Lucas Caslú transforma moda em performance na Casa de Criadores

Com coleção marcada por rupturas visuais, jovem goiano estreia no line-up oficial do evento com peças autorais que misturam arte, memória e expressão

23 jul, 2025
Lucas Caslú e suas criações que foram apresentadas no desfile | Reprodução/Sou de Algodão
Lucas Caslú e suas criações que foram apresentadas no desfile | Reprodução/Sou de Algodão

No primeiro dia da 56ª edição da Casa de Criadores, quem roubou a cena foi Lucas Caslú. Vencedor da última edição do Desafio Sou de Algodão, o designer goiano estreou no line-up oficial do evento com a coleção “Experimentos”, uma explosão de criatividade, coragem estética e sensibilidade artística.

Mais que um desfile, a Caslú apresentou uma performance cheia de vida. A passarela da sala Tarsila do Amaral, no Centro Cultural São Paulo, se tornou um palco para uma narrativa visual intensa, onde moda, artes plásticas e música se comunicavam em tempo real. Máscaras cenográficas, texturas contrastantes e composições ousadas deram o tom da apresentação – um espetáculo em que cada look parecia, à sua maneira, reivindicar o direito de ser arte.

Estreia com peso e poesia

Natural de Goiânia, Lucas Caslú tem moldado sua linguagem autoral ao misturar o cotidiano com o onírico. Em “Experimentos”, o estilista se aprofundou em seu próprio repertório pessoal para criar peças que resgatam seus mais diversos croquis antigos, seus estudos já esquecidos e ideias que ressurgem com novos significados. O resultado disso tudo foi uma coleção que não buscou uma coerência formal, mas sim uma harmonia espontânea de forma quase instintiva, como se estivesse costurando lembranças com o fio da invenção.


 


Criação de Lucas Caslú (Foto: Reprodução/Instagram/@lucascaslu)

Diferente do que encontramos no desafio anterior, onde os looks se destacavam pela leveza e harmonia, Caslú agora nos surpreende com uma proposta rica em contrastes e surpresas. Cada look carrega uma identidade própria, sem medo do excesso. Jeans, sarja, tricoline e voil se encontram em sobreposições nada convencionais, criando texturas e volumes que desafiam as convenções da silhueta.



As máscaras que os modelos usaram – que realmente chamaram a atenção do público e da crítica – não são apenas um acessório, mas sim uma extensão do conceito central: o sujeito híbrido, fragmentado e em constante transformação. Algumas delas foram criadas em colaboração com artistas visuais, como Ivaan Hansen, o que reforça o desejo de Caslú de ultrapassar as fronteiras entre moda e arte.

Moda que se move com o tempo

A Casa de Criadores é voltada sobre valorizar a autoria e a expressão da identidade, os princípios que se refletem de maneira poderosa no trabalho de Caslú. Optar pelo algodão como material principal vai além de uma escolha técnica; é uma decisão política que reafirma a conexão com um tecido que representa ancestralidade, sustentabilidade e a transformação cultural no Brasil.


Finalização do desfile de Lucas Caslú na 56ª edição da Casa de Criadores (Vídeo: Reprodução/Instagram/@mosomagazine)

Mais que roupas, o que se viu na passarela foram verdadeiras manifestações. Franzidos, babados, costuras manuais, assimetrias e recortes inusitados compuseram um grandioso mosaico visual que parecia pulsar com urgência na passarela. Há algo de teatral em “Experimentos”, mas sem perder o vínculo com a rua – um equilíbrio raro entre o conceitual e o possível.

Nova geração, novos caminhos

Com a estreia de Lucas Caslú, a Casa de Criadores se reafirma como um espaço que destaca uma nova geração de estilistas brasileiros, que enxergam a moda como um gesto tanto político quanto poético. Caslú representa essa juventude vibrante e cheia de referências, que não se satisfaz em apenas “estar na moda”, mas busca realmente transformá-la.


Lucas encerrando seu desfile na 56ª edição da Casa de Criadores (Foto: Reprodução/Instagram/@lucascaslu)

Com formação em Moda pela Universo e uma passagem pela Universidade Federal de Goiás no curso de Artes Visuais, o designer representa perfeitamente a diversidade do seu tempo: ele é artista, artesão, performer e comunicador. E mais do que prometer, já entrega consistência e personalidade.

Como o próprio estilista declarou antes do desfile, esse momento marca não apenas uma estreia, mas uma permanência. “Sinto que é aqui que preciso estar, onde posso fazer moda com significado”, disse Caslú em entrevista.

Sua performance deixou claro: o futuro da moda brasileira já começou — e ele veste máscaras, algodão cru e coragem.

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