Na noite de 5 de maio de 2025, o Metropolitan Museum of Art, em Nova York, se tornou palco de mais que um desfile de moda. Foi palco de uma afirmação cultural. Com o tema “Superfine: Tailoring Black Style”, o Met Gala deste ano escolheu celebrar o Dandismo Negro — estilo marcado pela sofisticação estética e pela força política de homens negros ao longo da história, que usaram a moda como linguagem de orgulho, dignidade e resistência.
O que é o Dandismo Negro?
O termo dândi surgiu no século XVIII, com homens que usavam a vestimenta para expressar refinamento e status. Mas, quando homens negros se apropriaram desse estilo, ele ganhou uma nova dimensão: virou símbolo de enfrentamento à opressão, uma forma de dizer “eu existo, eu importo e eu mereço ser visto”.
Baseado no livro “Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity”, de Monica L. Miller, o tema deste ano buscou resgatar e honrar essa trajetória — da época colonial aos tempos atuais, unindo tradição e vanguarda em cada costura.
Co-anfitriões que fazem história
Pela primeira vez, o Met Gala teve um comitê de co-presidentes formado exclusivamente por homens negros. Colman Domingo, A$AP Rocky, Pharrell Williams e Lewis Hamilton dividiram a missão com a tradicional anfitriã Anna Wintour. LeBron James também marcou presença como presidente honorário da noite.
Essa escolha não foi apenas simbólica. Foi um marco. Uma declaração clara: homens negros também são protagonistas da moda global, não apenas musas ou referências distantes.
Destaques que desfilaram com propósito
Colman Domingo: luxo, memória e realeza
O ator e diretor Colman Domingo desfilou pelo tapete com uma elegância que transcendeu a estética. Vestindo um terno da Valentino sob uma capa azul-real cravejada de detalhes cintilantes, Domingo prestou homenagem ao lendário editor de moda André Leon Talley. A imponência da capa ecoava os tempos áureos de Talley, enquanto o toque contemporâneo do look reforçava sua originalidade.
Mais cedo no mesmo dia, Colman surgiu na conferência do Met com um terno feito sob medida por Oswald Boateng e um chapéu Kangol inclinado, reforçando sua reverência aos ícones da moda negra que abriram caminho para artistas como ele.
Colman Domingo brilhou com um terno da Valentino e uma capa azul-real que prestava homenagem a André Leon Talley, lendário editor de moda (Foto: reprodução/ANGELA WEISS / Getty Images Embed)
A$AP Rocky: Harlem na passarela do mundo
Estilo urbano encontra sofisticação clássica. Assim pode ser descrita a entrada de A$AP Rocky no Met Gala 2025. O rapper, estilista e agora co-presidente do evento apareceu com um conjunto exclusivo da AWGE, sua marca autoral. Inspirado nos casacos Marmot usados no Harlem, Rocky apresentou uma parka dupla face, calças de lã e acessórios de uma colaboração inédita com a Christian Louboutin.
Em entrevista, Rocky não escondeu o entusiasmo: “Essa é a fase da minha carreira em que mais me identifico com meu estilo. Nunca me senti tão eu”.
A$AP Rocky, sempre provocador e estiloso, desfilou com um look da AWGE, sua própria marca (Foto: reprodução/Kevin Mazur/Dia Dipasupil / Dimitrios Kambouris / Getty Images Embed)
Pharrell Williams: o poder das pérolas
Pharrell Williams, diretor criativo masculino da Louis Vuitton, fez jus à sua posição com um look simplesmente memorável: um blazer cravejado com 100 mil pérolas. Isso mesmo. Foram 980 horas de trabalho da equipe criativa da Louis Vuitton para entregar a peça, que simbolizava o requinte e a resistência dos homens negros da classe trabalhadora.
Sua companheira, Helen Lasichanh, brilhou ao seu lado com um corset de couro e meias personalizadas da grife francesa — uma dupla que sempre entrega conceito e beleza.
Pharrell Williams, atual diretor criativo masculino da Louis Vuitton, roubou a cena com um blazer bordado com 100 mil pérolas, confeccionado em 980 horas (Foto: reprodução/Savion Washington/Kevin Mazur/Dimitrios Kambouris/Getty Images Embed)
Lewis Hamilton: da pista para o tapete vermelho
A estreia de Lewis Hamilton como co-presidente do Met Gala foi marcada pela classe e pelo comprometimento com sua causa. O piloto de Fórmula 1 apostou em um terno creme da designer Wales Bonner, acompanhado de uma boina combinando e um broche vintage.
Famoso por apoiar estilistas negros emergentes, Hamilton resumiu seu momento com simplicidade: “A moda sempre foi um grito de liberdade para nós. É sobre resistir, expressar e existir”.
Lewis Hamilton, piloto de F1 e estreante como co-presidente do evento, optou por um terno creme da Wales Bonner, boina e broche vintage (Foto: reprodução/Matt Crossick/ ANGELA WEISS/Getty Images Embed)
Anna Wintour: a guardiã da elegância
Como manda a tradição, Anna Wintour encerrou (ou iniciou?) a noite com seu toque de classe. Com um vestido pastel bordado e uma capa com detalhes em penas, a editora-chefe da Vogue manteve-se fiel ao seu estilo icônico — discreto, porém inesquecível.
Anna Wintour, por sua vez, manteve o legado de anfitriã com um vestido pastel bordado e capa de penas (Foto: reprodução/ANGELA WEISS/Getty Images Embed)
Moda como expressão política
Mais do que brilhos e tecidos de luxo, o Met Gala 2025 ofereceu um olhar profundo sobre o poder da moda como instrumento de afirmação. O dandismo negro foi mostrado não apenas como estética, mas como estratégia: uma forma de resistir, de se destacar em um mundo que insiste em invisibilizar.
A exposição “Superfine: Tailoring Black Style”, que seguirá aberta ao público até 26 de outubro no Metropolitan Museum, mergulha nessa narrativa com peças históricas, depoimentos e muita emoção.
Elegância que transforma
O Met Gala 2025 foi um lembrete de que a moda é muito mais do que aparência — é identidade, é política, é memória. Cada look, cada gesto, cada presença negra naquela escadaria foi um grito silencioso de beleza, poder e pertencimento.
Afinal, quando a moda encontra propósito, ela deixa de ser tendência para se tornar legado.
Foto destaque: Os copresidentes, o Met Gala 2025 celebra "Superfine: Tailoring Black Style" (Reprodução/ Arthuro Holmes/Getty Images Embed)