Simone Rocha redefine feminilidade em verão 2026
A estilista irlandesa apresenta coleção primavera/verão 2026 em Londres que mistura grandiosidade, vulnerabilidade e elementos de feminilidade distorcida

No cenário elegante da Mansão House, em Londres, Simone Rocha insiste em desafiar expectativas: Verão 2026 não é só sobre vestidos floridos ou cores suaves, mas sobre presença, sobre tensão entre o que parece tradicional e o que grita novo. Sua coleção atravessa o limiar entre debutante e guerreira, entre cristal e vinil, propondo que a feminilidade não precisa caber em molduras já feitas.
Simone Rocha inaugura o Verão 2026 com uma visão que vai além da estética usual: ela incorpora silhuetas amplificadas por crinolinas, strukturas exageradas como panniers, bustles e saias que parecem bailarinas dramáticas em pleno céu cinza londrino. Ela escolhe a Mansão House — símbolo de poder, tradição e formalidade — para exibir essa coleção quase teatral, onde o acabamento sofisticado convive com assimetrias intencionais, recortes audaciosos e ornamentos que tensionam o ornamento. O resultado é um desfile que seduz pela beleza, mas também inquieta pela ousadia de suas imperfeições.
Revisitando Códigos de Feminilidade
Simone Rocha revisita seus próprios códigos — flores, rendas, bordados, volumes delicados — e os subverte, transformando suavidade em força. Enquanto vestidos de flores brotam em cetim e organza, eles são enredados por sobreposições de vinil transparente, salto baixo ou até formas masculinas. É como se cada peça dissesse: “sou romântica, mas não sou frágil”.
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É como se cada peça que esteve na passarela dissesse, "sou romântica, mas não sou frágil" (Vídeo: reprodução/Instagram/@simonerocha_)
O uso de crinolinas exageradas, bustles inusitados e volumes que parecem deslocados propõe uma feminilidade em estado de atenção, quase desconforto. Higgins (sic) silhuetas clássicas ganham assimetria, os acessórios — clutches em forma de travesseiro, laços inesperados — deixam claro que a estilista quer mais do que beleza estética: quer expressão, questionamento, olhar atento para o contraste entre mostrar e proteger.
Espaço, Teatro e Memória de Adolescência
A escolha do espaço para o desfile — Mansão House — não é meramente cenográfica; ela fala de memória, de tradição, como se Rocha transformasse o salão em salão de baile de debutantes, mas acrescentasse o estranho, o não completamente arrumado. Essa atmosfera evoca momentos da adolescência: exposição, desejo de pertencer, medo de julgamento. O desfile torna-se um palco para essas emoções ambíguas.
Inspirações como o livro Girl Pictures, de Justine Kurland, entram nessa equação emocional, bem como textos que entram em diálogo com o processo criativo da estilista. A coleção propõe gestos — dar, receber, estar à mostra — como metáforas vivas. Cada look traz uma história, uma pulsão de identidade que se manifesta no tecido, no movimento, no contraste entre o que se espera e o que de fato acontece.
Simone Rocha não oferece neste Verão 2026 apenas roupas bonitas: ela convoca uma experiência. Ela desafia quem vê a coleção a reconsiderar ideias consolidadas de beleza, exposição e feminilidade. Em Londres, ela mostra que moda pode ser tanto celebração quanto protesto silencioso, e que o verdadeiro poder está naqueles detalhes que ferem, brilham, incomodam — mas também encantam. Verão 2026, para Rocha, é assim: inevitável, intenso e absolutamente presente.