A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma atualização em suas diretrizes alimentares, especificamente direcionada a bebês de 6 a 11 meses que não recebem leite materno. A recomendação, encontrada no "Guia para alimentação complementar de bebês e crianças de 6 a 23 meses de idade", destaca a permissão para o uso de leite de vaca nessa faixa etária, alterando parcialmente a perspectiva de algumas sociedades médicas.
Para essa categoria de bebês, que não é alimentada com leite materno, a OMS sugere a opção entre fórmula infantil ou leite de origem animal. Essa inclusão abrange diversas formas de leite animal, como leite pasteurizado, leite reconstituído evaporado, leite fermentado ou iogurte natural.
Essa recomendação, embora apresente nuances, encontra ressonância no "Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos" do Ministério da Saúde, que já em 2019 previa a utilização de leite de vaca em receitas caseiras a partir dos seis meses de idade. Vale ressaltar que essa orientação nacional destaca que a substituição do leite materno não é necessária se a criança ainda o consome.
Fórmulas de transição
A OMS também se posiciona de forma distinta para crianças de 12 a 24 meses que não recebem leite materno. Nesse cenário, a organização propõe o leite de vaca como alternativa, desfavorecendo as fórmulas de transição.
Jarra e copo de leite (Foto: reprodução/Pixabay/Congerdesign
A divergência de opiniões emerge ao confrontar as novas diretrizes da OMS com a indústria europeia de nutrição especializada. Esta argumenta que não há embasamento científico robusto para apoiar a afirmação da OMS de que o leite de vaca pode ser fornecido a lactentes com menos de 12 meses.
Além disso, contesta a visão da OMS de que a fórmula infantil contribui para a mortalidade infantil, considerando essa afirmação como infundada.
Revisão sistemática
A OMS, por sua vez, fundamenta suas recomendações em uma revisão sistemática de estudos comparativos entre fórmula infantil e leite animal para bebês de 6 a 11 meses. As evidências, segundo a organização, não indicaram diferenças estatísticas significativas no risco de perda de sangue gastrointestinal.
Entretanto, a OMS alerta sobre os riscos associados ao uso de fórmulas infantis, como aumento da mortalidade infantil, infecções gastrointestinais, doenças respiratórias, diabetes tipo 2, obesidade e leucemia.
Indústria europeia
A indústria europeia de nutrição especializada refuta essas conclusões, destacando a fórmula infantil como a única alternativa segura ao aleitamento materno, especialmente quando as mães não conseguem amamentar.
A Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica também ressalta que o leite de vaca é uma fonte pobre de ferro e fornece excesso de proteína, gordura e energia para crianças pequenas.
A discussão sobre as recomendações da OMS continua, com a indústria europeia solicitando uma revisão baseada em metodologia científica robusta. Enquanto isso, é importante notar que as orientações da OMS buscam equilibrar a oferta de leite de vaca com outras fontes de ferro, priorizando a saúde e o desenvolvimento adequado dos bebês.
Foto destaque: Bebê sendo alimentado com leite (Reprodução/Pexels/Keira Burton).