”, atingiu 33 milhões de visualizações ao mostrar como crianças e adolescentes são expostos na internet. O youtuber detalhou como pais e responsáveis, em busca de engajamento e monetização, incentivam seus filhos a produzir conteúdos com conotação sexual. Ele apontou para o papel dos algoritmos nas plataformas, que ao identificarem o interesse de usuários por vídeos com crianças, especialmente em situações sugestivas, os oferecem mais e mais conteúdos semelhantes.

Esse fluxo cria um ambiente favorável à pedofilia, em que diversos perfis com esse comportamento se encontram e, por códigos, compartilham ainda mais conteúdos de crianças e adolescentes. Há plataformas, como o aplicativo de mensagens Telegram, já conhecidos pela falta de moderação e pouca cooperação com as autoridades policiais quando solicitado, que são muito utilizados para atividades criminosas.


Vídeo-denúncia de Felca sobre a “adultização” de menores nas redes sociais (Vídeo: reprodução/Youtube/@felcaseita)

Ações começam a ser movidas

Felca citou casos específicos, como o do influenciador Hytalo Santos, que é acusado de dar benefícios como celulares e moradia para as famílias dos jovens que ele filmava e publicava nas redes sociais. Nesta segunda-feira (12.08), o Ministério Público da Paraíba (MPPB) entrou com uma ação civil pública na Justiça para que Hytalo Santos perca o acesso às redes sociais e seja proibido de ter contato com menores de idade.

A denúncia de Felca também motivou a apresentação de mais de 30 projetos de lei no Congresso, incluindo a proposta de uma “Lei Felca” para criminalizar a sexualização infantil e aumentar a punição para crimes digitais. A ampla repercussão, no entanto, gerou críticas de parte da direita política, que vê na pauta um “pretexto” para justificar a censura e o controle estatal da internet.

A proposta do Governo é responsabilizar as big techs

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, anunciou que o presidente Lula enviará em breve um projeto de lei ao Congresso visando regulamentar as big techs. A medida busca responsabilizar as plataformas por permitirem a ocorrência de crimes como pedofilia, tráfico de crianças e fraudes e ainda lucrarem. Segundo Costa, as redes sociais não podem “ganhar muito dinheiro patrocinando, estimulando e viabilizando crime” sem a devida fiscalização. A proposta visa alterar o Marco Civil da Internet para exigir moderação mais rigorosa, relatórios de denúncias e mecanismos de verificação de idade, além de aplicar multas de até 10% do faturamento em casos de negligência.

Enquanto apoiadores da regulação, como o ministro Jorge Messias (AGU), defendem a medida como essencial para proteger vulneráveis e combater algoritmos manipulados, os críticos alertam para o risco de censura. Opositores da proposta, em sua maioria da direita política, argumentam que as leis existentes, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Código Penal, já são suficientes para punir crimes como a pedofilia, e que o foco deveria ser a fiscalização policial, e não a criação de leis que possam limitar a liberdade de expressão.