Após quase quarenta anos de carreira, Keanu Reeves se consagrou como um dos rostos mais importantes da história do cinema. Nascido no Líbano e naturalizado canadense, o ator é conhecido por sua personalidade reservada, porém marcante em produções como John Wick e Matrix. Falando em Matrix, o dilema futurista entre real e irreal parece estar cada vez mais presente na vida do artista, mesmo com o passar dos anos, ou talvez por isso mesmo.
Em entrevista ao Wired esta semana, Keanu Reeves afirmou estar assustado com a evolução da inteligência artificial, e comentou sobre os efeitos dessa tecnologia em Hollywood. O ator também revelou ter acrescentado uma cláusula em seus contratos, para evitar a reprodução de edições digitais. "Não me importo se alguém piscar durante uma edição, mas logo no início dos anos 2000, ou talvez no final dos anos 1990, tive uma performance alterada. Eles colocaram uma lágrima no meu rosto e eu fiquei tipo: 'Huh?!' Foi tipo, eu nem precisava estar lá", compartilhou o astro.
Desde então, a cláusula exigida por Keanu impede qualquer manipulação não autorizada de suas performances.
Carrie-Anne Moss e Keanu Reeves em Matrix, 1999 (Foto: Reprodução/Portal Alta Definição)
Segundo ele, o que mais lhe incomoda são os "deepfakes", uma técnica de sintetizar imagens e sons baseados em algoritmos de inteligência artificial, muito usada no Tiktok e na cena audiovisual.
"O que é frustrante nisso é que você perde sua capacidade de tomar decisões. Quando você atua em um filme, pode saber que vai ser editado, mas você está participando disso. Mas se você entrar na terra do deepfake, não terá nenhum dos seus pontos de vista. Isso é assustador. Vai ser interessante ver como os humanos lidam com essas tecnologias. Eles estão tendo impactos culturais e sociológicos, e a espécie está sendo estudada. Há tantos 'dados' sobre comportamentos agora. As tecnologias estão encontrando um lugar em todas as esferas da sociedade", refletiu o ator. Considerando isso, o dilema de Matrix se torna cada vez mais presente.
O eterno Neo revelou que recentemente conversou com um fã da saga, e ao tentar explicar que seu personagem lutava pelo que é real, foi questionado com "Quem se importa se é real?". A interação com o jovem de apenas 15 anos "alugou um apartamento" na cabeça do ator, fazendo-o questionar os limites da realidade.
Bastidores de Matrix, 1999 (Foto: Reprodução/Esquire)
"As pessoas estão crescendo com essas ferramentas. Já estamos ouvindo música feita por inteligência artificial no estilo do Nirvana, há arte digital, NFT... É legal, tipo, veja o que as máquinas fofas podem fazer! Culturalmente, socialmente, seremos confrontados pelo valor do real, ou pelo não valor. E então o que vai ser empurrado para nós? O que vai ser apresentado a nós?", continuou o ator.
Ao final da conversa, Keanu concluiu que a tecnologia está manipulando as narrativas, de forma muitas vezes prejudicial. Talvez seja cedo para considerar os efeitos definitivos dessa nova forma de fazer cinema. Mas o fato é que as mídias precisam se atualizar para não ficar pra trás nessa corrida de novidades, onde muitas produções já estão sendo divididas entre gravações reais e digitais.
Foto destaque: Keanu Reeves. Reprodução/Barcelos na Net