Médica comenta os obstáculos do tratamento da cantora Preta Gil
Roberta Saretta acompanhou o tratamento de Preta Gil desde o início no Brasil e seguiu com a cantora para os Estados Unidos, onde Preta veio a óbito

Em entrevista exclusiva ao O GLOBO, divulgada nesta sexta-feira (8), Roberta Saretta, médica que acompanhou Preta Gil desde o início do tratamento, deu detalhes sobre os últimos meses de vida da cantora e sobre como lidou com a progressão da doença. A médica chegou a viajar com Preta para os Estados Unidos, onde ela fazia um tratamento experimental.
Preta Gil faleceu em julho, após complicações causadas por um câncer de intestino. Ela estava em Nova Iorque desde maio, cidade onde realizava o tratamento experimental depois que as terapias tradicionais disponíveis no Brasil não foram suficientes para conter o avanço da doença.
Preta tinha de 6 a 8 meses de vida
Quando questionada sobre o momento mais difícil que viveu ao lado da cantora, Roberta relembrou um episódio no último mês de março. Ela precisou revelar à intérprete de “Sinais de Fogo” que o resultado do PET — exame de imagem que identifica a presença de células cancerígenas — mostrava que o câncer havia se espalhado para outros órgãos, como fígado e pulmão.
“Além do dia da morte, foi quando eu tive de dar a notícia do resultado do último PET, em março. […] Fui na capela do Sírio pedir forças após ver o resultado. Quando entrei para falar com ela, o quarto estava cheio de amigos, como sempre. Perguntei se ela preferia ter a conversa a sós com os médicos. Pela primeira vez, ela pediu para as pessoas saírem”, contou Roberta. A médica disse que sentiu que Preta percebeu algo diferente em seu olhar. “Não tinha como ser diferente, meu vínculo com ela, com a família toda, era e é muito profundo”.
Ao ouvir o diagnóstico, Preta perguntou quanto tempo teria de vida. Saretta estimou entre seis e oito meses. A cantora, então, questionou se não havia mais nada a ser feito ou se restava apenas esperar pela morte. Nesse momento, a médica apresentou a alternativa de um tratamento experimental nos Estados Unidos, cujo objetivo era retardar a progressão da doença.
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Homenagem de Gilberto Gil para Preta Gil, hoje (8) seria aniversário da cantora (Foto: Reprodução/Instagram/@gilbertogil)
Roberta explicou que o tratamento nos EUA consistia em uma terapia-alvo, uma quimioterapia intravenosa que agia contra uma mutação. No entanto, o câncer de Preta apresentava mais de uma mutação. Após quatro sessões, a cantora teve uma infecção e precisou interromper o protocolo, ficando dez dias sem o tratamento. Voltou a realizá-lo, mas após mais uma sessão os médicos notaram que seus rins estavam enfraquecidos e que a doença havia progredido, sendo necessário interromper definitivamente o processo.
Piora no quadro de saúde de Preta Gil
Ao receber a notícia de que não poderia continuar o tratamento, Roberta voou para os Estados Unidos para trazer Preta de volta ao Brasil. Ela chegou a Nova Iorque com Flora Gil, na quinta-feira. Segundo Roberta, Preta ficou aliviada ao vê-la e disse: “Vamos para casa”. Junto à equipe médica que cuidava de Preta nos EUA, Roberta organizou o retorno. Elas viajariam em um avião UTI, que partiria do aeroporto de Long Island, enquanto familiares e amigos seguiriam em voo comercial.
Ao deixar a residência onde passou os últimos meses, Preta apresentava sinais vitais estáveis, medidos por paramédicos da ambulância. Porém, ao entrar na aeronave, passou mal e vomitou. “‘Preta, você dá conta de viajar? Segura mais um pouco?’. E ouvi a resposta: ‘Não dou conta’. Pedi para o paramédico nos levar ao hospital mais próximo. Chegamos em oito minutos. Quiseram reanimá-la e, poucos minutos depois, ela se foi”, contou a médica.
Preta Gil faleceu aos 50 anos, após dois anos de tratamento contra o câncer. Deixou um legado de amor, força e resiliência diante de um diagnóstico terminal, mantendo sempre otimismo e alto astral, mesmo nos momentos mais difíceis.