Alaïa Verão 2026: o silêncio da forma, a força do gesto e o desejo contido
Pieter Mulier apresenta Alaïa Verão 2026 em Paris, explorando o silêncio da forma, a força do gesto e o desejo contido em cada peça

Em uma manhã chuvosa em Paris, Pieter Mulier fez a cidade despertar mais cedo para um espetáculo de contenção e desejo. O diretor criativo da Alaïa transformou o espaço da Fundação Cartier em um espelho duplo — literalmente. O teto refletia cada passo das modelos, enquanto painéis de LED projetavam closes de seus rostos no chão, fazendo o público observar moda e emoção de forma simultânea. O cenário, minimalista e imersivo, antecipava o tom do desfile: introspectivo, humano e profundamente sensorial.
Entre os convidados, nomes como Kim Kardashian, Cynthia Erivo e Milla Jovovich marcaram presença, mas a atenção se voltava para a passarela. Ali, as peças surgiam como esculturas em movimento — vestidos com barras diagonais, franjas suspensas, túnicas estruturadas e saias que pareciam se moldar ao corpo com naturalidade precisa. Mulier retomou a essência artesanal da maison, equilibrando rigor e fluidez com uma harmonia quase meditativa.
Entre a contenção e o desejo
A coleção nasce de formas elementares — triângulos, ovais e retângulos — que se traduzem em peças que protegem o corpo e, ao mesmo tempo, o revelam. O designer trabalhou com apenas quatro materiais: algodão, seda, couro e píton. No lugar do excesso, texturas. No lugar do enfeite, o gesto. Plissados e tassels se movem de forma irregular, quebrando a linearidade e criando um diálogo entre rigidez e leveza.
Desfile da coleção primavera verão 2026 da Alaïa (Vídeo: reprodução/Youtube/@FFChannel_official)
As cores — preto, branco, bege e marrom — são pontuadas por vermelho, verde-limão e amarelo, um respiro entre tons de silêncio. Há uma beleza quase terapêutica nessa ideia de “puxar e soltar” que o próprio Mulier definiu: uma metáfora para o ato de vestir e sentir. Em meio à tensão do mundo contemporâneo, ele propõe uma nova sensualidade — não a que grita, mas a que respira.
O legado de Alaïa reescrito por Mulier
Nos looks finais, o designer recorreu aos moldes originais de Azzedine Alaïa, com volumes balão e estruturas infladas que flutuam entre o clássico e o experimental. Há reverência, mas também ousadia: Mulier entende que herança não é repetição, e sim transformação. Ao reinterpretar os códigos da casa, ele redefine o que é espetáculo — deslocando-o da cenografia para a costura.
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Detalhes da coleção primavera verão 2026 da Alaïa (Vídeo: reprodução/Instagram/@maisonalaia)
“Fazer roupas que choram”, como o próprio designer descreveu, é talvez a definição mais precisa desta temporada. Cada dobra, recorte e textura parecem carregar emoção e movimento. Entre o espelho e o corpo, a Alaïa reafirma que a verdadeira performance está no gesto humano — e na beleza que existe quando a moda volta a sentir é talvez a definição mais precisa desta temporada. Entre o espelho e o corpo, a Alaïa reafirma que a verdadeira performance está na costura — e na emoção que ela desperta.