Estudo da Fiocruz concluiu que, no ano de 2021, a quantidade de internações de bebês com desnutrição no Brasil foi a maior dos últimos 13 anos.
Uma matéria do “G1” mostrou o caso de Téo e para quem o via cheio de saúde, era difícil imaginar como estava há três meses. Sua mãe diz que o bebê de 11 meses chegou a ficar com cerca de 5 kg e que precisou ser internado.
Téo ficou 28 dias no hospital porque estava desnutrido e acabou por desenvolver uma infecção. Foi no tempo em que a mãe, desempregada, não tinha o que dar para o filho, praticamente. A mesma diz que dói no coração de qualquer mãe e que hoje consegue sustentá-lo com as faxinas que faz. “Isso dói no coração de qualquer mãe. Hoje consigo sustentar ele com as faxinas que eu faço”, disse a mãe.
Um estudo da Fiocruz evidencia que, em 2021, o país teve a pior taxa de internação de bebês por desnutrição dos últimos 13 anos. Foram oito crianças de até um ano de idade levadas para os hospitais todos os dias devido a falta de alimento.
Tal levantamento é oriundo do Observa Infância, que reúne pesquisadores da Unifase e da Fundação Oswaldo Cruz. Os dados são originários do Ministério da Saúde.
Em números totais, 2.979 crianças de até um ano precisaram ser internadas no ano de 2021. O fato representa uma taxa de 113 internações por 100 mil nascimentos.
Do mês de janeiro a agosto deste ano, o número de internações teve um aumento de 7%. São quase nove crianças, por dia, levadas para hospitais por conta de terem fome.
O citado site mostra que a situação mais difícil é a registrada no Nordeste, onde a quantidade de hospitalizações é 51% maior que a taxa nacional. Porém Cristiano Boccolini, coordenador da pesquisa, expõe que o problema é grave em todo o Brasil.
Levantamento do Observa Infância @fiocruz aponta que, em 2021, o número de hospitalizações de bebês menores de um ano por desnutrição chegou no maior número absoluto, atingindo o pior nível dos últimos 13 anos https://t.co/D7MIAarTPg pic.twitter.com/N1uHXabldL
— Agência Fiocruz (@agencia_fiocruz) October 26, 2022
Post sobre o assunto. (Reprodução/Twitter @agencia_fiocruz)
Boccolini afirma que: “A gente vê uma concentração também desses casos de hospitalização por desnutrição nas capitais, indicando que aqui mesmo no Rio de Janeiro, em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, grandes centros urbanos a gente tem bolsões de pobreza, bolsões de crianças que estão invisíveis ao sistema público, que sofrem desnutrição e estão sendo internadas por causa disso”.
Os dados, segundo informações do portal da Fiocruz, também mostram que bebês negros (pretos e pardos) correspondem a dois de cada três internações por causa de desnutrição registrados entre o período de de janeiro de 2018 e agosto de 2022 no sistema público de saúde. Para o cálculo, foram considerados somente os casos em que existe registro de raça/cor. O portal evidenciou que, entre 2018 e 2021, o Brasil registrou 13.202 hospitalizações devido à desnutrição entre os indivíduos menores de um ano e destas, 5.246 foram de bebês pretos e pardos, no entanto falta informação a respeito de raça/cor em um de cada três registros.
Cristiano Boccolini afirma que: “Ainda precisamos melhorar muito a identificação por raça e cor nos nossos sistemas de informação, mas com os dados que temos é possível afirmar que temos uma proporção maior de crianças pretas e pardas internadas por desnutrição”.
Mesmo com o aumento das internações, não há crescimento da mortalidade infantil, mostrando que o pior tem sido evitado pelo atendimento médico do SUS. No entanto, Ana Paula Bortoletto, nutricionista da USP, acende um alerta para os prejuízos ao desenvolvimento de crianças com meses de vida que ficam sem ter o que se alimentar.
Bortoletto explica que a criança tem consequências de desenvolvimento e que, nessa faixa etária, a desnutrição pode ser, inclusive, irreversível causando impactos quanto ao desenvolvimento. “Essa criança tem consequências de desenvolvimento, e a desnutrição nessa faixa etária pode, inclusive, ser irreversível, trazendo impactos em relação a déficit de cognição, a déficit de desenvolvimento”, disse.
A mãe de Téo encontrou o apoio que precisava em uma ONG, localizada no bairro onde mora, na Zona Oeste do Rio, para não faltar mais nada na mesa.
Por mais que a ajuda seja fundamental, os pesquisadores apontam que são as políticas públicas que têm a força para poder reverter o quadro.
Cristiano Boccolini acrescenta que é preciso sermos mais eficientes em alcançar famílias mais vulneráveis. “Precisamos conseguir direcionar, melhor o nosso alvo, ser mais eficientes em identificar e alcançar famílias com vulnerabilidade social”, disse.
Além disso, o Ministério da Saúde declarou que, em 2021, destinou o valor de R$ 345 milhões aos municípios para dar um incentivo a ações e fortalecer a atenção para crianças com idade inferior a sete anos e gestante com má nutrição.
O ministério também afirmou que acompanha os dados a respeito de alimentação infantil e que tem programas de suplementação nutricional destinados a famílias de baixa renda.
Taxa de hospitalização subindo
De acordo com informações presentes no site da Fiocruz, desde o ano de 2016, a taxa de hospitalização por desnutrição entre bebês menores de um ano vem subindo no Brasil, porém em 2021 chegou à sua pior marca. Só entre 2011 e 2021 o índice subiu 51%.
A pesquisa aponta que: “A tendência é diferente da observada no número de mortes e na taxa de mortalidade pela mesma causa nessa faixa etária, que registra queda constante desde 2009 e chegou à menor marca em 2020, último ano com dados consolidados”.
O já citado site mostra que a região Sul foi a única que registrou queda na taxa de hospitalização por causa de desnutrição em bebês menores de um ano entre 2020 e 2021. Porém, a região que conta com o maior aumento do índice, no mesmo período de tempo examinado, foi a Centro-Oeste, com 30%.
Foto Destaque: Fiocruz aponta que desnutrição causa a maior hospitalização de bebês dos últimos 13 anos no Brasil. Reprodução/Twitter @g1.