Irã impede inspeção em usinas nucleares e aumenta tensão com a ONU
Agência de Energia Atômica denuncia falta de acesso ao urânio enriquecido e alerta para risco crescente após bombardeios de Israel e EUA
O Irã voltou a impedir a entrada de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em instalações nucleares atingidas por ataques de Israel e dos Estados Unidos em junho. Segundo relatório confidencial divulgado nesta quarta-feira (12), o país também não permitiu a verificação do estoque de urânio enriquecido, essencial para monitorar o avanço de seu programa nuclear. A última inspeção ocorreu há cinco meses, antes do início do conflito de 12 dias entre Israel e Irã.
A AIEA classificou a ausência de acesso como altamente preocupante e ressaltou que a verificação do material está muito atrasada. O diretor-geral da agência, Rafael Grossi, afirmou que a situação precisa ser tratada com urgência para evitar que o material nuclear atinja níveis próximos aos usados em armas. Segundo o último relatório público, o Irã possui 440,9 quilos de urânio enriquecido a até 60% de pureza, um pequeno passo abaixo do nível de 90%, necessário para uso militar.
O cenário reacende temores sobre o possível avanço do programa nuclear iraniano. Especialistas estimam que, caso o país decidisse militarizar sua produção, teria capacidade de construir até dez bombas atômicas. Embora Teerã negue qualquer intenção bélica, as restrições impostas à AIEA aumentam a desconfiança internacional e colocam em xeque o compromisso do país com o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
Tensões diplomáticas e reações internacionais
Após o conflito de junho, que resultou em bombardeios contra as principais usinas de Fordow, Natanz e Isfahan, o Irã suspendeu toda cooperação com a AIEA. As instalações foram severamente danificadas, e imagens de satélite mostram grandes crateras nas estruturas subterrâneas. Mesmo diante da pressão da ONU e das potências ocidentais, o governo iraniano insiste que seu programa tem fins pacíficos e que pretende reconstruir as instalações destruídas.
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Veja a conversa com Oliver Stuenkel sobre as consequências imediatas da entrada dos EUA na guerra contra o Irã (Vídeo: Reprodução/Instagram/@portalg1)
Em setembro, Grossi chegou a um acordo temporário com o ministro iraniano Abbas Araghchi, no Cairo, que permitiu inspeções limitadas em áreas não afetadas pelos bombardeios. No entanto, o pacto foi rompido semanas depois, quando o Conselho de Segurança da ONU restabeleceu sanções contra o país. Em resposta, Teerã interrompeu novamente a colaboração com a AIEA, classificando as medidas como injustas e politicamente motivadas.
Os Estados Unidos e a União Europeia defendem o uso do mecanismo de snapback, previsto no acordo nuclear de 2015, para reativar automaticamente as sanções internacionais. Washington, sob a liderança do presidente Donald Trump, já advertiu que “novos ataques serão inevitáveis” caso o Irã retome atividades que ameacem a segurança global.
Futuro incerto do programa nuclear iraniano
A falta de transparência do Irã cria um impasse diplomático que ameaça desestabilizar ainda mais o Oriente Médio. O país, pressionado por sanções econômicas e isolamento internacional, tenta equilibrar seu discurso soberano com as exigências da comunidade internacional. Enquanto insiste no direito de enriquecer urânio para fins energéticos, Teerã se vê cada vez mais cercado por desconfiança e vigilância.
A AIEA reforça que a cooperação iraniana é uma obrigação legal, não uma opção. O tratado de não proliferação exige que todos os países signatários permitam inspeções regulares e acesso irrestrito ao material nuclear. Qualquer violação pode resultar em novas sanções e até em medidas militares. Para especialistas, a atual postura do Irã representa “um dos maiores desafios à diplomacia nuclear desde o acordo de Viena de 2015”.
Enquanto as negociações permanecem congeladas, cresce o risco de uma escalada militar. O prolongamento da falta de acesso da AIEA ao material enriquecido pode aumentar a pressão internacional e reacender temores de um conflito direto entre o Irã e potências ocidentais. O impasse, portanto, não é apenas técnico, mas profundamente político e o resultado poderá redefinir o equilíbrio estratégico global nas próximas décadas.
