Rainer Cadete: “Não importa o que fizeram com você”

31/10/2023 | POR Lorena Silva

Rainer Cadete: “Não importa o que fizeram com você”

Com inúmeros prêmios em sua carreira, Rainer Cadete segue fazendo história, mas engana-se quem pensa que é apenas nas telinhas, pois Cadete também tem um lado musical em sua vida. 

O ator e cantor é natural do Distrito Federal, nasceu em 24 de julho de 1987 e iniciou sua carreira nas telinhas em em 2004. Com uma ampla experiência no teatro, televisão e cinema, Rainer segue fazendo um tremendo sucesso até os dias atuais. 

Em 2015, Rainer deu vida ao personagem Visky em “Verdades Secretas”, e foi um tremendo sucesso. Seu trabalho foi indicado para diversas categorias de prêmios e o ator venceu as seguintes categorias: Prêmio Extra de Televisão (Melhor Ator Coadjuvante), Melhores do Ano (Melhor Ator Coadjuvante), Prêmio Dublagem War (Dublador), Prêmio Men of the Year Brasil (Revelação do Ano) e Prêmio Jovem Brasileiro (TV).

Em entrevista exclusiva ao Lorena Magazine, Rainer revelou tudo sobre sua vida e deu detalhes inéditos sobre sua carreira.

 

O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você



Como nasceu o famoso ator Rainer Cadete? Sempre foi um sonho se tornar esse grande artista que é hoje?

Então, eu comecei no teatro experimental de Brasília. Sou fruto de políticas públicas. Venho de uma infância humilde, a gente não tinha condições de pagar um curso de teatro, e essas iniciativas do governo de educação continuada, tanto na área das artes quanto em outras áreas, foram muito importantes para mim. Muitos amigos meus da minha infância se envolveram com coisas ilícitas, foram mortos pela polícia ou ficaram pelo meio do caminho. Então, eu acredito que o teatro que conheci através dessas políticas públicas salvou a minha vida.

Desde que eu pisei no palco pela primeira vez, eu soube que era isso o que eu queria. Esse exercício de ser o outro me tornava cada vez mais eu, e eu amo a minha profissão. Acredito que existem diferenças técnicas entre TV, teatro e cinema, mas acredito também que dá pra fazer um pouco de teatro na TV, um pouco de TV no cinema, um pouco de cinema no teatro… Acredito muito nesse corpo multifacetado, que se expressa em vários canais diferentes. Então, eu me considero um ator de todas essas plataformas e interessado em desbravar as que estão surgindo, como a rede social, que é um espaço onde você divulga seu trabalho, trazendo um olhar e uma comunicação muito interessante e rápida, e ainda um ator interessado em explorar outras plataformas que possam vir a existir - como foi na pandemia, que eu fiz duas peças online da minha casa, “O Louco e a Camisa” e “Um Diário de um Louco”, de Nikolai Gogol. Foram maneiras de continuar existindo artisticamente. Sou muito motivado por essa inquietação de trabalhar o meu corpo e as minhas emoções.

 

Com qual frase você se autodefine?

Tem uma frase do Jean Paul Sartre que eu adoro: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.

 

Tenho muitas histórias dentro de mim que quero contar



Como é parar e olhar para trás e ver que já se passaram 20 anos de carreira? Faria algo diferente? Mudaria algo em sua carreira?

Posso dizer que não mudaria nada. Tenho muito orgulho de tudo que construí até aqui. Venho da periferia de Brasília e comecei no teatro experimental de Brasília. Sou fruto de políticas públicas. Me sinto realizado em exercer a minha profissão há mais de 20 anos. 

 

De todos seus trabalhos, existe um que mais te marcou? 

Todos os meus trabalhos, de alguma maneira, me marcaram e me fizeram evoluir como profissional, mas sem dúvida o que mais me marcou é o personagem de agora, o italiano Luigi. É um presente, diria eu, escrito magistralmente pelo Walcyr Carrasco. Construí esse personagem de uma maneira muito profunda, foram muitos meses de preparação, me transformei fisicamente e aprendi muitas coisas a partir da ótica desse personagem. Ele me deu a possibilidade de mergulhar profundamente em mim e de voltar às minhas origens, já que morei e tive parte da minha alfabetização na Itália. Hoje eu saio nas ruas e sou um italiano: “Mamma Mia para cá”, “Luigi para lá”, me divirto demais. 

 

Tem vontade de dar vida a um estilo de personagem que ainda não deu? Se sim, qual? Se não, qual você mais curtiu interpretar?

Eu adoro fazer personagens diferentes de mim, diferentes um do outro, esse é o meu maior deleite, mergulhar neste ofício, nesses universos distintos do meu. Me olhar no espelho e conseguir ver uma outra pessoa, por outras óticas, é algo que realmente me fascina. Tenho muitas histórias dentro de mim que quero contar, vilões, protagonistas, bobos da corte, quero fazer mais cinema, quero cantar. Para mim o sucesso vem da palavra suceder. Enquanto eu estiver trabalhando e feliz, está tudo certo!

 

Gosto de sonhar e me divirto correndo atrás dos meus sonhos



Você se inspira em outros artistas? Se sim, quais?

Sim, eu tenho em mente algumas pessoas. Chesney Henry “Chet” Baker, Billie Holiday, mas quando estou fazendo um trabalho fico monotemático e com o olhar direcionado para coisas daquele universo. Então, eu tenho assistido muitos filmes clássicos italianos. Se eu pudesse encontrar alguém, eu gostaria de encontrar o Fellini, o Pasolini, o Ettore Scola, o Luchino Viscont, Paolo Sorrentino, Marco Bellocchio, Marcello Mastroianni, Giancarlo Giannin, Pierfrancesco Favino e proporia de fazer um filme com eles.

 

Qual projeto você ainda tem muita vontade de participar que ainda não participou?

“The Masked Singer”, brincadeira ou não! Também gostaria de fazer um filme, cantar, fazer shows, um spin-off de algum personagem, mas neste momento, estou completamente mergulhado no universo do Luigi. Gosto de sonhar e me divirto correndo atrás dos meus sonhos. 

 

Qual o segredo de um artista de sucesso?

Partindo do pressuposto que o sucesso vem da palavra suceder, de uma carreira longa, continuada, eu acredito que o segredo vem do desejo, da preparação, da sorte e também da capacidade de desenvolver uma identidade artística e de se auto produzir.

 

Algumas pessoas acreditam que eu sou o meu personagem



Já aconteceu alguma situação engraçada com público? Do público levar assuntos da novela para vida real?

Com certeza! Algumas pessoas acreditam que eu sou o meu personagem. Sempre que eu faço um personagem parece que esquecem tudo que eu já fiz antes. Me divirto com isso! Agora, por exemplo, tem muita gente que acha que eu sou italiano e safado. Percebo que as pessoas abrem um sorriso ao me ver e vejo que esse compromisso com o humor está dando certo. Acho legal essa sensação de intimidade das pessoas na rua comigo e acredito ser sincero, pois diariamente temos um encontro na TV. 

 

Tem algum novo trabalho vindo pela frente que possa nos contar com exclusividade?

Eu gostaria de convidar todo mundo a conhecer o meu projeto musical “Leves e Reflexivas”, em parceria com Renato Luciano. São composições autorais, com participação da Vanessa da Mata, onde eu falo coisas que tenho vontade através da música. Como hierarquia, religiosidade, masculinidade, negacionismo e por aí vai. Com músicas em todas as plataformas digitais e dois clipes disponíveis no YouTube.

 

Créditos

Fotógrafo: Márcio Farias

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