Natural de Santo Antônio do Canaã, distrito do município de Santa Teresa (ES), e criado em Parauapebas, no Pará (PA), padre Patrick Fernandes , de 34 anos, se tornou um fenômeno na internet. Através das redes sociais, leva diariamente mensagens de fé, de forma bem-humorada e uma inusitada interatividade, que chama atenção do público. Em 2023, completou 10 anos de sacerdócio e possui milhões de seguidores.
Passando por uma juventude conturbada com problemas familiares, refugiou-se na fé para encontrar seu ponto de paz. Em seu primeiro contato com a Igreja Católica, viu despertar sua missão religiosa e imediatamente começou a fazer encontros vocacionais.
Após se recuperar de um quadro severo de depressão, vivido em 2019, Pe Patrick viu na internet uma forma de se reconectar com seus fiéis. Na pandemia, durante o lockdown, o religioso começou a publicar vídeos diariamente e abriu um canal para atender e escutar os fiéis. Na época eram apenas três mil seguidores no Instagram, em sua maioria frequentadores de sua paróquia. Com muita leveza e naturalidade, passou a humanizar a fé, falando de religião com uma característica irreverência, que sempre se faz presente.
Em entrevista exclusiva ao Lorena Magazine, padre Patrick contou sobre sua trajetória, os prós e contras de estar frequentemente exposto na internet e sua história de superação.
Confira a entrevista na íntegra:
“Isso foi um pouco assustador para mim.”
Como foi de início a sensação de ser um padre exposto e nos holofotes? Foi algo que você procurou ou foi tudo de forma espontânea? Como aconteceu?
“Isso foi um pouco assustador para mim, a gente nunca está preparado para este momento de virada de vida em uma exposição dessa forma. Não era algo que eu procurava, que queria, que almejava, até porque estava fora das realidades, da geográfica também. Moro no interior do estado do Pará, e as coisas foram acontecendo sem que a gente alcançasse e para mim, não era uma expectativa isso acontecer, porque os padres que têm relevância hoje em internet e TV, são cantores e eu não sou. Não sei cantar nada! Foi algo que aconteceu em um período da pandemia, quando eu comecei a gravar vídeos de forma muito despretensiosa para os seguidores que eu tinha nas redes sociais, que eram pessoas da minha paróquia, na cidade onde moro. Assim, os vídeos foram se espalhando e ganhando essa proporção de hoje.”
Sentiu medo dos julgamentos da sociedade por você ser um padre de certo modo sincero? Enfrentou algum sentimento com alguém próximo ou no âmbito familiar?
“No início não sentia o medo, ele começou nos ataques, pessoas que espalham esse ódio na internet e acabam querendo me definir em um vídeo muito isolado, sem conhecer o meu trabalho e minha história. Estamos aprendendo a lidar com isso ainda, é difícil e a gente não tem a total maturidade para isso. Eu queria não me importar tanto, porém, hoje eu me importo menos e estou trabalhando isso em mim. Em relação às pessoas próximas, eu nunca tive dificuldade, porque elas já me conheciam e eu sou sim, do mesmo jeito na realidade, sem a internet.”
Sabemos que você é um grande sucesso com as suas respostas nas caixinhas de pergunta. De onde vem tanta criatividade?
“A criatividade com certeza vem do laboratório que são as próprias pessoas que escuto todos os dias, que vem procurar o padre para conversar, contar os problemas, as dificuldades. Então, acaba dissolvendo muito naquilo que eles me falam que são mais os problemas familiares, casamentos etc. Eu sempre fui uma pessoa que gosta de agregar, de atrair e estar do lado das pessoas, fazendo elas rirem. Acredito muito na leveza e a gente precisa praticar isso na vida.”
"Acredito muito que a vida tem um privilégio, um dom, e a gente tem que viver intensamente.”
Quem era o padre Patrick Fernandes antes de estar nos holofotes?
“Eu sou um padre ainda, não sou digital influencer. Continuo sendo padre, exercendo meu trabalho na paróquia da minha cidade de São Sebastião, em Itaropebas. Continuo celebrando as missas, atendendo as confissões, celebrando os batizados, enfim, tudo que um padre faz em sua igreja. Sou uma pessoa que gosta de ter amigos, de estar perto das pessoas, acredito muito que a vida tem um privilégio, um dom e a gente tem que viver intensamente.”
Tem alguma história engraçada que te marcou muito que possa contar para nós?
“No decorrer dos anos de padre, a gente vive muitas experiências. Já fiz 10 anos de sacerdócio e nessa caminhada a gente tem muitas coisas para contar que até Deus duvida. Eu falo isso em um dos meus shows: logo no início do meu ministério, que me chamaram para fazer uma oração de velório, eu ainda não sabia muitas coisas e eu acabei rezando um rito de casamento, no lugar de um ritual de velório. Acho que as pessoas não perceberam, pois já estava de madrugada, mas foi uma situação bem constrangedora.”
Recebe muitas mensagens no privado com conteúdo explicito? Se sim, como lidar com isso?
“Dificilmente eu olho as mensagens do Instagram, não tem como. Eu gostava no início de poder responder as pessoas, de poder retribuir cada mensagem de carinho que as pessoas me mandavam, enfim. Hoje, não é possível. Eu faço isso e deixo todas as outras coisas para trás. Eu não tenho tempo mesmo e é uma pena.
Às vezes por coincidência, acabo lendo uma mensagem ou outra, mas não é algo com tanta relevância, até porque eu tenho uma equipe por trás que administra minhas redes sociais. Com certeza deve ter mensagem desse tipo, mas não tenho visto muito.”
“Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”
Se você pudesse se definir através de uma frase. Qual frase seria?
“Tem um lema da minha ordenação que é muito significativa na minha vida, porque é aquilo que escolhi viver e todo padre que se ordena, escolhe um tema e a minha é uma frase do evangelho de João, capítulo 21 e versículo 17, um diálogo muito bonito entre Jesus e Pedro, onde Jesus pergunta para Pedro se ele o amava e ele responde: ‘Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo’, então essa frase para mim é muito forte.”
“O mais importante foi a minha fé. Mesmo fraco, eu segui e não deixei nada me abalar.”
Sabemos que você enfrentou uma fase muito desafiadora. Você como um homem de fé e cheio de humor, como foi driblar a depressão?
“A situação mais difícil, nesse ponto, foi reconhecer a necessidade de ajuda, porque nós, padres, somos educados para sempre sermos fortes em ajudar as pessoas que nos procuram. E reconhecer nossa fragilidade, é algo que não é comum. Eu demorei muito para dar conta que precisava de ajuda, até o ponto de ter levado todas as minhas forças e vontades. Foi daí que recebi ajuda dos médicos, da terapia, foi um início nessa nova etapa. E o mais importante foi a minha fé. Mesmo fraco, eu segui e não deixei nada me abalar.
Isso mostra que ninguém está blindado disso e que qualquer um de nós podemos passar por essa frase sombria. Mas o mais importante é nos enchermos de esperanças e acreditar no novo, nas coisas que são de viver.”
Como está o projeto "Fora da Caixinha"? Sabemos que foi um grande sucesso em 2022. Pretende inovar em 2023?
“Nós sempre procuramos inovar para que não seja uma coisa engessada. Demos uma pausa em novembro do ano passado, mas iremos retomar agora. Já temos uma agenda para esse primeiro semestre, que ainda está sendo montada. É muito gostoso a gente poder viajar nesse Brasil todo, encontrar as pessoas e receber tanto carinho. Por isso, vamos começar agora nesse mês e vamos ter uma agenda muito vasta este ano. Estou muito feliz!”
“No início é difícil, mas não impossível.”
Por último, mas não menos importante. Qual conselho você daria para quem quer se aventurar na internet?
“A internet traz muitas coisas boas. Tem uma potência de você se encontrar com as pessoas, se aproximar delas. Mas ao mesmo tempo, é um ambiente muito pesado. O importante é você ter no seu coração a certeza de que aquilo é para você e não se pode deixar levar pelas críticas e julgamentos que vão ter, e se você tem esse sonho de viver, de se lançar na internet, seja forte e preparado. No início é difícil, mas não impossível.”