Quase um quarto dos adolescentes com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) apresenta sobrepeso ou obesidade, de acordo com pesquisa realizada em 14 clínicas públicas de 10 cidades brasileiras. O estudo, publicado no início desse mês, constatou que esses pacientes apresentaram maior prevalência de fatores de risco tradicionais para complicações crônicas relacionadas ao diabetes micro e macrovascular.
Inicialmente, a amostra total incluiu 1.760 pacientes com DM1 de todas as regiões geográficas do Brasil. Os pacientes foram acompanhados em clínicas públicas. Desses pacientes, 367 eram adolescentes e formaram a amostra final deste estudo. Metade dos participantes (50,1%) era composta por meninas. A idade média foi de 16,4 anos. A duração média do diabetes foi de 8,1 anos e a média de A1c foi de 9,6%.
Os pesquisadores encontraram que 79 (21,5%) dos 367 adolescentes tinham sobrepeso e 16 (4,4%) tinham obesidade. De acordo com os autores, a alta prevalência de sobrepeso e obesidade nesse grupo marca uma mudança no perfil do paciente DM1. Durante muito tempo, a doença esteve associada a um fenótipo magro.
A Dra. Marília Gomes, professora de diabetes e metabolismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é uma das autoras do estudo. Ela disse que essa situação reflete as mudanças de estilo de vida observadas entre crianças e adolescentes.
Por exemplo, houve uma diminuição na sua atividade física e um aumento na sua ingestão de alimentos com alta densidade calórica. "Deixando de lado a presença de sobrepeso e obesidade, as crianças nesta faixa etária acham difícil manter uma dieta", declarou a doutora.
Controle de diabetes é fundamental em todas as faixas etárias. (Foto/Reprodução/Aspire)
Na análise da população estudada, os pacientes com sobrepeso ou obesidade eram do sexo feminino, mais velhos, com maior duração de diabetes e tratados em um centro de atenção terciária. Outro achado foi que, ao corrigir a dose de insulina por peso, os pacientes com sobrepeso ou obesidade utilizaram menores doses de insulina (U/kg), mas maior dose diária total de insulina (U/dia) do que os pacientes sem sobrepeso ou obesidade. Marília pensa que essa diferença resulta da resistência à insulina devido ao excesso de peso.
A equipe também observou a alta prevalência de fatores de risco cardiovascular. Por exemplo, verificaram que adolescentes com essas características apresentaram maiores taxas de dislipidemia, representadas por níveis mais elevados de colesterol total e LDL. Quando comparados aos participantes com peso ideal, o grupo com sobrepeso ou obesidade também apresentava hipertensão arterial, maior frequência de história familiar de hipertensão e presença de síndrome metabólica.
Por outro lado, os pesquisadores não encontraram associação entre sobrepeso/obesidade e doença renal crônica, retinopatia diabética e marcadores laboratoriais de doença hepática gordurosa não alcoólica.
Ainda assim, o estudo mostrou que menos de 20% dos pacientes com DM1 em ambos os grupos, com e sem sobrepeso/obesidade, tinham controle glicêmico adequado, número considerado “de acordo” com o que se viu no Brasil. A Dra. Marília Gomes apontou que há vários fatores por trás desse achado.
Por exemplo, déficits cognitivos ou questões socioeconômicas podem dificultar a compreensão da doença pelos familiares. Outro fator é a falta de equipes multidisciplinares de saúde que possam responder às necessidades dos pacientes relacionadas à doença.
Foto destaque: Mulher acompanha controle de diabetes em adolescente. (Reprodução/USC)