Marta e Ary Borges desabafam sobre a Copa América Feminina: “Nem na várzea era assim”
Marta e outras jogadoras da seleção brasileira fazem duras reclamações a estrutura da Copa America feminina

O placar elástico contra a Bolívia até poderia resumir a noite da Seleção Brasileira feminina na Copa América. Mas, não foi o 6 a 0 que dominou as manchetes, foram os desabafos. Em um vestiário abafado, com cheiro de tinta fresca e espaço apertado, o futebol feminino sul-americano voltou a escancarar uma de suas maiores feridas: a falta de estrutura.
Depois do apito final, Marta e Ary Borges não esconderam a frustração, e não era só com o calor equatoriano.
“Isso é ridículo”
Marta, a maior referência da história da Seleção, não precisou de muitas palavras para resumir o sentimento do grupo:
“A gente não pode nem aquecer no campo… é muito abafado aqui, tem altitude. Isso afeta a gente. É ridículo”.
Era difícil saber se ela falava como jogadora, como veterana ou como mulher que já viu, e viveu, muito dentro do futebol. Talvez fosse tudo isso ao mesmo tempo.
Ary Borges: “Queria ver o presidente da Conmebol aquecer aqui”
Ary Borges também não economizou. Em tom firme, denunciou o tamanho do espaço reservado para o aquecimento: entre 10 e 15 metros quadrados para todo o time.
“Queria ver se o presidente da Conmebol conseguiria aquecer ali dentro. Nem na várzea era assim”.
A declaração viralizou. Não pela ousadia, mas por dizer em voz alta o que há tempos se sussurra nos bastidores do futebol feminino: ainda falta respeito.
Arthur Elias: “Estamos aqui para cobrar”
O técnico Arthur Elias fez coro ao time. Sem levantar a voz, mas com argumentos fortes, pontuou que essas condições colocam a saúde das jogadoras em risco.
“Uma atleta nossa quase se lesionou antes mesmo do jogo. Isso afeta desempenho, ritmo, tudo”.
Ele foi além: pediu que as federações se posicionem e que a Conmebol reveja o modelo de organização, lembrando que a Copa do Mundo de 2027 será no Brasil, e que o continente precisa estar à altura.
O jogo virou detalhe
O Brasil venceu. Goleou. Convenceu. Mas, quando Marta e Ary Borges falam, é o futebol que escuta. Não são críticas vazias, são alerta de quem está no campo, sentindo na pele a diferença de tratamento entre o futebol masculino e o feminino.
E mesmo após uma noite de vitória, o sentimento que ficou não foi de comemoração, mas de cansaço, não físico, mas de lutar tanto por condições mínimas, em pleno 2025.
Marta pelo último jogo da seleção brasileira (Foto: reprodução/x/@copaamerica_POR)
Não é só futebol
A voz de Marta carrega mais do que palavras. Carrega a experiência de quem dedicou a vida ao esporte. Quando Ary fala, ela representa uma geração que exige o que deveria ser básico: respeito, igualdade e dignidade.
A bola vai continuar rolando na Copa América. Mas, para muitas jogadoras, já não é só sobre vitórias em campo, é sobre garantir que as próximas gerações encontrem um cenário mais justo do que o atual.