Todas as opções de roupas que você encontra nas lojas são desdobramentos do movimento prêt-à-porter. A alta-costura ajudou a revolucionar a moda e o jeito como nos vestimos no dia a dia. Ao ditar tendências, também facilitou o trabalho das fast-fashions.
Você pode perguntar à editora-chefe da Vogue norte-americana e rainha da moda, Anna Wintor, ou pra sua colega de trabalho. As roupas que encontramos em lojas de departamento ou nas boutiques de luxo têm todas a mesma lógica: estão prontinhas para serem usadas.
Hoje, pode parecer banal falar disso, mas houve tempo em que o comum era adquirir tecidos e costurar as próprias roupas ou herdar peças doadas por outras pessoas. Por incrível que pareça, essa revolução ocorreu graças às guerras e à necessidade de uniformizar os combatentes.
Produção artesanal e exclusiva para classes altas foi substituída pelo prêt-à-porter. Reprodução/Pexels
Da produção artesanal à fábrica
Na maior parte da história da humanidade, roupa era artigo de luxo. A produção demandava várias etapas, desde fazer o tecido até o desenho do modelo e a costura, tornando o processo de alto custo.
Por isso, por muitos séculos, o mercado da moda só se dirigia às classes mais altas, que detinham meios de pagar pelas roupas. Foi assim que o nome alta costura surgiu, já que comprar peças prontas era coisa só de rico.
Tudo começou a mudar quando a produção foi industrializada e introduzida na lógica da fábrica, mais barata e rápida. Isso só foi possível pelas condições de guerra. No combate de 1812 entre Estados Unidos e Reino Unido, houve um desenvolvimento tecnológico no mercado têxtil para atender à produção de uniformes dos militares que iam para a batalha.
Do prêt-à-porter ao fast fashion
O contexto logo após a Segunda Guerra Mundial, de desenvolvimento industrial, nos anos 1950, tornou propícia a ascensão de um modelo de negócio baseado na confecção padronizada. A prática nasceu nos Estados Unidos e foi chamada de ready-to-wear.
Naquele momento, as roupas passaram a ser feitas em larga escala, em tamanhos e modelos padronizados, prontos para uso. Logo, a ideia das roupas sob medida se espalhou pelo mundo.
Como a França era - e ainda é - a capital da moda, de onde saem as principais tendências, o termo mais difundido acabou sendo o na língua francesa: prêt-à-porter quer dizer pronto para usar. Quem popularizou a expressão foi o estilista J.C. Weil.
O fast-fashion levou o conceito de produção em massa ao extremo e tornou o hábito de consumo na moda mais imediatista e descartável.
Prêt-à-porter permitiu a confecção padronizada e a democratização da moda. Reprodução/Pexels
Democratização da moda pós-1950
Essa é a história que nos traz aos dias de hoje, em que o acesso ao mercado têxtil é muito maior. Há produção para as mais diversas camadas da sociedade, com preços acessíveis.
No entanto, essa democratização ainda precisa de melhorias. A padronização em tamanhos não atende necessariamente a todos os corpos, e as tendências acabam ditando o que está à venda nas vitrines.
Outro ponto é a pouca qualidade e duração de algumas peças, fazendo do uso muito mais descartável. Não à toa, movimentos de moda cíclica e sustentável ganham terreno no século 21.
Foto de capa: Desfile da Chanel lança coleção Cruise 2023/2024. Reprodução: Divulgação