Ícone da música com sucesso internacional e denominada rainha do rock brasileiro, Rita Lee, que morreu nesta segunda-feira (8/5) aos 75 anos, abriu o jogo e falou sobre sexo, drogas, música e detalhou a violência sexual da qual foi vítima, aos seis anos de idade, dentro de sua casa.
O livro “Rita Lee – Uma Autobiografia” foi lançado pela editora Globo Livros em 2016 e trouxe ao público as memórias da artista rebelde, bem humorada e culta. Rita não se escondeu ao abordar um dos assuntos mais delicados de sua história, um estupro cometido por um técnico que foi até a casa da família consertar a máquina de costura de sua mãe. A violência aconteceu enquanto a mãe atendia um telefonema e, ao voltar para o local onde o homem deveria estar fazendo o serviço e Rita brincando no chão, ela encontrou a filha sangrando com uma chave de fenda em sua parte íntima.
Livro autobiográfico sobre Rita Lee (Reprodução/Mercado Livre)
Segundo a cantora, ela enterrou o episódio que nunca chegou ao conhecimento de seu pai, ficando apenas entre Chesa (sua mãe), Balú (sua madrinha) e Carú (a irmã adotiva). A partir de então, o comportamento travesso de Rita era justificado por elas como consequência do que ela havia passado.
Amante da liberdade, ela fugia de qualquer tipo de repressão e tinha gosto por viver a vida e aproveitar tudo o que ela tinha pra oferecer, desde viagens tradicionais por pontes aéreas àquelas mais alucinantes provocadas pelo consumo de drogas. Em seus depoimentos, Rita Lee não se mostra arrependida por ter sido uma usuária assídua de algumas substâncias, mesmo quando trouxeram problemas para a carreira. Durante uma turnê em Paris, a roqueira ficou fascinada pelas alucinações provocadas por LSD e resolveu voltar ao Brasil trazendo a droga no pescoço, como um colar de miçangas, passando livremente pela alfândega.
Após o nascimento da neta, em 2005, veio a decisão de largar as drogas e com descoberta no câncer, a rainha do rock resolveu levar um estilo de vida mais leve sem negar o seu passado: "Sei que ainda há quem me veja malucona, doidona, porra-louca, maconheira, droguística, alcoólatra e lisérgica, entre outras virtudes. Confesso que vivi essas e outras tantas, mas não faço a ex-vedete-neo-religiosa, apenas encontrei um barato ainda maior: a mutante virou meditante.”
Rita Lee adotou um estilo de vida mais saudável com vida no campo e meditação (Reprodução/Instagram @ritalee_oficial)
Dentre os muitos assuntos presente na obra, está o aborto feito pela artista ao descobrir uma gravidez extrauterina pouco tempo após ter feito uma cesariana que ainda estava em processo de cicatrização. A escolha por interromper a gravidez foi feita depois dela ter uma hemorragia e, mesmo já desapegada a religião, ela se sentiu num estado de “mea-culpa”.
“Até hoje me chicoteio pensando que talvez aquele baby poderia ter vingado, que foi um ato precipitado, que daquele momento em diante eu estaria condenada a lamentar a decisão para o resto da vida (...) Nenhuma mulher faz aborto sorrindo”, disse ela concluindo que essa é uma decisão que cabe somente a mulher.
Não tem como falar de Rita Lee sem citar a vida romântica e sexual cheia de aventuras e músicas ao lado do marido e parceiro Roberto de Carvalho. “Amor à primeira tecla”, foi como Rita definiu o encontro com o multinstrumentalista apresentado por Ney Matogrosso. Jovens e cheios de amor pra compartilhar, o casal gostava de se aventurar com sexo em lugares que fogem do tradicional, bem ao estilo de Rita.
"O casal de coelhos R & R continuava firme e forte. A graça era transar em locais inusitados, de banheiros de avião a praias desertas, de banheiras de espuma a escadas de incêndio, de elevadores de serviço a camarins de shows”, revelou ela.
Da relação entre os dois nasceram Beto, Antônio e João, e os frutos dessa parceria também foram estendidos a vida musical ao emplacarem grandes sucessos, como Baila Comigo, Cor de Rosa Choque e Lança Perfume.
Rita Lee e seu marido e parceiro musical , Roberto de Carvalho, deram certo no amor e no trabalho emplacando vários hits (Reprodução/Instagram @ritalee_oficial)
O livro está disponível em várias livrarias físicas e online do país e retrata o jeito sarcástico, autêntico e autodepreciativo da artista que não gostava de ouvir os próprios discos.
Foto Destaque: Cantora Rita Lee como destaque na playlist 'Radar Eletrônico' da Deezer Br - Reprodução: Instagram @ritalee_oficial