Fernanda Montenegro fez história ao ser indicada na categoria de “Melhor Atriz” no Oscar de 1999, há 25 anos, pelo seu papel como Dora em “Central do Brasil”. O filme de Walter Salles também concorreu “Como Melhor Filme Estrangeiro”, como se chamava a categoria na época, mas os holofotes mesmo ficaram por conta da atriz, a primeira atriz latino-americana a concorrer a estatueta.
Apesar de sair de mãos abanando da cerimônia da premiação mais importante do cinema, para a indignação de muitos fãs e brasileiros, a atriz se recorda sem tristeza desse momento. Fernanda relembrou os bastidores da edição do Oscar em que participou em entrevista ao Splash, do Uol, e até revelou o apoio que recebeu de um grande ator de Hollywood.
Fernanda Montenegro fala sobre sua indicação ao Oscar
A atriz brasileira Fernanda Montenegro foi a primeira, e única até o momento, a ser nomeada a categoria principal do Oscar por um longa de língua portuguesa. Na ocasião ela concorreu com Cate Blanchett por “Elizabeth”, Meryl Streep por “Um amor verdadeiro”, Emily Watson por “Hilary e Jackie” e Gwyneth Paltrow por “Shakespeare apaixonado”, sendo essa última quem acabou levando a estatueta.
Durante a entrevista para o Uol, a atriz relembrou esse momento da sua carreira. Fernanda afirmou que sua nomeação foi uma ocasião muito marcante. “Foi e ainda é uma experiência bonita e importante. A concorrência, no que diz respeito a mim, como atriz latino-americana, era jupiteriana”, declarou ela sem nenhum ressentimento.
Veja o momento do anúncio do prêmio de "Melhor Atriz" (Video: reprodução/Youtube/Oscars)
A atriz ainda revelou que durante a premiação recebeu o apoio de um ator, Ian McKellen, que também concorria ao Oscar naquele ano pela sua atuação em “Deuses e Monstros”. Sobre a torcida ela comentou: “O grande e celebrado ator inglês Ian McKellen, concorrendo ao Oscar nessa mesma premiação, chegou até mim e, sério, falou — 'espero, sinceramente, que você ganhe o Oscar'. Respondi — 'eu espero, também, que você ganhe'. Nós dois perdemos. Se esse referencial artístico, inglês, não levou, imagine!”
Mas ainda sim, Fernanda guarda boas recordações da cerimônia em que participou. “Foi uma festa imensa, descomunal”. O seu parceiro de cena no filme “Central do Brasil”, Vinícius de Oliveira, também se recorda da premiação. Na ocasião ele tinha apenas 12 anos, ele comenta que na época não compreendia a dimensão do prêmio, sua maior alegria foi poder viajar até Los Angeles para participar da cerimônia e poder conhecer os artistas que admirava.
Sobre o resultado, Vinícius lamenta a derrota de Fernanda. “Nunca perdoei o fato da Fernanda não ter ganhado o Oscar. Isso para mim é mais dolorido do que o filme em si, porque tínhamos grandes concorrentes, o próprio a 'Vida é Bela'. Ele fala de holocausto, assunto importante e tem destaque no Oscar”, disse ele. “Já a Fernanda Montenegro? É duro perder para uma atriz fraca em um papel fraco. O papel da Fernanda no 'Central do Brasil' é algo extraordinário”, pontuou o ator.
Sobre o filme “Central do Brasil”
Os atores, além de comentarem sobre a cerimônia do Oscar, disseram também sobre a obra e como ela ainda continua impactando os telespectadores. O filme acompanha Dora, personagem de Fernanda Montenegro, uma mulher que trabalha escrevendo cartas para pessoas que não sabem ler e escrever na Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro. Até que um dia ela decide ajudar um menino, vivido por Vinicius de Oliveira, a encontrar seu pai desconhecido após a sua mãe ter sido atropelada.
Fernanda Montenegro e Vinícius de Oliveira em cena no filme "Central do Brasil" (1998), de Walter Salles (Foto: reprodução/Globo)
Montenegro recorda que se emocionou ao ler o roteiro pela primeira vez e que aceitou com muito gosto participar da produção. A atriz já admirava o diretor e almejava trabalhar junto, mas que outros projetos anteriores acabaram não acontecendo. Fernanda ainda enaltece o companheiro, Vinicius, e diz que o menino foi essencial para que o longa acontecesse. Para ela, o filme segue presente na memória dos brasileiros por conta da temática que segue viva.
“É uma temática mostrando que mesmo diante do abandono social, o ser humano sobrevive pela coragem e fé na própria vida. É uma saga de resistência. Walter Salles é um cineasta comovedoramente sensibilizador”, disse ela.
Vínicius concorda com a atriz e acrescenta que mesmo anos depois ele ainda se encontra com pessoas que ressaltam que o filme mudou a vida delas, muitas pessoas do próprio meio começaram a trabalhar com o cinema a partir desse filme. Ele se sente muito orgulhoso de fazer parte de algo tão grande quanto se tornou esta produção.
Foto destaque: Fernanda Montenegro comenta bastidores de cerimônia que participou em 1999 (Reprodução/Leo Martins/Caras)
