No último mês, pudemos acompanhar os principais desfiles internacionais nas semanas de moda de Nova York, Londres, Milão e Paris, porém, novamente a pergunta se repete: onde estão as pessoas gordas dentre o casting das marcas?
Não é de hoje o surgimento dessa questão. Nos eventos anteriores da São Paulo Fashion Week, celebramos a diversidade e a inclusão, mas o mesmo está longe de acontecer nas apresentações pelo mundo. A falta de representatividade e inclusão nos desfiles internacionais é gritante. A cada edição é possível notar que a moda não está inclusa em todos os corpos como muitas marcas crescem essa bandeira.
Pessoas gordas têm estruturas corporais diferentes e isso precisa ser respeitado na hora de desenvolver as modelagens. “A diversidade de corpos é gigante e a indústria precisa entender isso, pensar de maneira ampla. O mercado plus é extremamente carente de tendências e informação de moda, isso precisa mudar”, pontua Rita Carreira, em entrevista à Vogue.
Grifes como Dior, Balenciaga, Chanel, Fendi, Coach, Tory Burch e outras possuem um casting composto apenas por modelos magras. Parece óbvia a resposta, mas o que falta para ocorrer essa mudança, já que temos um avanço em discussões a respeito do assunto? “As empresas não estão verdadeiramente engajadas com a moda democrática”, analisa Cíntia Felix, estilista à frente da marca brasileira AZ Marias, em entrevista à CAPRICHO. Para Cíntia, é uma falha do designer, por não estar reocupado com outros corpos. “Ele lê como um corpo belo que é esse corpo longilíneo, com curvas pouco acentuadas, que basicamente é um manequim estático. Só que a vida das pessoas não é assim”, declara.
Nos desfiles da Ester Manas, na França, e no da brasileira Karoline Vitto, podemos notar que algumas marcas contemporâneas estão mostrando um cuidado com esse tema. As marcas colocaram mulheres reais na sua estreia na capital da Inglaterra nesta temporada, mas apenas elas pensaram sobre a pluralidade de corpos, dentre tantas outras que estiveram presentes, o que nos faz observar que é um caminho bastante longo a ser percorrido nesse universo. “Uma mudança efetiva só vai acontecer quando a gente tiver mais diversidade no comando das cadeias das direções dos grupos de moda. Pessoas negras, trans, indígenas, gordas. Pessoas que sintam a falta de representatividade na pele e que saibam lidar com isso de uma forma verdadeira e não só pelo marketing”, afirma Flávia Durante, ativista e fundadora da feira de moda plus size Pop Plus, em entrevista à CAPRICHO.
Depois de muita pressão popular ao longo dos anos, ficou mais explícita a valorização de corpos plurais nas últimas edições da SPFW. Marcas como Isaac Silva, Dendezeiro, Meninos Rei, AZ Marias vem trazendo representatividade às suas criações. “O meu papel como criadora é de levar essas mulheres com protagonismo, e que as mulheres que não estão nas passarelas, quando acabe o desfile da AZ Marias, me mandem uma mensagem e falem: ‘Eu vi esse desfile e me vi naquela passarela, eu me senti representada, eu me senti pertencente pela primeira vez a toda essa indústria e esse sistema da moda’. Isso é o meu papel como estilista, para além da questão da sustentabilidade, do impacto social, das costureiras, o impacto social com as minhas modelos e com as mulheres que eu visto”, enfatiza Cíntia.
A pandemia trouxe à tona discussões sobre o excesso de consumo e de atenção à estética, fazendo algumas prioridades mudarem, mas não podemos esquecer que existem extremos: para cada mudança há uma onda de contramudança, mas a diversidade e inclusão são caminhos sem volta.
Flávia Durante deposita esperança nas gerações futuras, pois quem está no comando ainda é uma geração muito antiga, “Na medida em que as pessoas de novas gerações com uma nova mentalidade forem assumindo as cabeças do comando da cadeia da moda, provavelmente isso vai mudar cada vez mais”, declara.
Foto Destaque: Fernanda Liberti:Destaque/Armand.da Silva/Instagram