Miu Miu Verão 2026: o avental como símbolo de rebeldia e reflexão
Miuccia Prada transforma o avental em símbolo de resistência e desejo no verão 2026 da Miu Miu, unindo ironia, crítica e feminilidade sem moldes

Paris testemunhou mais uma provocação de Miuccia Prada — dessas que fazem o público rir primeiro e pensar depois. Na manhã desta terça-feira (6), durante a Semana de Moda, a Miu Miu serviu um banquete visual de ironia e introspecção, transformando o cotidiano em discurso. O ponto de partida foi o avental: peça doméstica por excelência, banalizada pela rotina e carregada de significados históricos sobre gênero e trabalho.
Miuccia o retira da cozinha e o leva à passarela, agora revestido de pedrarias, rendas e couro estruturado, desafiando a fronteira entre utilidade e desejo. Ao vesti-lo sobre alfaiatarias e jaquetas oversized, a estilista transforma o que antes representava submissão em um manifesto de autonomia e sofisticação — uma resposta sutil, porém incisiva, à ideia de fragilidade ainda projetada sobre o feminino.
Do lar à passarela: o poder de um gesto
Ao longo da carreira, Miuccia Prada sempre explorou as fronteiras entre o privado e o público, o real e o idealizado. Nesta coleção, o avental — tantas vezes sinônimo de serviço e submissão — ganha novas leituras: aparece sobre calças de alfaiataria, jaquetas estruturadas, camisas oversized e até biquínis, revelando uma sensualidade que é ao mesmo tempo irônica e subversiva.
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Coleção primavera verão 2026 da Miu Miu (Vídeo: reprodução/instagram/@miumiu)
O cenário, com mesas de fórmica coloridas e estética quase burocrática, reforçava o conceito de um “ambiente de trabalho”, onde o ato de vestir torna-se também um ato de contestar. Na beleza, rostos limpos e cabelos desalinhados traduziam a recusa ao artifício, celebrando o imperfeito e o real.
Ironia, crítica e o olhar feminino
Mais do que uma tendência, a coleção funciona como um manifesto. Em tempos de revalorização do arquétipo “trad wife” nas redes sociais — mulheres que idealizam o retorno à domesticidade dos anos 1950 —, Miuccia responde com humor afiado. Ao transformar o avental em fetiche de luxo, ela devolve às mulheres o controle sobre a própria imagem.
Entre babados, rendas e transparências, a Miu Miu reafirma seu espaço como laboratório do female gaze: um olhar que entende a moda não como prisão estética, mas como ferramenta de expressão, crítica e desejo.
A presença de figuras como Sandra Hüller e Milla Jovovich, desfilando lado a lado de modelos jovens, traduz essa pluralidade de experiências — uma forma de lembrar que o feminino é múltiplo, imperfeito e, acima de tudo, livre.