Na sessão de diálogos da revista Marie Claire, as histórias contadas da vez foram a das modelos Pathy Dejesus e Natasha Soares. As duas conversaram sobre a carreira como modelo, além da conquista da mulher preta no mundo da moda.
Atualmente com 46 anos de idade, Pathy Dejesus iniciou sua carreira como modelo no ano de 1994, com seus 17 anos. Posteriormente, no ano de 1995, Patrícia Dejesus foi a primeira modelo negra a desfilar na passarela da primeira edição da São Paulo Fashion Week.
Modelo e atriz Patrícia Dejesus (Foto: Reprodução/Instagram/Vivi Bacco)
Em 2017, foi a vez de Natasha Soares iniciar sua carreira. Sendo assim, Natasha, de apenas 17 anos, idade com que Pathy Dejesus iniciou, foi a responsável pela cocriação do Projeto Sankofa e também do Pretos na Moda, ambos com o intuito de ampliar a representatividade negra no mercado da moda.
Modelo Natasha Soares (Foto: Reprodução/Instagram/@natashasoares__)
A luta de Natasha teve como resultado pelo menos metade de pessoas negras inseridas no casting de modelos da São Paulo Fashion Week, além da entrada também de novos criadores, também pretos.
Em uma parte da conversa, que configurou um encontro de gerações, Pathy Dejesus e Natasha Soares puderam trocar experiências. Nat, por exemplo, ressaltou a importância que o caminho trilhado anteriormente por Pathy teve para a sua jornada, uma vez que ambas possuem a luta de uma mulher preta no mundo da moda: ‘’Na sua época, acredito que a dificuldade para uma mulher preta estar nessa posição era muito maior. Só que a gente não chegaria até aqui se você não tivesse passado os perrengues que passou lá atrás’’. Natasha continuou: ‘’Então, não é sobre o agora, mas sobre a construção que aconteceu ao longo do tempo. É, literalmente, uma pirâmide feita pedrinha por pedrinha.’’
Pathy Dejesus e Natasha Soares (Foto: Reprodução/Vogue Brasil/Karla Brights)
Patrícia Dejesus revelou para Natasha Soares que seu primeiro trabalho como modelo foi no ano de 1994. No entanto, confessou que apesar de ter ‘’alcançado o topo’’ que muitas meninas negras ainda não haviam alcançado, o entendimento sobre o quão isso era perigoso veio com o passar do tempo.
Isto porque Patrícia disse que o fato dela ter chegado sozinha como mulher preta passava a não valer de nada, uma vez que não haviam outras como ela no mesmo local: ‘’Pensava: de que adianta estar aqui e não ter outras como eu? As poucas vezes em que eu tentava falar, eu era silenciada e, quando não, era algo como: “Você é a única top negra que está aqui. Olha que foda!”. Tipo, “contente-se com isso, fique quieta”, sabe? Isso começou a me adoecer’’, confessou ela.
Além dessas questões, Pathy também relembrou um fato que acontece com frequência ainda nos dias de hoje: a ausência de tons de base para a pele negra. ‘’Nessa época, eu pegava uma grande campanha e comemorava, chegava lá e não tinha uma base para o meu tom de pele’’, disse ela.
Em uma parte da conversa sobre a diversidade dos corpos na passarela, Nat afirmou que a negritude já abriu um espaço amplo para que fosse firmada a inclusão de todos os corpos.
Natasha ressalta o fato de estarmos vendo com frequência corpos pretos tanto na produção como em capas de revista da moda. No entanto, disse que não tem como afirmar que há a inclusão completa dos corpos plus size: ‘’Agora, em relação a corpos maiores, continuamos sendo tratados como token. Não tem como eu te falar que a moda está de fato abraçando corpos plus porque ela não está’’.
Pathy de Jesus e Nat Soares (Foto: Reprodução/Vogue Brasil/Karla Brights
Pathy citou uma ocasião em que deixou de participar de uma capa de revista após ter solicitado a participação de um(a) profissional de beleza preto(a) no time e terem recusado.
Sobre essa situação, em resposta, Natasha Soares disse que não é possível falar de uma postura acolhedora, já que enquanto pessoas brancas forem a maioria no mundo da moda, ela seguirá no ritmo que está hoje.
Foto destaque: Patrícia Dejesus e Natasha Soares. Reprodução/Vogue Brasil/Karla Brights
