Das margens do Rio Negro à televisão brasileira: a trajetória potente de Eric Max
Ator, cantor, diretor e escritor, artista amazonense transforma sua vivência ribeirinha em arte e representatividade

Quem vê Eric Max hoje em cena, com presença marcante e domínio artístico em múltiplas linguagens, talvez não imagine o caminho percorrido até ali. Nascido em Novo Airão, município amazônico às margens do Rio Negro, Eric cresceu em meio à floresta, à oralidade familiar e à força simbólica das narrativas indígenas e ribeirinhas. A base de tudo o que constrói como artista está nesse início. Está na presença da mãe, Sirlene (Dominguinha), na convivência com a avó, a curandeira Mãe Rosa, que embalava o cotidiano com histórias e afetos, e do pai, o professor indígena Edmilson Guimarães, que faleceu em 2017. Além da família, Eric Max é representado por seu grande parceiro, o produtor executivo franco-brasileiro Christian Gonnet, que auxilia na administração da sua carreira em parceria com Adson Colares, produtor de Eric.
Desde muito cedo, Eric entendeu que sua voz não era só sua. Era também a de muitos outros jovens que, como ele, vinham de territórios historicamente invisibilizados. Foi assim que nasceu o desejo de se comunicar através da arte — um caminho que começou a tomar forma ainda na adolescência, quando se mudou para Manaus em busca de oportunidades. Lá, entrou no projeto Jovem Cidadão e começou a estudar no Liceu de Artes, onde descobriu o teatro como canal de expressão.
A formação seguiu com passagem pela Academia Internacional de Cinema, no Rio de Janeiro, onde aprofundou sua atuação diante das câmeras. Mas sua construção nunca foi apenas técnica. A identidade amazônica e indígena sempre esteve no centro de tudo o que criou. Com essa perspectiva, ele fundou o Grupo Florestal de Teatro Indígena Pluriétnico em 2024, inspirado pelo gênero do Teatro Mito Ritualístico de José Ribamar Mitoso, escritor que definiu as bases do teatro indígena brasileiro.
Sua estreia nacional veio em 2019, com a novela Amor de Mãe, da TV Globo. Interpretando um ativista político ao lado de Murilo Benício e Nanda Costa, chamou a atenção do público e da emissora, com quem manteve contrato durante toda a duração da trama. Depois disso, vieram participações em Um Lugar ao Sol e, mais recentemente, uma cena de destaque em Renascer, ao lado de Matheus Nachtergaele e Camila Morgado.
Mas Eric não parou na televisão. Criou sua própria produtora, a Borboleta Azul Filmes, com base no Amazonas, de onde lidera projetos autorais no cinema, na música e na literatura. Dirigiu o curta “Quem é que vai nos proteger agora?!”, com roteiro próprio, filmado na comunidade onde cresceu. O filme está em fase de finalização e tem estreia prevista para 2026, em festivais nacionais e internacionais.
Na música, vem desenvolvendo uma proposta estética única: o pop indie amazônico. A sonoridade mistura elementos da floresta, ancestralidade e um discurso afetivo que fala de resistência sem perder a beleza. Já na literatura, prepara o lançamento do livro Madadá – A misteriosa comunidade ribeirinha de Anavilhanas, que terá edições no Brasil e na França, com versão bilíngue e desdobramento em um projeto de longa-metragem aprovado pela Lei Paulo Gustavo.
O ator Eric Max durante as gravações do Domingo Especial 60 anos TV Globo (Foto: reprodução/arquivo pessoal)
Eric Max construiu sua trajetória ocupando espaços que, por muito tempo, pareciam inalcançáveis para artistas vindos da floresta. Não se trata apenas de alcançar projeção nacional, mas de fazê-lo a partir das próprias raízes, com a força simbólica de quem carrega a Amazônia na voz, no corpo e nas histórias que escolhe contar.
Sua presença na televisão, no cinema, na música e na literatura amplia não só sua própria visibilidade, mas também abre caminhos reais para outros jovens amazônidas, indígenas e LGBTQIAPN+ que reconhecem nele uma possibilidade concreta de existência e expressão na arte brasileira.
Você pode acompanhar mais sobre a trajetória e os próximos lançamentos de Eric Max no Instagram oficial e no site da Borboleta Azul Filmes.