Nesta terça-feira (28), no Jardin des Tuileries, em Paris, a estilista Maria Grazia Chiuri apresentou sua coleção inverno 2023 para a Dior. A estilista trouxe de volta à passarela os anos 1950, porém, com o objetivo de mudar a imagem retrógrada da década citada. Nos bastidores, a estilista afirmou que a imagem que buscou trasmitir foi a recuperação de uma França dos anos 1950, visto que o país foi monopolizados na memória popular pelos Estados Unidos de forma diferente, ao invés de suéteres pastel e milk-shakes, café preto forte e vestidinhos pretos para combinar, era a estética de Juliette Gréco e da sociedade de cafés da Rive Gauche de Paris: “Percebi que, como muitos estrangeiros, grande parte da minha imagem da França foi formada por Paris vista pelas lentes americana”, relatou a estilista, referindo-se às imagens românticas do fotógrafo norteamericano Richard Avedon, bem como aos filmes de Hollywood.
Chiuri ainda foi em busca da história feminina francesa dos anos 50, tendo como inspirações de musas para a temporada: Catherine Dior, Juliette Gréco e Édith Piaf. A estilista explica que apesar de viverem vidas muito diferentes, as musas compartilhavam um sentimento de rebeldia em comum e que adoravam vestir preto.
Dior volta aos anos 1950 com abertura da semana de moda de Paris (Foto: Filippo Fior:Reprodução / Gorunway.com)
Catherine Dior, irmã do fundador da casa, Christian, era uma integrante da resistência francesa, que reunia informações sobre a movimentação de tropas e navios de guerra alemães sob o codinome “Caro”. Catherine foi presa e enviada para um campo de concentração de Ravensbruck antes de escapar em 1945, e mais tarde, premiada com a Légion d’honneur francesa. Sua forma emaciada e personalidade traumatizada foram catalizadorres fundamentais para seu irmão, cuja silhueta New Look pós-guerra foi, em parte, uma tentativa de dar esperança e otimismo a mulheres como sua irmã, que sofreram durante a guerra.
Collab: Joana Vasconcelos x Dior (Reprodução/Joana Vasconcelos/Instagram)
O grande cenário do desfile veio de uma colaboração inédita com a artista portuguesa Joana Vasconcelos, onde criou instalações imersivas para o desfile. VALKIRIE MISS DIOR, chama-se uma monumental escultura site-specific, têxtil e inteiramente feita à mão, com cerca de 24 metros de extensão por sete de altura, cujo peso supera a tonelada. A artista ainda explica que foram incorporados 20 tecidos da coleção, que dialogam com as modelos e com o público, integrando uma forte componente coreográfica, celebrando o diálogo entre os corpos presentes, a roupa habitada e o espaço em questão, entre a alta costura e as artes visuais.
O desfile trouxe grandes símbolos da história da marca para a passarela como a saia em A, silhueta com linhas equilibradas e a delicadeza esguia que a Dior passou a incorporar na segunda metade dos anos 1950, quando a efervescência inicial do New Look de saia rodada deu lugar à linhas mais gráficas. Peças que remetiam à personalidade de suas grandes inspirações, assim como, o tailleur bar, o cannage, o comprimento mídi e os casacos curtos. Destaque que não passou despercebido, uma boina preta e uma camisa com a frase “Je Ne Regrette Rien”, em tradução livre (não me arrependo de nada), representando o espírito de Édith Piaf.
Um detalhe importantíssimo, considerado uma diferença crucial de atitude alcançada, foi o uso de tecidos modernos, em vez de recriar os antigos, onde em 1950, as roupas eram mais rígidas, as versões de 2023 usam seu grande volume levemente. “A maneira como posso fazer roupas agora é menos como escultura, é menos preciso, menos sobre a perfeição. Eu gosto mais dele, tem mais calor”, relatou Chiuri.
A coleção foi uma visão sombria e chique dos anos 50, onde Chiuri prezou pela sobriedade ao enfatizar desenhos e recortes clássicos e uma técnica impecável.
Foto Destaque:Dior volta aos anos 1950 com abertura da semana de moda de Paris :Reprodução/Filippo Fior/ Gorunway.com)