Com o marco de ser a maior estreia dos EUA neste ano e de atrair multidões vestidas de rosa ao cinema, o longa-metragem "Barbie" se mostrou uma grande empreitada da Mattel desde o próprio lançamento da boneca, em 1959.
Ao lado da Warner Bross, a empresa criadora de Barbie caminha para arrecadar mais de US$ 1 bilhão de bilheteria. Entretanto, o caminho até este sucesso não foi fácil. Com uma jornada longa, semelhante à de Barbie no filme, o longa vem sendo idealizado desde 2009 – enfrentando mudanças de roteiro, direção e, até mesmo, de protagonismo.
Universal inicia a jornada de Barbie
Foram necessários 50 anos desde o lançamento da boneca para que a Mattel reconhecesse o potencial de um live-action. De acordo com Richard Dickson, diretor de operações da companhia, a mudança de pensamento teria ocorrido a partir da transformação na imagem do próprio brinquedo. Para ele, Barbie teria passado “e um brinquedo para uma propriedade intelectual". Isto porque, eles já haviam explorado outros caminhos além da venda de brinquedos – como desfiles de moda – e, com a explosão da internet e mídias sociais, Barbie já se instaurava no imaginário social de outra forma – adquirido até seu canal no YouTube.
Muitos estúdios desejavam se unir a empreitada de eminente sucesso da Mattel, mas somente um foi campeão: a Universal. Então, em 2009, sob a produção de Laurence Mark – responsável por "Dreamgirls - Em Busca de um Sonho" e "Glitter - O Brilho de uma Estrela" -, o estúdio passou a planejar sua ideia de lançar não somente um, mas vários live-actions da boneca.
“Barbie pode ser a garota mais popular do mundo e sempre foi uma figura maravilhosamente ambiciosa, então devemos deixá-la orgulhosa”, disse Mark à Variety.
O projeto, no entanto, esteve paralisado sob as mãos da Universal de 2009 a 2013, sem qualquer motivo enunciado. Até que a Mattel lançou a Mattel Films e, no ano seguinte, a Universal perdeu os direitos de Barbie.
Em uma nova casa e com roteirista
Em 2014, Barbie se despediu oficialmente da antiga casa, a Universal, quando a Mattel Films fechou acordou com a Sony Pictures. O estúdio, já famoso por "The Lego Movie", designou o trabalho para a executiva Amy Pascal – personalidade por trás do famoso Homem-Aranha -, além de destinar o roteiro à Jenny Bicks – roteirista de "Sex And The City" e co-roteirista de "Rio 2" – e a produção à Laurie MacDonald e Walter Parkes, os produtores de "MIB - Homens de Preto".
Amy Pascal havia planejado o começo das filmagens para 2014 e o lançamento para 2017, mas seus planos não chegaram a sair do papel e Barbie foi estagnado novamente.
Diablo Cody e a esperança de um roteiro
Com o primeiro rascunho de Jenny Bicks sendo desaprovado, a Sony Pictures chamou a roteirista de Garota Infernal, Diablo Cody, para dar uma ajudada.
Diablo Cody (Foto: reprodução/Alex Berliner/BEI/Rex Features)
“Estamos buscando um tom legitimamente contemporâneo. Nós a estamos trazendo porque ela teve ótimas ideias, mas ainda mais importante, ela realmente ama a Barbie”, afirmou Walter Parkes ao Dedline.
Apesar das expectativas sobre Cody, algo entre ela e o projeto de Barbie a impediu de entregar um roteiro: em 2018, para ScreenCrush, Diablo disse que, além de estar envolvida em outros projetos, teria sido “incapaz” de escrever um roteiro para o filme, apesar de ter tentado muito.
“Por alguma razão, sempre tive problemas, nunca fui boa em adaptações. Eu acho que quando se trata disso, eu sou praticamente uma pessoa de roteiro original”, concluiu Cody.
Como o roteiro de Barbie não parecia evoluir sob o comando de Jenny Bicks e Diablo Cody, a Sony Pictures decidiu contratar os roteiristas Bert Royal ("A Mentira"), Hilary Winston ("Community") e Lindsey Beer ("Sierra Burgess É Uma Loser") anos mais tarde. O estúdio arquitetou um plano de que quem finalizasse primeiro a história, ganharia o trabalho. Tal mérito foi destinado a iniciante Beer.
Finalmente, uma protagonista
Com as preocupações de dar uma história digna a boneca, a seleção do elenco esteve em segundo plano. Até que, em 2015, após sua vitória no Emmy, Amy Schumer foi escalada não somente para trazer Barbie a vida, mas também para auxiliar no roteiro de Beer com a ajuda de sua irmã, a roteirista Kim Caramele.
Amy Schumer (Foto: reproduçõa/Angela Weiss/AFP/Getty Images)
O time dos sonhos da Mattel enfim compunha roteirista, produção e elenco, mas as filmagens continuavam paradas e foram adiadas novamente quando, em 2017, a protagonista Amy deixou o projeto com a prerrogativa de estar muito atarefada.
Já em junho deste ano, durante uma entrevista ao "Watch What Happens Live", Schumer admitiu que não teria gostado do roteiro: "Na época, dissemos que a saída se devia a problemas de agenda, mas, na verdade, era por diferenças criativas", afirmou. A atriz ainda complementou dizendo que, sob a nova equipe, o filme parecia “muito legal e feminista”.
Barbie ganha um novo rosto
Nesta altura do campeonato, a promessa de entregar Barbie em 2017 já estava mais do que quebrada e, sem Schumer no papel, a dificuldade de encontrar uma protagonista voltou a atormentar a Sony.
Em junho de 2017, rumores apontavam que Anne Hathaway não somente poderia interpretar a boneca, como trazer consigo Alethea Jones para a direção e Olivia Milch para escrever um novo roteiro.
Anne Hathaway (Foto: reprodução/FilmMagic/Getty Images)
Entretanto, mesmo adiando o lançamento para 2020, o longa não saia sequer da fase de pré-produção. Em 2018, os direitos de Barbie expiraram e a Mattel Films decidiu retirar a boneca da casa Sony Pictures.
Margot Robbie
Após percorrer dois grandes estúdios, em 2019, o longa de Barbie estava finalmente sob as mãos da Warner Bros. A produção, contudo, agora seria repaginada. Depois de tantas mudanças, o estúdio decidiu que não nada seria reciclado – como feito anteriormente pela Universal e Sony. A Barbie agora teria desde um novo rosto, a nova direção e roteiro.
Conhecida por "Eu, Tonya" – filme pelo qual foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz -, Margot Robbie foi escalada diretamente pelo novo CEO da Mattel, Ynon Kreiz.
Margot Robbie. (Foto: Reprodução/Hanna Lassen/Getty Images).
Já a direção e roteiro ficaram a cargo de Greta Gerwig ("Adoráveis Mulheres"), com a condição de que Noah Baumbach fosse encarregado de ajudá-la na elaboração da história. Por fim, a produção de Barbie pode sair do papel e se tornar não somente a melhor bilheteria de estreia de 2023 nos EUA, como a melhor bilheteria de estreia dos protagonistas Margot Robbie e Ryan Gosling.
Foto destaque: Margot Robbie. Reprodução/ Warner Bros.