Antes de viver sua sexta e última Copa do Mundo, Marta colaborou novamente com o site The Players’ Tribune, que reúne histórias contadas em primeira pessoa por atletas do mundo todo. A jogadora da Seleção Brasileira escreveu um tipo de “carta de despedida”, relembrando momentos de sua infância, falando sobre a trajetória no futebol e projetando sonhos para o futuro.
Homenagem à mãe
Logo no início do texto, Marta reúne memórias da infância vivida em Alagoas e destaca a ausência feminina em campo na época, assim como as dificuldades que precisou superar para garantir seu espaço no esporte.
“Lá no sertão de Alagoas, onde eu cresci, todas as manhãs eu acordava cedo e radiante para jogar futebol. Era tudo o que eu queria fazer”, começa a atleta.
E completa com mais experiências pessoais: “De repente, olhava em volta e...via um mar de meninos. Todo dia. Nada de meninas. Apenas meninos. E eu. Tentando trilhar o meu caminho. Nenhuma outra garota da minha cidade teve essa audácia. Elas jamais se atreveram naquele espaço. Provavelmente não queriam ser xingadas ou as últimas a serem escolhidas. Mas eu? O que posso dizer: eu amava demais o futebol e não estava disposta a desistir”.
A futebolista também rasga elogios à postura da mãe, Tereza, que sempre a apoiou na carreira esportiva. “Quando eu chegava em casa depois dos jogos, era minha mãe quem me dava força. [...] Minha mãe me permitiu fazer o que eu amava. Não importa o que os outros dissessem. Ela é o motivo de eu ser quem eu sou. E ao entrar em campo em mais uma Copa do Mundo, eu estarei pensando nela”, afirma.
Marta e sua mãe, Tereza (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal/The Players’ Tribune)
Orgulho e inspiração para jovens brasileiras
A jogadora da Seleção Brasileira fez questão de não esconder a felicidade que sente por, em suas palavras, hoje, as meninas terem suas próprias heroínas. “Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas acho que talvez as pessoas não percebam totalmente o quanto a gente progrediu. Esses dias eu tava me lembrando: quando era pequena, não tinha uma jogadora de futebol famosa que eu pudesse admirar e querer me tornar que nem ela um dia”, relembra.
E continua, enfática: “Sinto um orgulho imenso ao imaginar que talvez existam meninas por aí me assistindo e que eu possa inspirá-las a alcançar seus sonhos. Isso significa muito para mim. Vale mais do que qualquer título, medalha ou troféu que ganhei”.
Marta em jogo de estreia do Brasil na Copa do Mundo Feminina de 2023 (Foto: Reprodução/CBF/Thaís Magalhães)
Aposentadoria dos campos e planos para o futuro
Prestes a deixar de jogar nos gramados, aos 37 anos, Marta diz querer ver os frutos dos progressos citados diaria e mundialmente. Apesar disso, a artilheira compartilha um sonho, ou “visão” (segundo ela), que tem com frequência:
“Sou eu bem velhinha chegando num parque enorme com vários campos de futebol. Meninas e meninos estão jogando bola por todos os cantos que você olha. E eu estou com uma daquelas cadeiras de praia baratas, uma bebida na mão. [...] Encontro um bom lugar na beira do campo, abro minha cadeira e me jogo que nem os americanos costumam fazer. Tomo um gole da minha bebida e então... só aprecio aquelas crianças jogando o jogo que elas adoram. O jogo que todos nós amamos”, comenta.
Falando sobre o campeonato global que disputa, na Austrália, no momento, a melhor jogadora do mundo encerra o texto em tom de desabafo. “Falando em futuro... Posso ser sincera de novo? Estou tão cansada de falar sobre isso! Não quero mais que me perguntem sobre a Marta. Esta Copa não é sobre mim. Não é só a Marta. Nunca foi só a Marta. E nunca será só a Marta. É sobre todas nós. É sobre o BRASIL. Assim como deve ser”, finaliza.
Marta em campo (Foto: Reprodução/Getty Images/CNN Brasil)
O texto especial está disponível na íntegra na coluna de Marta, no site The Players' Tribune.
Nesta segunda-feira (24), Marta entrou em campo no segundo tempo do jogo de estreia do Brasil, contra o Panamá, na Copa do Mundo Feminina de 2023. A Seleção do canarinho venceu a partida por 4 a 0.
Recentemente, a atleta também lançou uma nova linha de sportwear, em parceria com a Centauro, com foco em equidade de gênero. Todos os royalties de venda obtidos pela Go Equal serão doados para projetos que incentivam trabalhos de mulheres.
Foto destaque: Marta escreve “carta de despedida” recheada de memórias e afirma: “Essa Copa não é sobre mim”. Reprodução/The Players’ Tribune.
