Nascida em Recife–PE, Laura Brito é uma influenciadora de 30 anos que marca presença nas redes sociais desde 2013, quando começou a postar vídeos em seu primeiro canal no YouTube. Uma mulher nordestina, independente e cheia de autenticidade, ela acumula atualmente mais de 6.5M de seguidores no Instagram e já trabalha como criadora de conteúdo há 10 anos.
Laura Brito viu na Internet sua chance para se manifestar de maneira artística. Quando tinha 18 anos, criou seu primeiro canal no YouTube onde falava sobre moda e estilo, uma paixão herdada de sua família. Ela ganhou seus primeiros seguidores, dando dicas de customização, que eram conhecidas na categoria “DIY” (Do It Yourself ou Faça Você Mesmo).
Ela ganhou ainda mais visibilidade após viralizar um vídeo reproduzindo uma maquiagem, e assim, como outras influenciadoras, Laura expandiu seu nicho e aumentou seu repertório de conteúdos. Atualmente, além de falar sobre moda, ela compartilha sua rotina e também dicas e tutoriais de maquiagem, visando inspirar seus seguidores a usarem a criatividade para manifestar seu próprio estilo independente das condições econômicas.
Além de ter feito cursos de maquiagem, Laura também é atriz, tendo concluído recentemente seu curso de teatro após sonhar com isso desde criança.
Embora, após deixar o Nordeste, ela tenha enfrentado dificuldades relacionadas à sua origem, usou isso como motivação para seguir em frente. Laura tem muito orgulho de ser nordestina e busca transmitir isso em tudo que faz. Em entrevista exclusiva, ela contou mais sobre sua trajetória, suas conquistas e ambições, confira:
Tudo eu costumizava, porque sempre conseguia algo novo
Fotógrafo: Pedro Argueles
1 .Laura, o que a motivou a começar no YouTube aos 18 anos e como foi o processo de adaptação ao mundo digital naquela época?
O que me motivou a entrar na internet aos 18 anos foi meu desejo de ser atriz. Naquela época, a internet parecia a única forma de eu entrar para o meio artístico, já que praticamente ninguém fazia vídeos profissionais na plataforma. Havia muito mais blogs, então percebi que seria um lugar onde eu poderia me expressar artisticamente e falar com pessoas desconhecidas. No início, eu não queria que amigos ou familiares soubessem; meu objetivo era conversar com outras pessoas. A internet foi, para mim, uma porta para ser eu mesma e entrar no mundo artístico. E deu super certo!
2. Como surgiu sua paixão pelo movimento Faça Você Mesmo e qual foi a transformação mais desafiadora que já realizou?
A minha paixão por "Faça Você Mesmo" começou pela necessidade, porque era a única forma que eu conseguia me expressar diante das condições que eu tinha. Então, quando eu era mais nova e queria sair com algum tipo de roupa, eu não tinha condições de comprar. Por isso, eu sempre transformava, eu sempre fazia algo diferente para poder ter mais personalidade dentro do que eu podia, né? Então, eu digo que a customização foi, para mim, um apoio. E muito mais: eu me apoiei na customização para poder alcançar outros lugares, vestir coisas diferentes, porque eu não tinha condições financeiras. E não só roupa. O meu quarto, a decoração do meu quarto, eu fiz com papel, porque eu não tinha condições de comprar decorações, mas eu queria decorar o meu quarto. A minha vontade de querer ter as coisas e não poder me fez enxergar a customização como um aliado. Assim, tudo eu customizava, porque sempre conseguia algo novo, diferente, sem gastar nada.
É sobre enxergar possibilidades e contar histórias
3. Mas tem alguma transformação mais desafiadora entre essas?
Acho que as transformações mais desafiadoras foram no início, quando eu fazia de tudo. Eu pegava uma calcinha e transformava em um top porque, na época, tops de renda estavam super em alta. O mais desafiador era enxergar possibilidades que as pessoas não viam. Olhar para uma calcinha de renda e transformá-la em um top foi um exercício criativo que me ensinou muito. Recentemente, o biquíni jeans foi uma grande superação. Não só porque foi desafiador pegar uma calça jeans e fazer um biquíni, mas também por usá-lo no Rio de Janeiro, com confiança. Foi um momento em que desafiei tanto minha criatividade quanto minha coragem.
4. Como a tradição familiar de costura influenciou sua carreira e sua visão sobre moda e criatividade?
A costura na minha família sempre esteve ligada à necessidade. Minha mãe, com cinco irmãs, costurava roupas para elas irem a casamentos e à faculdade. Ela até criou coleções usando sacos de pano de chão para vender e pagar os estudos. Essa criatividade diante das dificuldades sempre me inspirou. Cresci vendo minha mãe transformar tecidos e até fui modelo das peças que ela criava. Essa tradição vem de gerações: minha avó deu a máquina de costura para minha mãe, e minha mãe passou a máquina para mim. A moda, para nós, é sobre enxergar possibilidades e contar histórias. Quando uso uma peça de fuxico ou renascença, levo comigo a força da nossa cultura nordestina e a autenticidade da nossa história.
Quero empoderar as pessoas
5. Você é a grande defensora da cultura nordestina, como sua origem influencia o conteúdo que você cria e a mensagem que você transmite?
Ser nordestina é meu maior orgulho e influência tudo o que faço. O Nordeste é muito rico culturalmente, e eu me inspiro em tradições como fuxico, renda, renascença e crochê. Muitas peças que uso são feitas manualmente, costuradas, cortadas ou coladas por mim. Não é que eu me esforce para falar do Nordeste; o Nordeste faz parte de quem eu sou. Ele está nas minhas roupas, no meu jeito de falar e na mensagem que passo.
6. De que maneira você incentiva seus seguidores a adotarem um estilo de vida mais sustentável e consciente?
Faço isso através do meu conteúdo, de forma leve e natural. Às vezes, as pessoas não percebem, mas aprendem sobre sustentabilidade e aplicam no dia a dia. Compartilho minha história e mostro como enxergar possibilidades nas coisas que já temos pode transformar vidas. A moda é muito ligada ao poder aquisitivo, mas acredito que podemos nos sentir seguros e confiantes usando o que temos criativamente. Quero empoderar as pessoas para se sentirem parte de qualquer lugar, independente das condições financeiras.
O diferencial em de você ser você mesma
Fotógrafo: Pedro Argueles
7. Qual você considera seu segredo para alcançar um nível tão impressionante de engajamento nas redes sociais?
Trabalho com a internet há 12 anos, e acredito que o segredo é a constância e a autenticidade. A internet não é linear; os números variam. O segredo para você manter ativo o seu engajamento, o seu público, é você não desistir. Ser autêntica no que faço, no visto e comunico também é fundamental. O diferencial vem de você ser você mesma, porque o que sou ninguém mais é. Não se trata de copiar o que já existe, mas de criar algo único que mostre quem você é realmente.
8. O que podemos esperar da sua marca de roupas e produtos de beleza? Algo especial que você deseja destacar?
Tenho muito cuidado em pensar em lançar uma marca brasileira. Hoje em dia, o mercado brasileiro, tanto de moda quanto de beleza, é um mercado muito responsável e profissional, que você tem que entrar com muita sabedoria. Então, eu tenho muito cuidado em como vou fazer isso. Tem várias propostas de marcas de maquiagem, de marcas de roupa, mas saibam que, no dia em que for lançada a minha marca com o meu nome, vai agregar tudo isso que falo sobre a minha história e vai ter muito respeito por todas as marcas que já existem. Então, sim, é um projeto para 2025, é um sonho, na verdade, mas que vai ser construído e lapidado com muita calma, com muita responsabilidade e de forma muito autêntica.
Sejam nordestinas e queiram ganhar o mundo
9. O que despertou o seu interesse em se tornar atriz e como tem sido a experiência no curso de teatro e série da Helena?
Me tornar atriz sempre foi o meu sonho desde muito novinha. Desde criança, eu dizia que o meu sonho era entrar na TV. Eu queria quebrar a televisão e entrar por trás, porque na minha época não era TV plasma, era aquela com caixa atrás.
Ser atriz sempre foi o meu sonho, mas eu nunca vi a oportunidade para isso. Desde muito nova, lá em Pernambuco, nunca foi nada que foi tão trabalhado. Era muito mais em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas espero que hoje já existam escolas incríveis no Nordeste que possam capacitar atores e atrizes.
Quando estava prestes a completar 30 anos, percebi precisar dar voz a todos os meus sonhos. É assim que acho que vou ser realizada na minha vida. Então fui atrás de um curso aqui em São Paulo, no Célia Helena, sendo muito renomado, e me formei como atriz. Foi um curso de dois anos, e eu digo que não foi fácil fazer esse curso tendo todas as outras demandas. Foram aulas de segunda a sexta, todos os dias, por dois anos. Foi muito desafiador estudar coisas novas, me aprofundar, entrar de cabeça nessa área. Para ser atriz, tem que estudar muito, tem que ler muito, tem que levar com muita responsabilidade.
Teve momentos que pensei: “Que difícil, não sei se vou conseguir.” Mas eu não desisti, graças a Deus. E me formei. Acabei de apresentar um espetáculo de Shakespeare. Foram quatro dias de espetáculo no teatro, então me deu muita experiência. Hoje, me sinto pronta para alçar essa nova carreira, que tenho certeza de que será de muito sucesso. E eu estou muito feliz.
10. Quais foram os maiores desafios que enfrentou por ser nordestina no mundo digital e como superou esses obstáculos?
Ser nordestina é algo que tenho o maior orgulho, mas, de fato, sofri muita xenofobia, principalmente quando vim morar aqui em São Paulo. Passei por relatos dificílimos, que tive que enfrentar e bater no peito para falar sobre o Nordeste. Pude ver que as pessoas, de fato, não conhecem, não sabem a grandiosidade de tudo o que tem no Nordeste. Por mais que a gente fale, temos que continuar falando sempre.
Em vários trabalhos, fui colocada e depois cortada por ser nordestina, por conta da minha voz, do meu sotaque, por dizerem que eu falava errado, quando, na verdade, estava só falando uma palavra que é tão comum no Nordeste. Em vários outros aspectos, fui descredibilizada por ser nordestina, mas isso só me dá força para continuar falando do Nordeste e para que, um dia, isso não seja mais uma pauta para outras pessoas que venham para São Paulo ou que sejam nordestinas e queiram ganhar o mundo.
Tudo vira alguma coisa. Isso é tudo sobre na vida
Fotógrafo: Pedro Argueles
11. Qual é a mensagem mais importante que você deseja passar para os seus seguidores através dos seus conteúdos?
A mensagem mais importante que quero passar através dos meus conteúdos para os meus seguidores é: tudo vira qualquer coisa. Isso é sobre tudo na vida. E a outra é: enxergue possibilidades. Se eu for falar sobre cada uma dessas duas frases, passo um tempão falando. Mas é enxergar possibilidades em tudo, seja em uma roupa, seja no trabalho, seja na vida, seja em uma reunião ou em uma oportunidade. Qualquer coisa, existe possibilidade para a gente driblar qualquer dificuldade que apareça.
12. Como foi o processo de transição do ‘Faça Você Mesmo’ para tutoriais de maquiagem e quais lições você tirou dessa mudança estratégica?
Quando comecei na internet, fazia customização, e logo depois um vídeo meu de maquiagem viralizou. Foi um vídeo em que imitei a maquiagem de Mari Maria, que hoje é uma amiga pessoal. Quando esse vídeo viralizou, enxerguei uma oportunidade ali: de fazer dinheiro, de trabalhar, de me sobressair na internet. Então, transicionei da customização de roupa para a maquiagem.
E, estrategicamente, foi uma porta que se abriu e que eu não poderia deixar de lado. Foi muito recompensador para mim falar de maquiagem. Tenho muito respeito pela área da maquiagem, pela área da beleza. Hoje em dia, sou maquiadora; fiz cursos de maquiagem também. E, recentemente, voltei a falar sobre moda da forma que eu queria. Estrategicamente, foi isso: eu precisava abraçar a oportunidade da maquiagem, e, para mim, foi incrível.
13. Agora é a última. Você mencionou o desejo de arriscar uma carreira internacional. Já tem algo em vista para concretizar esse objetivo?
A carreira internacional nunca foi um grande sonho, mas ela chegou para mim este ano, quando tive três trabalhos super importantes internacionais. Estive em Los Angeles com L'Oréal Paris e Netflix para a première de Emily in Paris, onde consegui emplacar e conversar com várias pessoas importantes sobre minha carreira de atriz e abrir oportunidades para mim.
Outro trabalho internacional foi em Paris, para a Paris Fashion Week, na abertura da Semana de Moda Internacional com a L'Oréal Paris. Isso foi incrível para me posicionar no mercado da moda internacional. Percebi que tenho muita vontade de fazer outros trabalhos envolvendo a moda internacionalmente. O que mais amei fazer nesse trabalho internacional é levar parte de mim para fora do Brasil, levar o Brasil para fora, levar o Nordeste. Nessa oportunidade, na abertura da Paris Fashion Week, levei o fuxico, levei uma moda nordestina com a marca Hand Lace.
Então, consegui perceber minha força e o quanto consigo converter e, com minha voz, falar ainda mais sobre o que acredito. Meu último trabalho internacional foi na Tailândia, quando fui para a Ásia com a Pandora, e pude falar mais sobre meu trabalho de influenciadora.
Foram três trabalhos internacionais, e cada um falou sobre um pouco de um caminho da minha carreira: atriz, moda e influenciadora digital. Então, sim, as portas internacionais, graças a Deus, estão abertas para mim e espero trabalhar ainda mais.
Matéria por Izabelle Lopes