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[Crítica] “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” mostra a desumanização de Snow com espetáculo de Tom Blyth

O prelúdio da saga "Jogos Vorazes" estreia amanhã (15) nos cinemas de todo o Brasil e é marcado pelas atuações brilhantes de Tom Blyth, Viola Davis e Rachel Zegler; confira nossa crítica

14 Nov 2023 - 22h30 | Atualizado em 14 Nov 2023 - 22h30
[Crítica] “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” mostra a desumanização de Snow com espetáculo de Tom Blyth  Lorena Bueri

“São as coisas que mais amamos que nos destroem” -Coriolanus Snow

O prelúdio da saga “Jogos Vorazes”, “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” chega aos cinemas brasileiros neste feriado, dia 15. O longa, baseado no quarto livro da franquia, de Suzanne Collins, acompanha a juventude de Coriolanus Snow, no ano da décima edição dos Jogos Vorazes, 64 anos antes de Katniss Everdeen, protagonista da trilogia, se voluntariar como tributo. Apesar de inúmeros pontos positivos, o filme de Francis Lawrence tem seu maior triunfo por meio dos shows de atuação do elenco, com ênfase em Tom Blyth, Viola Davis e Rachel Zegler. 


Assista ao trailer de "Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes" (Reprodução/YouTube/Fãs de Cinema)


A trama de “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” 

A trama da prequela gira em volta do jovem Coriolanus Snow, aos 18 anos, antes de se tornar o tirano presidente Snow. De uma família falida que perdeu o patriarca, o general militar Crassus Snow, em um ataque no Distrito 12, e que outrora fora uma das mais prestigiadas de Panem, Coryo era um dos alunos mais esforçados da Academia, onde lidava com a elite da Capital e precisava manter as aparências, apesar de mal ter comida em casa ou roupas para se vestir.

Ele lutava, através da dedicação aos estudos, para vencer o Prêmio Plinth, que o garantiria não só a matrícula na Universidade, mas também a verba para tirar sua família da miséria. Porém, Casca Highbottom (Peter Dinklage), um dos idealizadores dos Jogos, muda as regras e torna os alunos mentores dos tributos dos 12 distritos. Aquele que mantivesse o tributo vivo na Arena dos décimos Jogos Vorazes, seria o vencedor do Plinth. 

Com a distribuição dos tributos, Snow foi designado para ser o mentor de Lucy Gray, do Distrito 12. Além do dever de orientar seu tributo de forma a mantê-lo vivo nos Jogos, os mentores ficaram encubídos de tornarem a edição mais relevante e interessante ao público, já que a audiência estava se cansando do formato da atração, fazendo com que os tributos se tornassem um espetáculo atrativo.


Rachel Zegler e Tom Blyth como Lucy Gray e Coriolanus Snow (Foto: reprodução/X/@TheHungerGames)


O prelúdio é dividido em três atos que mostram o pré, durante e após os Jogos Vorazes, traçando um entrelaço com a relação de Snow com Lucy Gray. Com isso, acompanhamos o processo de endurecimento e desumanização de Coriolanus, e compreendemos os motivos que transformaram o jovem extremamente inteligente, astuto e ambicioso em um tirano com sede de sangue, permeado pela pergunta insistente de Doutora Volumnia Gaul (Viola Davis): “qual é o objetivo dos Jogos Vorazes?”

Espetáculo de Tom Blyth: "Snow lands on top"

A atuação do inglês Tom Blyth, de 28 anos, dá a certeza de que sua escalação foi um dos maiores acertos do filme. O ator foi capaz de trilhar a narrativa de um personagem totalmente complexo e dualista, que te envolve e te manipula de uma forma tão sutil e comedida, que é quase imperceptível. É como se o espectador fizesse parte daquele universo, de tão imersiva que é a performance do protagonista.


Tom Blyth como Coriolanus Snow (Foto: reprodução/X/@vhscut)


É incrível a capacidade de Tom de esconder e revelar, principalmente através de sua linguagem corporal e expressões faciais, que mudam gradativamente, se tornando cada vez mais duras e amedrontadoras, a escuridão que sempre esteve presente na personalidade de Snow. É um processo quase palpável analisar o jovem sendo tomado pela falta de empatia e egocentrismo, que davam sinais desde de o primeiro ato do filme. Mostrando de forma cada vez mais clara que todos eram peças no tabuleiro de Coryo. 

E todo esse processo mudo, só foi tão impactante pela brilhante performance de Blyth e a forma com que diretor e ator guiaram este barco. Tom encara com responsabilidade e poder absoluto o protagonismo do longa, mantendo o nível de excelência de Donald Sutherland, mas com o frescor do desconhecido.

Destaque de Viola Davis e Rachel Zegler

Mas um bom filme não se faz apenas com um protagonista forte, e “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” é marcado por outras duas performances notáveis: de Viola Davis como Dra. Volumnia Gaul e Rachel Zegler como Lucy Gray. 

Dizer que Viola tem uma atuação impecável é redundância, mas no prelúdio ela assume uma presença pra lá de sombria, amedrontadora e divertidamente macabra, exercendo um domínio completo em todas as cenas em que aparece. A atriz EGOT fez mágica com o tempo de tela reduzido e se transformou em um dos personagens mais marcantes do longa. 


Viola Davis como Doutora Volumnia Gaul (Foto: reprodução/Entertainment Weekly)


Nas cenas que divide com Snow, Gaul, Tom e Viola transformam-se em imãs que prendem a atenção e hipnotizam o público, alternando entre pássaro e serpente com naturalidade. São dois personagens que se complementam na trama. 

Já Rachel Zegler entrega toda a sonoridade, leveza e força que Lucy Gray representa na trama. Além de uma voz divina que deu todo um toque pras canções, que são parte importante do filme, como a clássica “The Hanging Tree”, ela avisa ao público que ainda a veremos muito nas telonas ao viver o melhor papel de sua carreira. 

Rachel apresenta uma atuação madura, consistente e sem alterações, mantendo o ritmo e frequência durante todo o filme. Lucy é o ponto de amor, luz e empatia de “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”, sendo o contraponto perfeito a Snow. O mais perfeito equilíbrio entre coração e razão, liberdade e poder. 


Rachel Zegler como Lucy Gray (Foto: reprodução/X/@SacTributos)


Conclusão sobre “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” 

O prelúdio de uma das distopias mais amadas do mundo mantém a maestria da saga e é um fanservice muito bem desenvolvido, entregando aos fãs um longa repleto de referências à trilogia, capazes de imergi-los ainda mais no universo fantástico de Suzanne Collins. Além disso, é um ótimo trabalho musical e de fotografia. Mas apesar de tudo isso e um roteiro fluido e explicativo, que o coloca no mesmo nível de “Em Chamas” no ranking dos melhores capítulos dos “Jogos Vorazes”, seu maior triunfo é as atuações brilhantes e consistentes desde o protagonista até o elenco de apoio, com uma menção honrosa também à Hunter Schafer (Tigris Snow), Peter Dinklage (Casca Highbottom) e Josh Rivera (Sejanus Plinth). 

Nota: ★★★★★

 

Foto destaque: Tom Blyth como Coriolanus Snow (Reprodução/X/@parisfilmes)

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