Elza Soares foi uma das vozes mais marcantes da música popular brasileira. A cantora faleceu aos 91, na última quinta-feira (20). Em uma trajetória de altos e baixos, Elza marca a música brasileira há quase 70 anos e inspira gerações.
“Eu quero cantar até o fim”, afirma Elza Soares da Conceição (1930-2022) em um de seus maiores sucessos ‘Mulher do fim do mundo’. Elza se apaixonou pela música ainda criança, mas sua infância foi interrompida por um casamento precoce, aos 12 anos. Só em 1953 Elza deu seus primeiros passos na música, no programa de calouros de Ary Barroso, da Rádio Tupi.
Nessa época, a cantora se encontrava em situação de extrema pobreza, e, com uma roupa improvisada com alfinetes, Elza subiu ao palco e cantou ‘Lama’, canção de Paulo Marques e Aylce Chaves. A cantora ficou em primeiro lugar, e a partir dali, passou a ganhar vida com a música. No início da carreira, também trabalhou na Orquestra Garam Bailes, como crooner, até 1954. Em 1959 foi contratada para trabalhar na Rádio Vera Cruz e, no ano seguinte, atuou no Festival Nacional da Bossa Nova. Em 1961, Elza lançou seu primeiro disco ‘O samba é Elza Soares ‘. O nome do álbum retrata como a cantora tinha se tornado notável para o samba, gênero que atuou no início de sua carreira.
Elza Soares no ínicio de sua carreira (Foto: Joaquim Firmino)
Em 1969, a cantora foi a primeira mulher puxadora de samba na avenida de um desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, fazendo história e abrindo portas para outras mulheres. Em seguida, cantou para a escola de coração, Mocidade Independente de Padre Miguel, além da Estácio de Sá e União da Ilha e da Acadêmicos do Cubango. Elza se fez samba! E foi homeagenada no samba enredo da Mocidade, em 2020, sua última vez na sapucaí.
Elza Soares em homenagem Mocidade Independente de Padre Miguel (Foto: Carl de Souza)
Elza Soares viveu inúmeras dificuldades ao longo da vida. Desde a miséria que ameaçava a sua vida e a de seus filhos, até a violência cometida pelos maridos, mas ela nunca baixou a cabeça. Por isso, tornou-se inspiração para milhares de brasileiras.
Em 2015, Elza Soares ganha um novo caráter ao conquistar os jovens do país com o lançamento do disco Mulher do fim do mundo. Em que a artista deu o recado para o público que jamais seria calada e recebeu o reconhecimento por esse feito histórico com um disco que discute feminicídio, machismo e racismo. O álbum foi mencionado em listas de melhores do ano dos veículos internacionais The New York Times e Pitchfork. Elza também conquistou o Grammy Latino de Melhor disco de música popular brasileira.
Elza Soares (Foto: Divulgação/ Ela)
Em 2018, a cantora recebeu uma grande homenagem com a estreia do musical: Elza. A produção premiada retrata a vida e carreira da artista. Larissa Luz assinou a direção e protagonizou uma das fases de Soares, que ganhou também interpretações de outras atrizes durante o espetáculo. A última temporada da peça foi apresentada em formato virtual, em junho de 2021, mês da comemoração do aniversário de 91 anos da cantora. Ainda no ano de 2018, Elza Soares lançou o disco 'Deus é mulher', seguido do álbum 'Planeta fome', em 2019, seu último lançamento.
Elza e Garrincha
Elza Soares e Mané Garrincha (Foto: Reprodução/Arquivo O Jornal)
O jogador de futebol, bicampeão do mundo pela Seleção Brasileira e ídolo do Botafogo, Mané Garrincha, pôs fim em um casamento para ficar com a cantora, em uma relação cheia de altos e baixos, principalmente por conta do alcoolismo do jogador. Em 1976, tiveram um filho, Manoel Francisco dos Santos Júnior, que morreu aos 9 anos em um acidente de carro. Em 1983, Garrincha morreu, na mesma data em que Elza se despediu, 20 de janeiro.
Imagem em destaque: Elza Soares no Rock in Rio 2017 - Foto: Mauro Pimentel