As decisões de Donald Trump em relação às tarifas de importação continuam provocando desdobramentos significativos na economia global. Inicialmente, ele anunciou uma pausa de 90 dias na imposição de novas tarifas, limitadas a 10%. A China foi a única exceção, com 125% de aumento. Essa instabilidade afetou desde o setor de entretenimento até indústrias estratégicas como a moda.
Balança comercial desequilibrada entre gigantes
Em 2024, as trocas comerciais entre China e Estados Unidos somaram US$ 585 bilhões. A China vendeu US$ 440 bilhões para o mercado americano, enquanto os EUA enviaram US$ 145 bilhões para a China. Essa diferença demonstra a grande dependência dos Estados Unidos em relação à produção chinesa de eletrônicos, baterias, brinquedos e equipamentos de telecomunicação. Os produtos mais exportados do lado americano foram soja, petróleo, aeronaves e insumos farmacêuticos. As duas nações são 43% da economia mundial, o que torna qualquer atrito comercial entre elas um problema global.
Navio cargueiro (Foto: reprodução/Spencer Platt/Getty Images Embed)
Tarifas afetam produção e consumo
O setor de vestuário sente fortemente os impactos da guerra comercial. A China é o maior fornecedor de roupas para os EUA, respondendo por cerca de 30% do mercado. Como os EUA importam praticamente toda a sua moda — 98% das roupas e 99% dos calçados —, as tarifas tornam esses produtos mais caros. Isso já afetou ações de grandes marcas, como Nike, Ralph Lauren e Lululemon. A United States Fashion Industry Association (USFIA) advertiu que os consumidores de baixa renda serão os mais afetados, assim como as mulheres, devido ao aumento da carga tributária sobre as roupas femininas— uma consequência direta do chamado "imposto rosa".
Trabalhadores chineses em uma confecção de roupas (Foto: reprodução/NUR PHOTO/Getty Images Embed)
Sustentabilidade em risco e pressão global
As novas tarifas também geram consequências socioambientais. Com margens de lucro reduzidas, marcas podem cortar investimentos em práticas sustentáveis e direitos trabalhistas. De acordo com Kenneth Pucker, professor da Tufts Fletcher School, as fábricas podem fechar e perder milhares de postos de trabalho, especialmente entre os mais vulneráveis.
A China, por sua vez, busca alternativas para seu excedente de produção, mirando o mercado europeu com preços extremamente baixos, até abaixo do custo de produção. A USFIA resumiu bem o cenário: “Ninguém vence em uma guerra comercial”. O desejo agora é que os aumentos tarifários levem a negociações mais maduras e a soluções comerciais eficazes entre as duas potências.
Foto destaque: trabalhadoras chinesas em uma oficina de costura (Reprodução/FANG DONGXU/Getty Images Embed)