De acordo com o International Labour Organization (ILO), cerca de 1,4 bilhão de trabalhadores em todo o mundo trabalham mais de 48 horas por semana. A redução da carga horária de trabalho é uma tendência mundial que tem ganhado força nos últimos anos, visto que as longas jornadas de trabalho têm sido associadas a problemas de saúde mental, estresse, fadiga, além de ter um impacto negativo na vida pessoal dos trabalhadores.
O diretor da International Labour Organization (ILO) no Brasil, Vinícius Pinheiro, afirma que as condições de horas trabalhadas no país estão no meio-termo entre as economias com maiores e menores horas de trabalho. Com uma média de 39,5 horas, a carga brasileira fica duas horas acima da verificada entre os países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 37,5.
O Reino Unido começou o projeto piloto, sendo o maior já feito, com seis meses de duração, e foi aplicado com 3.300 colaboradores em 70 empresas. Os testes estão sendo feitos por algumas organizações sem fins lucrativos, em parceria com as universidades de Oxford, Cambridge, Boston, e pesquisadores. Os trabalhadores têm uma carga horária de 20% a menos na semana, porém com a premissa de manter a produtividade dentro da normalidade, em 100%.
Países como a Islândia, Espanha e Japão já adotaram a jornada de trabalho de 4 dias úteis em algumas empresas. Na Islândia os testes ocorreram de 2015 a 2019 e especialistas afirmaram que os níveis de produtividade permaneceram os mesmos ou aumentaram.
A empresa Unilever iniciou em 2020 a experiência que durou um ano com os 81 funcionários na Nova Zelândia, reduzindo a carga horária semanal sem diminuir o salário do colaborador. O diretor da Unilever Nova Zelândia, Nick Bangs, afirmou à BBC que “as velhas formas de trabalhar estão obsoletas".
Gudmundur D. Haraldsson, pesquisador na Associação de Sustentabilidade e Democracia (Alda), disse que “a jornada semanal de trabalho mais curta da Islândia nos diz que não apenas é possível trabalhar menos, mas que a mudança progressiva também é possível”. Nos últimos anos, houve uma crescente preocupação em relação à qualidade de vida dos funcionários e a busca por maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional e a redução da jornada de trabalho é o tema central nesse debate.
Thalia Sousa, analista jurídica na legaltech Lexly, empresa que aplica tecnologia para o mercado do Direito, faz algumas observações sob um olhar jurídico de como as leis trabalhistas no Brasil se relacionam com esses novos modelos de trabalho. Sobre a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Thalia explica que a CLT determina que a jornada de trabalho não excederá 8 horas por dia e 4 horas aos sábados, sendo permitida a compensação deste último dia durante a semana, com a realização máxima de até 2 horas extras diárias.
Ela reitera que não se deve ultrapassar a carga horária de até 10 horas diárias, com exceção dos casos de escalas de trabalho de 12x36, pois isso implica em violação dos direitos do trabalhador. Questionada sobre como empresas brasileiras podem incorporar a iniciativa da semana útil de quatro dias, Thalia afirma que “elas podem começar identificando quais áreas são mais aderentes a este modelo de negócio. Geralmente áreas que precisam entregar projetos podem ser mais suscetíveis, uma vez que o empregado pode fazer a distribuição de suas tarefas ao longo dos dias e fazendo seu próprio gerenciamento de quais dias irá trabalhar, mas sempre lembrando de manter as entregas e prazos em dia”.
Ela complementa explicando que o ponto central da semana de trabalho de 4 dias úteis é diminuir a carga horária semanal mas manter os índices de produtividade, portanto a organização do trabalho é fundamental. A profissional ainda finaliza elucidando a importância do uso de novas tecnologias e automações para otimizar rotinas de trabalho dentro das empresas e consequentemente ajudar o colaborador a diminuir sua carga horária semanal. Thalia diz que “a tecnologia permite que processos burocráticos sejam automatizados, fazendo com que a jornada do colaborador esteja voltada para funções mais complexas”.
No Brasil, um exemplo desse tipo de iniciativa foi a empresa de produtos para pets Zee.Dog que em março de 2020 implementou essa iniciativa piloto para os colaboradores, com um dia de folga durante a semana, reduzindo a carga semanal para 4 dias de trabalho.
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