Após a temporada de desfiles na cidade de Paris, conseguimos observar um caminho que as grandes "Maisons" seguiram: a “calmaria”. Apesar das redes sociais serem grandes plataformas para uma vitrine de venda para as próximas gerações e uma maneira de manter uma marca de luxo circulando no buzz do desejo, a indústria entendeu que não é preciso se resumir a isso. A era do “exagero” deixou de ser algo muito atrativo e o que podemos esperar é que os profissionais que estão de frente às criações tenham esse equilíbrio entre os novos termos e a valorização da peça que está na mão do artesão.
Desfile Chanel (Foto:Reprodução/Chanel/Divulgação)
A indústria entendeu que é necessário celebrar as tradições por trás de cada alinhavar ou pence da alfaiataria, um espaço que havia sido esquecido pelo desejo da pressa em atingir patamares de “likes”. Portanto, a pressa agora é pela calmaria e pela lembrança do verdadeiro significado do luxo, traduzidos em produtos que demoram dias para serem finalizados, em respeito ao tempo. Miuccia Prada e Gigio Armani são grandes nomes de marcas que mostram esse reflexo do que está acontecendo. Há anos eles vêm seguindo por esse caminho e cientes para onde a moda vai caminhando.
Desfile da Hermès (Foto:Reprodução/Hermès/Divulgação)
A análise é de Renata Brosina, jornalista e editora de moda com foco no luxo e sustentabilidade: “A confirmação do movimento veio através de Paris, grifes mantiveram suas heranças como Hermès seguiu com a elegância sem esforço desenvolvida por Nadège Vanhee-Cybulski; o “mais do mesmo” (no bom sentido) de Maria Grazia Chiuri para a Dior foi impecável, carregado de elementos-chave que vieram do Dior Heritage (prédio onde está o arquivo da Maison desde a época de Christian Dior); e a Louis Vuitton com o olhar arquitetônico de Nicolas Ghesquière que traz uma coleção mais relaxada para o tailoring e mais armada para os vestidos. Como a Maison não é conhecida pelo prêt-à-porter, que foi criado em tempos de Marc Jacobs, Ghesquière optou por trazer as referências para as suas bolsas — uma delas remete às placas com nomes das ruas parisienses. Sabemos que vai ser hit na internet, mas, talvez, com um viés menos pretensioso do que vimos temporadas passadas”, escreveu a jornalista para a revista Claudia.
Desfile da Louis Vitton (Foto:Reprodução/Louis Vitton/Divulgação)
A estética “básica” iniciou-se na temporada de moda masculina de inverno 2023. Dolce & Cabbana e Gucci, grandes nomes conhecidos pela estética maximalista, renderam-se ao novo ritmo “menos é mais”. Quando Miu Miu apresentou seu inverno 2023, a estranheza nas peças que apareceram mais “limpas” do que visto em temporadas anteriores, onde a marca se tornou uma grande queridinha da geração Z, era notória. Assim como Gabriela Hearst, diretora criativa da Chloé, sentiu o impacto cansativo de “criar para a internet”, onde deixou de lado prioridades relacionadas à roupa, para uma nova explosão na internet.
Desfile da Miu Miu (Foto:Reprodução/Miu Miu/Divulgação)
A simplicidade não vinha de uma grande visibilidade com os posts virais no Instagram ou TikTok, principais redes que trazem trends e ditam tendências nos últimos anos, porém, não incomodou quem ainda prezava pelo trabalho feito a mão, minimalismo e elegância. Paris foi o ponto-chave em mostrar que as tradições são base sólidas e desejáveis para quem acompanha o mundo da moda e para abrir a visão do “novo”, já conhecido, mas que voltou com força e desejo para muitos.
Foto Destaque: Desfile Fall Winter 2023 da Chanel:Reprodução/ Chanel/Divulgação