Chanel lança Nevold e entra de vez na corrida pela sustentabilidade na moda de luxo

Chanel investe até €80 mi em centro independente que transforma resíduos de luxo em novos tecidos com foco em circularidade e inovação sustentável

11 jun, 2025
Loja da marca de luxo Chanel |
Reprodução/Bloomberg/Bing Guan
Loja da marca de luxo Chanel | Reprodução/Bloomberg/Bing Guan

Reforçando seu compromisso com a sustentabilidade sem perder o glamour característico de seu legado, em um novo movimento a Chanel apresentou ao mundo a Nevold — uma plataforma independente e colaborativa que promete revolucionar a circularidade no setor do luxo atual. O nome, um acrônimo de “Never Old”, já antecipa qual será a proposta do projeto: reinventar materiais têxteis e dar nova vida ao que antes seria descartado como lixo.

Com um investimento estimado entre 50 e 80 milhões de euros (cerca de 318 a 509 milhões de reais), a Nevold nasce em forma de hub B2B (business-to-business) cuja característica é unir empresas, startups e instituições acadêmicas em torno de um objetivo em comum: no caso, criar, escalar e estruturar os materiais de amanhã. Tudo isso respeitando os critérios de excelência do alto luxo — como a Chanel sabe fazer como ninguém.

Moda circular com assinatura de luxo

Sob o comando de Sophie Brocart — ex-CEO da Patou, engenheira de formação e referência em inovação sustentável — o centro irá desenvolver fibras com base em materiais reciclados e regenerados, como couro, cashmere, lã, algodão e seda. A ideia principal do projeto é mesclar esses elementos com fibras virgens que sejam de origem rastreável, assim criando tecidos que irão alinhar qualidade, responsabilidade ambiental e também estética refinada.


Look Rosa outono inverno 2025/26 Chanel

Look rosa coleção outono inverno 2025/26 da Chanel (Foto: Reprodução/Chanel)

A Nevold, mais do que um laboratório criativo é um ecossistema estratégico que irá operar de forma independente da marca Chanel, o que viabilizará novas parcerias com outras marcas de moda, bem como indústrias de esporte, hotelaria e vestuário corporativo — ampliando ainda mais o impacto já positivo da iniciativa para além do ateliê parisiense.

Entre os braços que compõem o projeto, estão empresas já ligadas à maison como a L’Atelier des Matières, que coleta estoques mortos e sobras de produção; a Filatures du Parc, especializada em fiação de lã reciclada; e a Authentic Material, referência em reaproveitamento de couro e fibras naturais.

Muito além do greenwashing

Em tempos em que a sustentabilidade virou palavra-chave (e, muitas vezes, marketing vazio), a Chanel parece buscar um caminho mais sólido e comprometido com o futuro da moda. Segundo Bruno Pavlovsky, presidente da divisão de moda da maison, o desafio não é só técnico, mas cultural:

“Começamos nos perguntando o que acontece com os materiais que não chegam a ser transformados em produto final, ou com aqueles que chegam ao fim da sua primeira vida útil. A Nevold é o sistema que nos permite explorar esse potencial”.

Ainda segundo ele, a intenção não é substituir a identidade criativa da Chanel ou tornar a casa 100% reciclada da noite para o dia. “Criar um sonho continua sendo nossa prioridade. Mas, se não começarmos agora, jamais estaremos prontos para o que vem depois.”

Uma nova era para o luxo?

A Chanel não está sozinha nessa virada: outras gigantes como LVMH (Louis Vuitton, Dior) e o grupo Kering (Gucci, Balenciaga) já investem em tecnologias de reaproveitamento e plataformas de revenda. A diferença é que a nova plataforma Nevold nasceu em forma de entidade aberta, funcional e com ambição de escala real, o que pode colocá-la como um dos grandes players na transformação do setor da moda atual.


Logo Nevold

Logo apresentado para a plataforma Nevold (Foto: Reprodução/Nevold)

Enquanto consumidores de moda, celebramos toda essa nova movimentação no setor — mas também seguimos de olhos atentos e abertos. Afinal, falar de sustentabilidade na moda é falar de cadeia produtiva, consumo consciente e também valorização de quem faz todo o processo. Resta saber se o luxo, que é historicamente ancorado em excessos e exclusividade, estará pronto para esse novo capítulo que se inicia.

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