Semana de Moda de Copenhague aposta em ousadia e retorno de nomes-chave

CPHFW primavera-verão 2026 destaca retorno de Anne Sofie Madsen, estreia da Rave Review e avanços em inovação têxtil e design sustentável

06 ago, 2025
Street Wear CPHFW 2025 | Reprodução/Fashion Network
Street Wear CPHFW 2025 | Reprodução/Fashion Network

A Semana de Moda de Copenhague está na sua metade, mostrando à cidade como um verdadeiro polo criativo no mundo da moda. Nesta temporada de primavera-verão 2026, a irreverência nórdica que já esperávamos se manteve firme, mas também trouxe à tona conversas sobre design circular, identidade regional e novas maneiras de produzir. O street style, sempre um termômetro das tendências do evento, mostrou uma fusão entre o minimalismo funcional e toques excêntricos.

Com um calendário que mistura novos talentos e marcas já estabelecidas, a CPHFW decidiu trazer de volta criadores que foram fundamentais para construir sua reputação nos últimos anos. Ao mesmo tempo, grandes estreias mostraram que o evento também funciona como uma plataforma poderosa para marcas do norte europeu que buscam expandir sua presença no cenário internacional.

Propostas autorais, acessórios impactantes e silhuetas que desafiam a lógica tradicional dominaram as passarelas, refletindo um desejo claro por narrativas visuais mais impactantes.

Anne Sofie Madsen retorna com crítica irônica ao gosto burguês

Um dos momentos mais aguardados da temporada foi o retorno da estilista Anne Sofie Madsen ao line-up oficial da semana de moda. Depois de estar fora do calendário por oito anos, a estilista dinamarquesa se juntou à designer Caroline Clante para apresentar uma coleção que pode ser vista como uma crítica afiada ao imaginário burguês da moda europeia.



Em vez de buscar a aprovação fácil, a dupla decidiu explorar o que já é considerado pela atual geração como “mau gosto” como uma forma de arte, trazendo de volta elementos como suspensórios vintage, boinas no estilo dos anos 1940 e vestidos de festa em tule transparente, tudo isso de maneira propositalmente distorcida.

A coleção desafiou as categorias tradicionais ao criar contrastes entre a alfaiataria estruturada e os tecidos fluidos, além de misturar peças de acabamento bruto com vestidos de construção couture. Um dos acessórios que mais se destacou, entretanto, foram as clutchs brilhantes de acabamento prateado em forma de rato, que foi inspirada em uma escultura do artista Esben Weile Kjær.



A provocação era evidente: transformar o feio em algo desejável e ironizar o que normalmente é visto como “chique”. O resultado foi uma coleção que se destacou por sua coesão mas também por sua inquietude e principalmente provocação, exatamente o tipo de atitude que fortalece o papel cultural da moda escandinava.

Rave Review estreia com coleção delicada e impacto técnico

A sueca Rave Review, conhecida por seu trabalho incrível com upcycling e também seu design arrojado, fez sua estreia na CPHFW após várias temporadas em Milão. Essa transição para o calendário escandinavo trouxe uma nova estética: a marca apresentou uma coleção mais sofisticada, com acabamentos elegantes e uma abordagem visual mais fluida. Mas isso não significa que a sustentabilidade foi deixada de lado; ela continua sendo uma prioridade fundamental. Todas as peças foram feitas com tecidos reaproveitados, especialmente deadstock de casas têxteis italianas.



A coleção apostou em volumes inteligentes, com armações internas que acentuavam os ombros e os quadris, mas sem interferir no conforto. As silhuetas se alongavam, trazendo consigo sobreposições inusitadas, como calças oversized combinadas com tops estruturados. A inspiração veio da artista sueca Marie-Louise Ekman e do movimento Mah-Jong, que foi um precursor da moda consciente nos anos 1970. A sofisticação técnica da coleção, junto com seu compromisso ambiental, destaca a Rave Review como uma das marcas mais relevantes do norte europeu atualmente.

Inovação e colaboração internacional renovam vocabulário da passarela

Entre os lançamentos que estão rompendo barreiras geográficas e tecnológicas, a parceria entre a opéraSPORT, Havaianas e a empresa alemã Zellerfeld resultou em um novo modelo de chinelo impresso em 3D, feito com material reciclável e um acabamento orgânico. Embora tenha chamado a atenção do público e se tornado um verdadeiro fenômeno nas redes sociais, esse calçado é apenas um dos muitos exemplos de como a CPHFW está se consolidando como um espaço para inovações em design sustentável.



Outras marcas estão se unindo em colaborações para ampliar suas ofertas. Um exemplo é a Sunflower, que criou peças com foco em inteligência climática, e a The Garment, que trouxe tecidos inovadores com tecnologia de rastreabilidade digital. Esses avanços mostram a ambição do evento de ir além da estética, propondo um novo sistema de produção que combina inovação, ética e funcionalidade.

Moda de permanência: o retorno sereno de Freya Dalsjø

Depois de seis anos longe das passarelas, Freya Dalsjø fez um retorno discreto, mas cheio de confiança. A nova coleção é uma verdadeira celebração da permanência, tanto do ponto de vista estético quanto político. Ela traz peças de alfaiataria fluida, com tecidos naturais e um cuidado especial com o trabalho manual. Em vez de seguir as tendências passageiras, a estilista dinamarquesa optou por uma paleta neutra e cortes que valorizam o corpo em movimento. Materiais como cashmere, couro trançado à mão e crina de cavalo foram utilizados em criações que priorizam a durabilidade e a intenção.



A apresentação foi recebida como um alívio em meio à agitação estética dos outros desfiles. Ao trazer uma moda que não precisa de traduções constantes, Dalsjø reafirma a força do trabalho manual e da materialidade consciente. Em um evento marcado por novas formas e discursos, sua proposta se destaca exatamente por não tentar reinventar a roda o tempo todo, mas sim, por se aprofundar.

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